A formação dos capelães militares do Exército Brasileiro

Autor: Cap Fabricio do Prado Nunes

Quarta, 15 Janeiro 2020
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Um dos valores altamente cultivado pelo Exército Brasileiro é a qualidade do aprimoramento técnico-profissional de seus militares. A complexidade dos tempos contemporâneos impõe um agir reflexionado à qualificação profissional de seus homens e mulheres, das mais diversas especialidades, para um desempenho militar que corresponda à altura dos desafios de um mundo em transformação.

O que se espera do militar do presente e do futuro é que ele seja capaz de pensar e agir coerente e conscientemente convicto em resposta à complexidade e interconectividade dos problemas e desafios contemporâneos, alinhado com a iniciativa e autonomia compatível com o seu grau funcional e hierárquico. Para tanto, é necessário treiná-lo e qualificá-lo para o eficiente desempenho de suas competências profissionais.

Ao projetá-lo como um solucionador de problemas, verifica-se que, desde sua formação militar inicial à qualificação para o desempenho de suas competências, seu aprimoramento técnico exige o conhecimento e a consciência dos desafios atuais de toda ordem que compõem o cenário do espectro social das operações militares.

A projeção dessa qualificação profissional, voltada ao desempenho eficiente e eficaz no amplo espectro dos conflitos, encontra correspondência em todas as Linhas de Ensino Superior Militar, da Linha Bélica à Complementar. Sua repercussão encontra eco nos currículos de nossas Escolas, materializando-se nos planos de disciplinas, na elaboração de problemas complexos, nas soluções integradas e na colaboração interdisciplinar entre as diferentes áreas de formação profissional dos militares. Associa-se, assim, às competências profissionais dos militares das Armas o conhecimento das diversas áreas do saber das demais Linhas de Ensino Superior Militar, para corresponder à complexidade dos desafios sociais que definem e permitem a compreensão do cenário político e militar dos conflitos.

Um exemplo da amplitude dessa capacitação é a sua inclusão na formação técnico-profissional do Quadro de Capelães Militares (QCM) do Exército Brasileiro. Trata-se de mudanças significativas na projeção da formação militar inicial dos novos capelães e na qualificação e no desenvolvimento das competências profissionais dos atuais integrantes desse quadro especializado das Forças Armadas.

A reestruturação ficou evidente. Na cronologia das portarias do Estado-Maior do Exército temos as mais recentes transformações. A portaria nº 309-EME, de 29 julho de 2017, integra a formação militar dos capelães à Linha de Ensino Militar Complementar, em nível superior de formação. Transfere-a da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) para a Escola de Formação Complementar do Exército (EsFCEx), mantendo a periodicidade e o número de vagas do concurso público, em conformidade com o Plano de Cursos e Estágios do Exército (PCE-EB) e a lei nº 6.923, de 29 de junho de 1981, que regula o Serviço de Assistência Religiosa nas Forças Armadas.

A inclusão do QCM na Linha de Ensino Militar Complementar na EsFCEx oportuniza ajustes importantes à profissionalização dos capelães: designação de capelão para a Escola de Formação como assessor técnico e instrutor da área; criação de vaga em Quadro de Cargos Previsto (QCP) na Organização Militar; atualização curricular ao inserir o então Estágio de Instrução e Adaptação para Capelães Militares (EIACM) no ensino por competência; reestruturação do Perfil Profissiográfico e elaboração do Mapa Funcional dos Capelães, de acordo com a Lei nº 6.923/81; e construção de novos planos de disciplinas e documentação curricular em correspondência às competências do cargo e à legislação regulatória para o seu emprego no ambiente da administração pública e nas operações militares.

No mesmo período, elaborou-se estudo de viabilidade técnica para a transformação do estágio em curso de formação, em virtude da periodicidade e carga horária prevista em lei, da compatibilização com a legislação militar e com o Acordo Brasil Santa Sé para a Assistência Religiosa nas Forças Armadas. O estudo também levou em consideração a adequação finalística da formação: oferecer melhor adaptação militar inicial aos novos alunos, racionalização dos meios de instrução e otimização dos recursos investidos.

