A aquisição da consciência situacional das operações militares terrestres no ambiente amazônico
A Amazônia Legal constitui-se em uma Área de Operações (A Op) complexa dada a sua grandiosidade e incontáveis desafios às atividades militares desenvolvidas pela Força Terrestre (FTer). Dentre esses óbices, ressaltam a vultosa densidade da floresta amazônica, que limita sua penetração e ocupação por tropas convencionais, a elevada pluviosidade, que danifica os equipamentos eletrônicos de maior sensibilidade, além da incipiente infraestrutura de transporte que obstaculiza as operações militares, afetando a defesa das fronteiras.
Nesse prisma, nunca é demais trazer à luz os números superlativos da Amazônia Legal e suas implicações militares. Essa região ocupa cerca de 61% do território nacional, abarcando a totalidade dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, além de parte do estado do Maranhão, totalizando aproximadamente 5 milhões de km² na porção mais setentrional do País. Nela está contida a maior biodiversidade e a mais extensa bacia hidrográfica do planeta. Sua riqueza mineral é incalculável, além de conter enormes vazios demográficos, que atraem a cobiça internacional.
Nesse contexto, as operações militares em proveito da defesa da Amazônia e da preservação da soberania nacional demandam a manutenção da plena Consciência Situacional pelos tomadores de decisão, a fim de dar respostas tempestivas quando e onde as ameaças se fizerem presentes.
Mas, para fins militares, quais são as definições de Consciência Situacional e qual sua importância para as operações terrestres na Amazônia Legal?
Recorrendo à literatura militar estrangeira, encontramos a definição de Consciência Situacional como sendo "a base primária para a tomada de decisão e para o desempenho subsequente na operação de sistemas complexos e dinâmicos". No seu nível mais baixo, o operador precisa perceber informações relevantes (no ambiente, sistema, capacidades, etc.), a fim de integrar os dados em conjunto com os objetivos da tarefa e, em seu nível mais alto, prever eventos futuros do sistema com base nesse entendimento (Endsley, 1995).
Outra definição de Consciência Situacional, segundo a literatura estrangeira, seria o “conhecimento da disposição atual e de curto prazo, das forças amigas e inimigas, dentro da área de operações” (Hamilton, 1987).
Já a Doutrina Militar Terrestre, por intermédio do Manual EB70-MC-10.213 (Operações de Informação), discorre que a Consciência Situacional “garante a decisão adequada e oportuna em qualquer situação de emprego, permitindo que os comandantes possam se antecipar aos oponentes e decidir pelo emprego de meios na medida certa, no momento e local decisivos, proporcionalmente à ameaça” (BRASIL,2019).
Do exposto, podemos deduzir que a Consciência Situacional, para ser efetiva, requer um expressivo aparato tecnológico, meios eficientes, pessoal adestrado e efetiva atividade de Inteligência Militar para, oportunamente, obter as informações necessárias que subsidiem a tomada de decisão nos níveis estratégico, operacional e tático. Com isso, será possível a projeção de cenários futuros que fomentem o processo decisório nas operações militares em ambiente amazônico.
Esse embasamento nos permite fazer uma breve reflexão do nível atual de Consciência Situacional auferida na FTer na região amazônica, diante dos desafios impostos por esse ambiente operacional permeado de múltiplas complexidades.
A FTer cumpre parcela expressiva das suas missões constitucionais na Amazônia Legal por intermédio do Comando Militar da Amazônia (CMA), com sede em Manaus (AM) e do Comando Militar no Norte (CMN), com sede em Belém do Pará (PA), e suas Organizações Militares (OM) subordinadas distribuídas em 08 estados da nação (Manaus, Roraima, Acre, Rondônia, Pará, Amapá, Tocantins e Maranhão).
O CMA possui o 1º Batalhão de Comunicações e Guerra Eletrônica de Selva, em sua estrutura organizacional como ente responsável pelas ligações entre o comando e suas OM subordinadas. O CMN, por sua vez, realiza essas ligações por intermédio do recém-criado Núcleo do 2º Batalhão de Comunicações e Guerra Eletrônica de Selva. Ambas as OM possuem estrutura, meios e pessoal para a prover e proteger as comunicações no nível tático, contribuindo para a consecução da Consciência Situacional nas operações vigentes.
