A importância da análise prospectiva no Exército Brasileiro

Autor: Cel Oscar Medeiros Filho

Terça, 17 Setembro 2019
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Vivemos tempos de mudanças rápidas e constantes, em um ambiente permeado por características como volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. Este contexto exige das organizações uma preocupação constante com o futuro. No caso das organizações militares, observam-se nas últimas décadas mudanças substanciais relativas ao emprego da força, cujo espectro de atuação tem se tornado cada vez mais amplo e complexo, e que inclui desde aspectos ligados a ilícitos transnacionais até o retorno dos tradicionais contenciosos geopolíticos no tabuleiro internacional.

O desenvolvimento de tecnologias da informação tende a acelerar ainda mais as dinâmicas globais de toda ordem, contribuindo para uma sensação coletiva de que o mundo se torna, a cada dia, mais líquido (e porque não dizer cada dia mais gasoso!). Há uma sensação de que “nada mais para em pé”. Diante desse cenário, como planejar o futuro? Como estabelecer grandes projetos pensados para as décadas futuras se o futuro parece cada vez mais incerto? Nesse sentido, os estudos prospectivos tornam-se cada vez mais relevantes como ferramenta de planejamento estratégico.

O objetivo da elaboração de cenários prospectivos é estudar as diversas possibilidades de futuro, buscando reduzir as incertezas e mitigar as “surpresas estratégicas”. Não se trata, como alguns possam imaginar, de um exercício de previsão do futuro, tentando “acertar” o que deve ocorrer. Ora, o futuro, como dado da realidade, não existe. Ele ainda será construído. A tomada de decisão com base em um estudo sistemático que possa diagnosticar o presente e monitorar as tendências do futuro já é uma tarefa árdua para qualquer decisor, imagina tomar essa decisão “no escuro”, com base em suas percepções particulares. A elaboração de cenários não visa a “acertar” o futuro, mas em dirimir riscos. Um cenário não se pretende ser uma fotografia precisa do futuro, mas um conjunto de opções plausíveis de virem a acontecer. Nesse sentido, imaginar o futuro nunca é exato, mas é sempre necessário.

O Exército Brasileiro possui longa tradição no campo do pensamento prospectivo aplicado ao planejamento estratégico. Nomes brilhantes, como Mário Travassos, Golbery do Couto e Silva e Carlos de Meira Mattos, são exemplos de militares do Exército que dedicaram suas vidas na busca da elaboração de estudos preditivos e prescritivos. Como exemplo desse pendor – quase que natural dos militares – para os estudos prospectivos, pode-se citar o artigo “Os Exércitos do Futuro”, publicado, em 1929, na Revista Cruzeiro, pelo então Capitão Mário Travassos. Vivendo o contexto do entreguerras e da importância da motomecanização, Travassos previa que “a guerra do futuro vai ser uma guerra de motores”. De fato, ao longo de sua história, o Exército tem sido pioneiro em vários campos ligados à educação, ao desenvolvimento tecnológico e ao planejamento estratégico.

A criação do Centro de Estudos Estratégicos do Exército (CEEEx), em 2003, constituiu um grande passo para o desenvolvimento da mentalidade prospectiva e de planejamento estratégico no Exército Brasileiro. O primeiro grande esforço de sistematização de um cenário prospectivo pelo CEEEx ocorreu ao longo de 2005, com o desenvolvimento do projeto “Cenários Prospectivos para o EB em 2022”. Em anos seguintes, foram desenvolvidos os “Cenários Prospectivos EB 2030” e “EB 2035”. 

Para o desenvolvimento de seus estudos prospectivos, o CEEEx dispõe de uma interessante rede de intercâmbio de informações e ideias que inclui: universidades públicas e privadas, institutos de pesquisa nacionais e internacionais, centros congêneres, núcleos de estudos estratégicos dos Comandos Militares de Área, dentre outros.

Além disso, devem ser destacadas duas iniciativas relativamente recentes: o Núcleo de Estudos Prospectivos (NEP) e o Grupo de Estudos e Planejamento Estratégico do Exército (GEPEEx). O NEP foi criado em 2012 e tem por objetivo desenvolver pesquisas de natureza acadêmica para subsidiar a elaboração de cenários prospectivos e a tomada de decisão no nível de direção-geral do Exército. Atualmente, o NEP é coordenado por um oficial superior e dispõe de cinco pesquisadores, contratados anualmente, para desenvolver pesquisas em duas grandes linhas de investigação: a) definição de ameaças, que inclui as áreas de Geopolítica e Conflitos Armados; e b) capacidades militares, que atualmente inclui as áreas de História Militar e Gestão de Defesa. O GEPEEx, criado em 2013, é composto por oficiais superiores representantes dos órgãos de direção-geral, setorial e operacional, além dos Órgãos de Assistência Direta e Imediata ao Comandante do Exército (OADI) e dos Comandos Militares de Área. A principal função do GEPEEx é emitir pareceres sobre assuntos político-estratégicos, na área de atuação desses órgãos, além da atualização e do monitoramento dos cenários prospectivos.

Desta forma, cabe ao CEEEx a missão de conduzir estudos prospectivos que subsidiem o Sistema de Planejamento Estratégico do Exército (SIPLEx). Com o passar dos anos, esses estudos têm se mostrado cada vez mais complexos, mas, por outro lado, cada vez mais relevantes. Como sugerido antes, imaginar o futuro nunca será exato, mas será sempre necessário!

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