A portaria nº 066-EME, de 19 de março de 2019, extingue o antigo Estágio de Instrução e Adaptação para Capelães Militares. Por sua vez, as Portarias nº 067-EME e nº 068-EME, de mesma data, criam o Curso de Formação de Capelães Militares (CFCM) e as condições de seu funcionamento, respectivamente.

A meta é o alinhamento da formação dos capelães com os demais oficiais da Força Terrestre, estabelecendo simetria formativa dos novos alunos com os oficiais da Linha de Ensino Complementar e incluindo os demais capelães às exigências da profissão militar para a progressão na carreira como, por exemplo, a determinação obrigatória do Curso de Aperfeiçoamento Militar (CAM), da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), para capelães capitães pelas portarias nº 085-DECEx, de 31 de março de 2017 e nº 153-EME, de 13 agosto de 2018. Nesse contexto, insere-se a pretensão da obrigatoriedade do Curso de Especialização Básica para Capelães (CEB Capelão), ainda em estudo pela Diretoria de Educação Superior Militar (DESMil) e pelo Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx), para os capelães recém-formados no Curso de Formação de Capelães Militares (CFCM), a partir de 2020, objetivando massificar e padronizar sua atuação na tropa.

O crescente incentivo à progressiva qualificação militar e religiosa e a definição objetiva do emprego do capelão como ministro e assessor religioso e ferramenta do Comando fica evidente com a criação, em 2018, do Manual de Campanha A Assistência Religiosa em Operações (EB70-MC-10.240) e os Manuais de Capelania Hospitalar e de Estabelecimentos de Ensino Militares, ambos em estudo de viabilidade.

A principal mudança está na aprovação das novas competências profissionais desses militares, promotores da religiosidade e da paz entre as Armas, que os coloca cada vez mais, ombro a ombro, no apoio aos demais militares em atuação no amplo espectro dos conflitos. Espera-se dos capelães contributo importante da religião no desempenho da profissão militar, por meio da assistência religiosa e espiritual aos militares e suas famílias, bem como aos civis a serviço das Forças Armadas, e da educação moral para a manutenção do elevado moral da tropa, contribuindo para sua duração em combate e para o alcance do estado final desejado às missões atribuídas.

