O Exército Brasileiro é uma instituição secular, cujos pilares são a hierarquia e a disciplina, alicerçados por valores e tradições militares. A Força tem, em seus recursos humanos, o seu bem mais precioso, pois deverá estar sempre motivado e capacitado para o cumprimento de suas missões constitucionais.
Atualmente, os recursos humanos do Exército são representados por quatro gerações distintas que estão presentes na sociedade fruto do aumento da expectativa de vida em um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo, com abrupta evolução tecnológica, que requer significativa capacidade cognitiva e socioemocional de seus integrantes para lidar com os desafios contemporâneos, dentre eles as relações intergeracionais.
Além disto, a comunidade acadêmica nacional e internacional e exércitos no mundo, como nos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e a Alemanha têm discutido a temática geracional, com foco na inserção da geração Z no mercado de trabalho, bem como debatido os impactos desta geração no recrutamento e na retenção dos talentos para o serviço militar, o que torna relevante a reflexão deste assunto. Segundo Oliveira (2010), as atitudes de cinco gerações distintas interferem sobre as escolhas, expectativas e motivações das pessoas, alterando completamente a qualidade dos relacionamentos.
Neste sentido, o presente artigo pretende apresentar uma reflexão acerca da importância de se entender as características geracionais para se verificar seus impactos na gestão dos recursos humanos da Força, considerando a solidez de sua cultura organizacional.
Inicialmente, é importante refletir que a cultura organizacional do Exército Brasileiro é profundamente baseada na hierarquia, disciplina, valores e tradições militares que promovem coesão e patriotismo. Ela valoriza o respeito às normas, cerimoniais militares e a memória histórica, fortalecendo a identidade e o compromisso com a Nação brasileira. Os princípios éticos, morais e o trabalho em equipe são essenciais para garantir responsabilidade, integridade e eficiência, enquanto a busca contínua por inovação e capacitação reforça o compromisso da Força com o seu Processo de Transformação.
Quanto às gerações no Exército, a Baby Boomers, referente aos nascidos entre 1946 e 1964, compõe um efetivo reduzido e em funções-chave, que surgiu em um período de forte crescimento econômico e reconstrução social após a Segunda Guerra Mundial. É marcada por um otimismo predominante, disposição física e dedicação ao trabalho, com foco na conquista de estabilidade profissional. Ela valoriza a ascensão na carreira, demonstrando lealdade às empresas e uma ética de trabalho sólida, mantendo os paradigmas tradicionais.
A geração X, referente aos nascidos entre 1965 e 1980, compõe cerca de 30% do efetivo e caracteriza-se por um ceticismo fundamentado na necessidade de provas e informações verificáveis, resultado de um contexto histórico marcado por eventos como a Guerra Fria. Esta geração demonstra forte independência, autonomia e capacidade de adaptação às mudanças tecnológicas. Seus integrantes aprenderam a incorporar inovações tecnológicas, mostrando-se abertos a experimentar novas ferramentas e plataformas, o que evidencia sua resiliência diante de rápidas transformações sociais e econômicas.
A geração Y, relativa aos nascidos entre 1980 e 2000, é marcada por sua familiaridade com a tecnologia, a internet e um contexto de maior segurança e liberdade social, com equilíbrio do trabalho e da família, em um contexto de fim da Guerra Fria. Seus integrantes são pessoas ambiciosas, individualistas, esperançosas, abertas à diversidade e preocupadas com questões sociais e ambientais. Esta geração busca flexibilidade, ambientes inovadores e valorização do feedback contínuo no trabalho. Eles são menos leais às organizações tradicionais e preferem modelos de liderança acessíveis e transparentes, com maior autonomia e menos regras rígidas.
A geração Z, isto é, os nascidos a partir de 2000, cresceu em um ambiente digital, com eventos globais e mudanças sociais profundas. Desde cedo, os integrantes tiveram contato constante com internet, smartphones e redes sociais. Eles são considerados nativos digitais, com habilidades digitais avançadas, mas também enfrentam desafios sociais e emocionais, como ansiedade, depressão e dificuldades na interação presencial. É prática, empreendedora, crítica e exigente, preferindo ambientes de trabalho que valorizem autonomia, inovação, autoaperfeiçoamento e flexibilidade. No entanto, apresentam dificuldades relacionadas à concentração, ética de trabalho e relacionamento interpessoal.
Neste contexto, nota-se que as características e as percepções das diferentes gerações podem provocar divergências de entendimento de valores, de ética e até de tradições militares, pois surgiram em diferentes momentos da história e, em especial, as mais recentes sofreram influência da abrupta transformação social e tecnológica.
Dentro do contexto de transformação na Força e da evolução do ambiente operacional, que exige líderes mais empáticos e comunicativos, capacidades socioemocionais mais apuradas para lidar com os desafios, e comunicação mais assertiva e objetiva por conta da relevância do ambiente informacional, esta compreensão das características geracionais no âmbito do Exército Brasileiro revela-se fundamental para promover uma gestão de pessoas mais flexível e alinhada às demandas do cenário contemporâneo e das mudanças sociais, sem comprometer os princípios essenciais da cultura organizacional da Força.
As diferentes atitudes, valores e expectativas das gerações mais tradicionais, como os Baby Boomers e a Geração X, contribuem para a preservação dos pilares da hierarquia e da disciplina que caracterizam a Instituição, fortalecendo o senso de patriotismo, responsabilidade e coesão. Em contrapartida, as gerações mais jovens, como Y e Z, trazem uma postura mais questionadora, autônoma e inovadora, impulsionando a necessidade de se aprimorar a comunicação intergeracional, a avaliação contínua e a liderança, em todos os níveis, e a busca constante pelo autoaperfeiçoamento, com cursos, estágios e dinamismos operacionais. Além disso, estas gerações mais jovens necessitam de maiores cuidados quanto à saúde mental de seus integrantes, bem como ações para o fortalecimento do ethos militar.
Por fim, o Exército Brasileiro é uma instituição que está sempre acompanhando as evoluções sociais e tecnológicas e tem em seus recursos humanos a essência da Instituição, a “Força da nossa Força”. O entendimento geracional é de grande relevância para aprimorar os seus processos, a fim de atrair, motivar e reter os talentos no mundo moderno. Assim, ao reconhecer as particularidades de cada geração, o Exército promoverá uma gestão de pessoal mais eficiente e efetiva, fortalecendo as suas tradições e facilitando a integração intergeracional e a adaptação às transformações tecnológicas e sociais.
Referências Bibliográficas:
HAIDT, Jonathan; GRAHAM, Greg. A geração ansiosa: como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais. Tradução de Lígia Azevedo. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2022.
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OLIVEIRA, Sidnei. 2012. Jovens para sempre: como entender os conflitos de gerações. São Paulo: Integrare Editora. 128 p.
PITEL, Laura. " German army struggles to get Gen Z recruits ‘ready for war’. Financial Times. Disponível em https://www.ft.com/content/30594f17-6a55-4189-afda-57cdf0176841. Acesso em 24 MAIO 25.
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