“Arma Ligeira” e “Estrela Guia”, como é chamada a Cavalaria do Exército Brasileiro - força terrestre imponente e notável, que transpõe os montes, pelo caminho da luta e da vitória – cujo patrono é o Marechal Osorio, é reconhecida como a mais móvel de todas as Armas e a segunda mais antiga na história das guerras, sendo precedida apenas pela de Infantaria.
Nos primórdios da história, o termo Cavalaria não existia, haja vista sua origem estar ligada à palavra “Akva”, proveniente do sânscrito, a qual remetia à situação da tropa que, do combate a pé, passou a guerrear sobre plataformas empurradas por outros guerreiros, que dava a ela posição de superioridade móvel, de posicionamento e de choque nas batalhas.
Os enfrentamentos repetidos aos inimigos encarregaram-se de mostrar que a movimentação dessas plataformas era mais viável quando se dava por meio de animais (camelos, elefantes e cavalos), poupando importantes soldados para o exercício efetivo de sua atividade-fim, que era a do combate corpo a corpo, o que resultou, é de se crer, na eleição do cavalo, dentre os demais, como o mais eficaz, mais apto e de maior agilidade para o desempenho desse trabalho, cujo conjunto de qualidades não poderia ser superado pelos lentos camelos e elefantes, apesar da inegável inteligência e portes físicos avantajados destes.
Com o tempo, esta forma de atuação nos campos de batalha restou ligada diretamente à atuação dos imprescindíveis cavalos, sem os quais as plataformas seriam inúteis ou pouco eficazes, o que fez sobrepor-se o animal ao equipamento que ele conduzia, redundando na convolação do termo “Akva” para o que era mais apropriado àquela nova realidade, qual seja: “Cavalaria”.
Mais uma vez o tempo e a experiência diversificaram o uso dos cavalos, passando estes a conduzirem os próprios combatentes, os quais deles desmontavam quando do início dos combates, e, por isso, as tropas que assim atuavam eram denominadas “Dragões” e não eram tratadas como parte da Cavalaria, o que mudou a partir da segunda metade do século XVIII.
Sua história no Brasil remonta aos tempos de João Fernandes Vieira, ao final da guerra contra os holandeses, ligada que estava à organização do Regimento de Dragões Auxiliares, em Pernambuco, passando pela criação, no Rio de Janeiro, do Regimento de Dragões, e, na Colônia do Sacramento (RS), pela formação do Regimento de Dragões do Rio Grande.
Em decorrência de experiências adquiridas nos campos de batalha, os conjuntos homem/cavalo deixaram de ser desfeitos nos momentos de confronto, possibilitando atuação eficaz em ações de reconhecimento e de choque, ofensivas e defensivas, potencializando o poder de enfrentamento aos adversários.
Manuel Luis Osorio, seu Patrono, nasceu em 1808 na Vila de Nossa Senhora da Conceição do Arroio. Filho e neto de militares, cresceu em ambientes militares e desde novo aprendeu na fazenda de seu avô materno a lidar com animais de montaria, circunstâncias e aptidões que o conduziram, também precocemente, aos 15 anos de idade, a integrar o Exército Imperial - na condição de praça e ao lado de seu pai - a partir de quando pôde demonstrar todos os seus atributos de grande soldado.
“O Legendário”, como ficou conhecido por sua astúcia, bravura e heroísmo, após exercer todos os postos da hierarquia militar, alcançou o de Marechal, recebendo, também, o título nobiliárquico de Marquês do Herval. Era tido e havido, até pelos seus inimigos, como um mito dos campos de batalha. Os ferimentos que lhe marcaram o rosto quando atuou na Batalha de Avaí, em 1868, são representados, como memoriais, pelas três estrelas douradas que compõem o seu brasão.
Comandou esquadrões, regimentos e exércitos, atuando destacadamente nas Campanhas da Independência, Cisplatina, de Monte Caseros - com o 2º Regimento de Cavalaria - e da Guerra da Tríplice Aliança - com seis divisões de Cavalaria. Sobre a Campanha de Monte Caseros, o então Conde de Caxias, Comandante-em-Chefe do Exército, declarou que “Osorio é o maior guasca da Província que mais naipes ganhou e louros colheu na Batalha...”.
A Vila de seu nascimento tornou-se o município de Osório, o qual, posteriormente, viu seu território ser dividido, tendo sido a parte litorânea nomeada como Tramandaí, no Rio Grande do Sul, e a outra mantida com o nome de Osório, cidade guardiã dos restos do Patrono da Arma de Cavalaria do Exército Brasileiro, o qual, apesar das glórias vivenciadas, das batalhas vitoriosas e emblemáticas, jamais se apartou da simplicidade marcante que o caracterizou por toda a vida.