Comentarios

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Excelente texto do Cap Fabrício ! Uma atualização sobre a situação do Serviço de Assistência Religiosa do Exército Brasileiro.
De muita importância maior envolvimento do capelão com a tropa. Desde sempre vemos que o conselho religioso anda lado a lado com as tropas, o profeta e o Rei. Hoje não pode ser diferente, é impotante para o militar ter momentos de contato, e aconselhamento religioso e espiritual.
Um texto de excelente nível. Autor convicto. Bom, Capelão!
Perfeito. 10. Muito bom, Cap Fabrício.
Parabéns pelo texto Capitão Fabrício! Excelente, muito esclarecedor.
Tive o grande prazer de ter minhas alianças abençoadas pelo padre Fabricio. Estou eu aqui as 23:29 da noite tentando lembrar dos mantras cantados por ele em suas celebrações. Rsrsrs Bjos padre Anny Cauper Belém/PA - Paróquia da Santíssima Trindade
Sempre tive vontade de ser oficial, mas infelizmente não consegui entrar em uma escola para cadetes. Porém hoje vejo que é possível tendo curso superior. Pretendo prestar para capelão. O que preciso?
Prezado Felipe, acesse site da Escola de Formação Complementar e Colégio Militar de Salvador. Pelo edital do concurso para o CFCM você terá acesso aos requisitos do referido concurso
"Um país justo e competente demostra sua força com base na fé".
Ten Cel R/1 Valter. Caro Fabrício, tive a honra de servir no CMS, Santa Maria, onde me possibilitou uma visita à Uruguaiana para verificar seu trabalho como Capelão e juntos celebrarmos a Páscoa dos militares. Minha impressão foi a melhor possível acerca do seu ministério e vocação ao serviço junto aos militares. Quando fui movimentado para Brasília, o Capelão que indiquei para servir junto ao Chefe do SAREx foi o amigo por todos os seus atributo sacerdotais e militares. Hoje, lendo esta sua matéria só confirma minha visão sobre o excelente oficial da ativa no Exército. Parabéns e sucesso na vida profissional e familiar.
É de grande importância o trabalho desenvolvido do Exército Brasileiro a Sociedade em um todo. Através desta matéria , cresce ainda mais o desejo de engajar no Quadro de Capelães Militares. Estou focada nos estudos e creio que em breve estarei exercendo este nobre serviço. Sendo assim me tornar a primeira Capelã Militar (Pastora Evangélica) Que o Senhor ilumine nesta caminhada rumo à vitória.
Tenho acompanhado o trabalho do Capitão Capelão militar do EB, Fabrício, que era 1º Ten OTT (R/2) Capelão, depois passou no concurso pra o quadro Efetivo, Ele Capitão Fabrício e outro Capitão que não lembro agora o nome...parabéns ao ilustre oficial...
É preciso ser pastor ou padre, com no mínimo 3 anos de atividades pastorais e graduação em teologia reconhecido pelo Mec, e pela autoridade eclesiástica do credo religioso que o candidato concorre. Idade entre 30 e 40 anos de idade.
Boa tarde! Meu sonho sempre foi servir ao exército, porém não tive essa oportunidade. A algum tempo estou de olho nos editais para Militar Capelão e gostaria de saber se somente com o bacharelado em Teologia posso assumir este cargo? Ou tenho que ser padre católico?
Por disposição legal, a lei 6.923/81, que rege a prestação da assistência religiosa nas Forças Armadas, determina que padres católicos e pastores evangélicos, ministros ordenados por suas respectivas denominações religiosas, estão aptos a prestar o concurso, além do cumprimento de outras disposições enumeradas nos editais do concurso de admissão ao curso de formação de capelães militares. Acesse site da EsFCEx/CMS, salvador.
Boa tarde! Eu gostaria de saber se o EB chama os excedentes? Porque geralmente são poucas vagas no edital de capelão. Obrigado.
Uma honra ter entrado na EsFCEx tendo como capelão o Cap Fabrício!
Boa tarde Capitão Nunes. Formei-me em teologia ano passado e queria tirar umas dúvidas sobre a formação para capelão evangélico. No caso essa formação pode acontecer no Rio de Janeiro ou em Salvador, não é isso? Minha dúvida principal é se durante a formação temos alguns dias de folga para ver o cônjuge. E a outra dúvida é sobre a movimentação, não sei se é esse o termo, se após formado podemos retornar a cidade que moramos.
Boa noite Magdiel. O Curso de Formação para Capelães Militares tem duração de 37 semanas. É realizado integralmente na Escola de Formação Complementar do Exército, localizada em Salvador - Ba. Nesse curso os alunos realizam estágio supervisionado que ocorre no segundo semestre em Organizações Militares nas guarnições do RJ, Resende, Três Corações e Brasília. O sr pode levar a família para residir em Salvador, pois será liberado para estar em casa à noite. E, dentro da escala de serviço, eventualmente terá finais de semana livre. A dedicação ao curso é exclusiva. Quanto à classificação, que corresponde à sua primeira transferência, ela dependerá de sua classificação no curso, das vagas destinada pelo Exército. O sr ficará à disposição das necessidades do Serviço, com dedicação integral e exclusiva ao Exército.
Muito grato pelos esclarecimentos Capitão. Ajudaram-me muito. Deus abençoe!
Bom dia Capelão Fabrício, é um sonho pertencer as Forças Armadas Adorando a Deus e conduzindo os militares a isso! Deus continue lhe usando e realizando sonhos!

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