A contribuição da linguagem e das práticas discursivas para a legitimação institucional

Autor: Maj Andréa Lemos Maldonado Cruz

Quinta, 28 Dezembro 2017
Compartilhar

Ao longo de toda a sua trajetória histórico-social, o homem vem tentando organizar, conceituar e representar o conjunto de experiências materiais e imateriais que o identificam no mundo. Essas representações se materializam por meio da linguagem, produção cultural que se constitui em um universo de signos utilizados como instrumentos de comunicação ou de suporte para a manifestação do pensamento.

Os atuais estudos da linguagem, em especial, da Análise de Discurso, têm como princípio o conceito de língua como um fato social, cuja existência baseia-se na necessidade humana de comunicação.

Em sua obra "Comunicação e discurso: introdução à análise de discursos", Milton José Pinto define análise de discurso como "(...) uma prática analítica de produtos culturais empíricos (...) que (...) procura mostrar, à luz das modernas teorias sociais, como e porque tais produtos produzem certos efeitos de sentido."

Dessa maneira, trata-se de ciência que situa seu objeto – o discurso – no campo das relações entre o linguístico e o histórico-ideológico, e que busca as determinações sociais, políticas e culturais dos processos de construção de sentido. Sob essa perspectiva, pode-se considerar que, como representação e significação da realidade, o discurso constitui o mundo em significados, contribuindo para a composição de nossas identidades sociais e para a construção das relações sociais e dos sistemas de crenças e de conhecimentos.

A legitimação e a aceitação social desse conhecimento e dessas crenças materializam sem o discurso. Tal legitimação ocorre em nível das interações individuais, potencializa-se nas relações grupais e, principalmente, na constituição de organizações e instituições.

Assim considerado, institucionalmente, o processo de legitimação de uma organização, dentro da sociedade, ocorre pelo que Jesús Martín Barber em sua obra dos meios às mediações", chama de mediações feitas, basicamente, pela linguagem, por meio das práticas discursivas. Pode-se dizer, portanto, que a legitimação de uma instituição como o Exército Brasileiro é reforçada socialmente por um discurso que transmitirá seus valores, suas crenças, seus conhecimentos e suas verdades tanto para seus integrantes, quanto para a sociedade.

Dessa forma, dentro do cenário institucional militar, visualiza-se um contexto de práticas discursivas, no qual ritos, regras e convenções - como a hierarquia, a disciplina e o papel de cada integrante nas relações sociais – são determinantes nos vínculos e nas trocas simbólicas.

Acredito ser de extrema importância o estudo da linguagem como instrumento dessas práticas discursivas, que vêm tecendo significados e contribuindo, ao longo da história, para a percepção da identidade institucional da Força, não somente quando transmitem e reforçam
valores, crenças e rituais que lhes são próprios, mas também quando justificam uma ordem institucional e asseguram a transmissão daquele conjunto de vivências acumuladas e repassadas chamado conhecimento, que, em última instância, condiciona a legitimação da Instituição na sociedade.

.

CATEGORIAS:
Geral Esporte

Comentarios

Comentarios
Parabéns!⯑⯑⯑
Major Andréa Cruz, creio que me tornei um comentarista compulsivo. Quando em boa causa, esse defeito pode se converter em virtude. Observando de fora do cenário militar, tem-se a notória constatação da disciplina e discrição dos aquartelados diante de assuntos das mais variáveis nascentes. Ao verem e ouvirem as notícias comuns a todos, militares e civis, onde diariamente “toneladas” de informações via jornalismos de todas as origens elevam a temperatura da nação, reações diferentes são notadas, por razões obvias. Por não terem compromissos com leis disciplinares, partes dos civis se exasperam fortemente e isso preocupa ao estado de direito constituído. Existe até mesmo o que se indague? A quem essa carga diária de notícias, no caso negativa, pretende atingir? Se levarmos em conta que a maioria absolutíssima dos espectadores nem sabe distinguir se o teor daquilo reportado é de sua conta, temos então a triste realidade: infelizmente nossa querida pátria ou foi deliberadamente enviada para algum local incerto e não sabido, ou a massa absoluta já nem forças e condições mínimas morais têm para suplicar a quem de direito e de direita a restauração da essência mais sublime e altaneira que pertence à nossa querida "Pátria amada Brasil".
É bem verdade que a continuação de valores e crenças em uma instituição é concretizada pela participação de sujeitos polifônicos, que trazem de uma sociedade multicultural comportamento, ações e ideologias que contribuem para uma Força Terrestre composta por mulheres e homens que representam a identidade brasileira.
Em meu nome amigos e familiares, pedimos por intervenção militar no Brasil.
Sei que não cabe ao EB intervir, mas entendo que cabe vir em socorro de uma nação a beira da falência total quando está de joelhos pedir socorro.

Navegação de Categorias

Artigos Relacionados