A gênese da brasilidade e o contexto atual

Autor: 2° Sgt Anderson dos Santos Rocha

Quarta, 20 Dezembro 2017
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  • "(...) Fusão de raças, forte semente, / Em Guararapes pujante surgiu, (...)". Esse trecho do Hino a Guararapes resume bem o evento histórico que é considerado a gênese de nossa nacionalidade. A intenção do texto é demonstrar a convergência entre nossa brasilidade e a formação do Exército Brasileiro.

Em 1580, com a morte do Rei de Portugal, o Rei da Espanha, Felipe II, unificou as coroas portuguesa e espanhola, formando a União Ibérica. Em consequência, tratou de eliminar as relações comerciais que Portugal tinha com a Holanda, já que os holandeses estavam em guerra contra os espanhóis. Nesse período, a Marinha Portuguesa esteve enfraquecida e a principal estratégia de combate dos holandeses era atacar as colônias da União Ibérica.

A primeira invasão holandesa no Brasil Colônia aconteceu em Salvador, sede do Governo-Geral, mas o objetivo principal da Holanda era a ocupação do Porto de Recife, ponto estratégico para a expansão de seus domínios, por estar mais próximo da Europa e dos engenhos produtores de açúcar. No momento das invasões holandesas, o Brasil Colônia estava militarmente enfraquecido, devido à crise econômica e política de Portugal, quase não havendo fortes e fortalezas.

No dia 14 de fevereiro de 1630, chega ao litoral pernambucano a expedição holandesa, com mais de 70 navios, 8 mil homens e 1100 canhões. Recife e Olinda são ocupadas e as forças de resistência têm que se reorganizar no interior do território de Pernambuco, sob a liderança de Matias de Albuquerque.

Em 19 de abril de 1648, a resistência havia mobilizado uma força libertadora, que contava com a participação de brancos, negros, índios e mestiços (algo nunca visto na colônia), todos do mesmo lado, comandados por Fernandes Vieira, Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Filipe Camarão. Essa força impôs duas fragorosas e decisivas derrotas ao adestrado exército holandês nos Montes Guararapes. A luta combinou táticas de guerrilha e de emboscada, utilizando meios expeditos de combate, como chuços, escudos de couro endurecidos, paus afiados, tostados e, principalmente, tendo o terreno a favor dos luso-brasileiros Essa nova forma de combate foi decisiva na vitória da força libertadora e ficou conhecida como "Guerra Brasílica". Estava pronto o embrião de uma força brasileira que cunhava sua própria doutrina de luta.

Nesse contexto, quando Pernambuco ainda estava dominado pelos holandeses, pode-se observar que Portugal já não tinha mais o domínio da colônia e que o invasor holandês, representado, principalmente, pela figura de Mauricio de Nassau, trouxe melhorias significativas para o Recife. Então, o que motivaria a reunião de cidadãos locais na composição de um exército libertador, formado por pessoas de interesses difusos, culturas diferentes e posições antagônicas, em um território já dominado e distante de sua metrópole?

A resposta parece estar no vínculo que uniu esses indivíduos - negros escravos, forros, mestiços, brancos e índios - para lutar em defesa do seu território, numa "fusão de raças". Foi o vinculo afetivo, que ligava essa gente a sua terra paterna, que proporcionou a união de todos para a libertação de sua Pátria. Ali houve o início da formação de um povo, uma "forte semente". Essa foi a gênese da nacionalidade brasileira, construída na dificuldade e com a união de diversas culturas em prol da defesa de uma iminente Nação.

Dessa forma, alcançou-se a vitória e a primeira definição de gente brasileira, forjada na batalha desigual contra um poderoso exército, superando dificuldades com coalizão, criatividade e inovação. Hoje, percebe-se que o berço da nossa nacionalidade está ligado à composição de um vitorioso exército libertador, formado pela fusão de raças. Esse laço de identidade, constituído entre a população e o Exército Brasileiro, fica evidente pela capacidade de que a Instituição tem de representar os diversos segmentos da sociedade brasileira, agregando valores em defesa da Pátria.
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Comentarios

Comentarios
muy bueno lo felicito por tan dedicacion
Excelente texto sob a otica de um expert em ciencias militares!Parabens
Excelente texto no sentido de agregação, sargento Rocha, parabéns. Que a nossa gênese de Brasilidade seja para sempre. Que a fusão de nossas três raças, seja a forte semente da vitória, sempre. De exemplos maus sucedidos estamos fartos. Grandes personagens históricos infelizmente pecaram e hoje não seriam bem aceitos na liderança máxima de uma nação. Cita-se: Napoleão Bonaparte era racista. Ele proibiu que militares negros morassem em Paris e impedia casamentos entre negros e brancos.
Não se tem como não perceber as trocas de olhares acompanhadas de sorrisos enigmáticos e até irônicos em todos locais onde o momento político do Brasil é comentado e debatido. Baseado naquilo que se vê e ouve nas redes sociais, a situação atual do país é tão surreal que chega até sugerir que não se precisa mais de presidente e sim de diretor de hospício. Uma alegoria existente retrata bem o momento. Em um hospício, três doidos conversavam, um levanta-se e diz com o dedo em riste: - eu sou Napoleão Bonaparte! Logo o segundo lhe pergunta: quem te falou isso? –Jesus Cristo me falou! –Então o terceiro doido interfere e diz: mentira, eu não falei nada disso pra ele não! -O que fazer então diante desse quadro de demência e histeria coletiva com que estamos convivendo? Como fazer um país altaneiro depois de ser rebaixado pelos mesmos que agora se assanham em querer assumir a República novamente? https://www.youtube.com/watch?v=Y-1naHgcvCM
Excelente texto!!!
Caríssimo Martins, eu diria que para resgatar a glória deste pais "altaneiro" como dizes temos antes que relembrar nossas raízes, conhecer nossas terras, belezas, nosso povo! Redescobrir nossa civilidade e ensiná-la aos nossos filhos. Voltar a estremecer com nosso Hino Nacional quanto tocado em qualquer evento. E cantá-lo sempre! Mostrar aos pequenos de hoje que, em nossa terra, se plantar, tudo dá! E então, reensiná-los a plantar, cuidar e colher. Desde os frutos da terra aos do caráter.
A França, como o resto da Europa, era escravagista.
Muito bom. Parabéns pelo texto.

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