Ultrapassando o enfoque ao Patrono da Arma para dar-se o necessário destaque ao animal que a representa, a sabedoria popular, aliada à de grandes pensadores, como William Shakespeare e Ronald Duncan, em seus versos aqui parafraseados, retrata o cavalo como grande amigo do homem, ao defini-lo como “criatura sem igual; poesia em movimento; que voa sem possuir asas e que conquista sem empunhar espadas; nos emprestando a força e a liberdade que não temos. Tão importante para o homem, quanto as asas para os pássaros...”.
Aprender sobre o cavalo - fruto dos ancestrais Eohippus e Equus - essa figura nobre, porém, sem arrogância; amiga, mas, desprovida de inveja; bela, contudo, sem vaidade; leal, sem pedir contrapartidas; e determinada, em qualquer circunstância; faz os cavaleiros e amazonas voltarem aos tempos da Grécia Antiga, nos quais surgiu o mito do centauro - fruto do melhor dos sonhos filosóficos de seus pensadores - que juntou a inteligência humana ao vigor físico e a tantas outras qualidades dos cavalos, atingindo o que se desenhou como o guerreiro perfeito.
Apesar de utilizados em escala reduzida pela Força Terrestre - em razão de ter havido na Arma de Cavalaria, especialmente a partir dos anos 1960, importantes modificações em sua estrutura, com a substituição de grande parte dos animais por máquinas de combate motorizadas, com alto poder de fogo, em especial pela adoção de moderno conjunto de equipamentos, compositores de brigadas de Cavalaria Mecanizada e Blindada; de regimentos de Cavalaria Mecanizados; e de regimentos de carros de combate nas brigadas de Infantaria Blindada - os Regimentos de Cavalaria de Guarda brasileiros, constituídos por unidades híbridas (motorizadas e hipomóveis), são honrosas exceções a essa realidade, que é mundial, eis que exercem eficazmente o seu poder de choque, com o objetivo de contribuir para com a garantia da Soberania Nacional, dos Poderes Constitucionais, da Lei e da Ordem; para com a Segurança Presidencial; para operar ostensivamente contra o crime organizado; para atuar em movimentos sociais e em eventos importantes no País; para realizar o Cerimonial Militar; manter as tradições equestres do Exército; e para contribuir com o fortalecimento da imagem da Força.
“A última carga tradicional de cavalaria, confirmada, da história, ocorreu em agosto de 1942, levada a cabo por uma unidade do Corpo di Spedizione Italiano in Russia (Corpo Especidionário Italiano na Rússia). O 3º Regimento italiano de Dragões Savoia carregou, com sucesso, sobre as forças soviéticas” (https://afontedeinformacao.com/biblioteca/artigo/read/72051).
Entre os Cavalarianos – a “Arma de Heróis”, assim chamada em memória a históricos militares que ostentaram a lança como símbolo, com destaque para Osorio, Andrade Neves e Pitaluga - flui texto forte e desafiador à reflexão: “Se não tiveres o olhar da águia, a rapidez do raio e a coragem do leão... Para trás! Não és digno de pertencer ao furacão da CAVALARIA!”.
O avistamento de conjuntos de Cavalaria de Guarda desfilando sua imponência e exuberância, colorindo o visual da Capital Federal (1º RCG – Dragões da Independência), em meio a blindados e a palácios dos Poderes da República - o que também ocorre na Capital do Rio de Janeiro (2º RCG – Regimento Andrade Neves) e na do Rio Grande do Sul (3º RCG – Regimento Osório) - com seus uniformes históricos que remetem às lembranças aos cavalarianos da época do Brasil Imperial, enche de orgulho o povo brasileiro pelo Exército que tem, irradiado que é o cidadão pela sensação de segurança e pela certeza de que tais conjuntos estão prontos para fazerem o que bem sabem: manobrar com agilidade; surpreender pela ligeireza; multiplicar forças; “eis que a cavalhada, numa avançada, ousada e forte, não teme a morte. Os corcéis sabem que a glória só se conquista com a vitória no revés” (Texto adaptado sobre o do dobrado “Saudade da Minha Terra”, do 1ºSgt. Luiz Evaristo Bastos, 1893).
Sempre haverá uma Cavalaria!
https://www.eb.mil.br/o-exercito/postos-e-graduacoes/cavalaria
https://www.eb.mil.br/o-exercito/postos-e-graduacoes/cavalaria
https://militares.estrategia.com/portal/mundo-militar/forcas-armadas/cavalaria/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cavalaria_do_Brasil
https://www.letras.mus.br/exercito-brasileiro/435235/
https://www.esao.eb.mil.br/images/Arquivos/CCAV/informativos/historia_da_cavalaria_no_brasil.pdf
https://brasilescola.uol.com.br/historiag/cavalaria-medieval.htm
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cavalo
https://www.todamateria.com.br/centauros/
https://afontedeinformacao.com/biblioteca/artigo/read/72051
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