Além disso, o 4º Centro de Telemática de Área e o 42º Centro de Telemática sediados em Manaus e Belém, respectivamente, cooperam para o advento da Consciência Situacional no nível estratégico gerindo, regionalmente, o Sistema de Comunicação Militar por Satélite (SISCOMIS), a Rede Integrada de Telecomunicações do Exército (RITEx), a Rede Rádio Fixa (RRF) entre outros meios de telecomunicações. Essas redes informacionais colaboram para que os comandantes do CMA e CMN possam ter acesso aos sistemas corporativos do EB, auferindo capacidade de tomada de decisões com oportunidade e grande abrangência.
No que tange à Inteligência Militar, o CMA conta com apoio do Núcleo do 4º Batalhão de Inteligência Militar, enquanto o CMN é apoiado pela 8ª Companhia de Inteligência. Sinteticamente, cabe a essas OM de inteligência realizar a produção de conhecimento; executar ações de Inteligência, Reconhecimento, Vigilância e Aquisição de Alvos (IRVA); apoiar a obtenção da superioridade de informações e realizar a busca por ameaças, tudo em prol da obtenção da Consciência Situacional no processo decisório.
As coordenações das operações militares desenvolvidas nesses Comandos Militares de Área são realizadas pelos Centro de Coordenação das Operações (CCOp). Nesse ínterim, destaca-se o emprego dos sistemas de comunicações centradas em rede, materializados pelo aplicativo C² em Combate e dos equipamentos de geolocalização (Spot Geração 3) que permitem às células do CCOp acompanharem os desdobramentos e deslocamentos das tropas em tempo real, bem como aspectos relativos ao pessoal, logística, manobra, entre outros. Tais ferramentas amplificam a capacidade decisória dos comandantes táticos durante as operações desencadeadas no ambiente amazônico.
Nas pequenas frações (nível unidade, subunidade e pelotões), em face dos óbices naturais oferecidos pela floresta amazônica como umidade, densidade florestal, longas distâncias, etc, as tropas utilizam-se de uma gama de meios robustecidos e de reduzido peso que permitem o estabelecimento de comunicações de dados e voz, superando os obstáculos naturais. Desses, destacam-se os meios de enlace satelital móveis (BGAN), meios rádios militarizados que operam nas faixas de HF e VHF, telefones satelitais, terminais do Sistema de Comunicações Militares por Satélite, entre outros. O emprego de tais equipamentos colaboram, sobremaneira, para acelerar o ciclo OODA (Observar- Orientar- Decidir- Agir) de tomada de decisões rápidas, sendo essa metodologia fundamental para os decisores durante as operações militares na Amazônia Legal.
Por fim, referente ao pessoal, os C Mil A têm recebido, anualmente, militares cada vez mais capacitados a operarem equipamentos tecnológicos que ampliam a Consciência Situacional particularmente no nível tático. As escolas de formação do EB, como a Academia Militar das Agulhas Negras, a Escola de Sargentos das Armas e os Núcleos de Preparação dos Oficiais da Reserva, têm readequado seus currículos escolares para adaptarem-se às novas tecnologias agregadas aos meios de emprego militar.
Somam-se a isso as capacitações dos militares da Arma de Comunicações realizadas pela Escola de Comunicações do Exército (EsCom) que, em parceria com instituições civis internacionais (Academy Herris, Cisco e Motorola), preparam os Recursos Humanos do EB na operação dos mais diversificados materiais atualmente utilizados no ambiente amazônico. E, nessa esteira, cita-se também a Escola de Inteligência Militar do Exército (EsIMEx) que prepara os operadores de inteligência nesse vetor operacional, colaborando para a aquisição de informações oportunas e a consecução plena da Consciência Situacional em todos os níveis nos CMA e CMN.
Do exposto, é possível inferir que os Comandantes Militares de Área no ambiente operacional amazônico são dotados de sólida Consciência Situacional das operações em curso em face dos meios tecnológicos e pessoal adestrado contidos nesses Grandes Comandos, em que pese os inúmeros desafios existentes nessa A Op. Contudo, a busca permanente por novas capacidades operacionais, técnicas e procedimentos são desejados a fim de ampliar essa consciência e, com isso, potencializar a defesa da Amazônia e, por conseguinte, da soberania nacional.
Referências
BRASIL. Exército Brasileiro. Comando de Operações Terrestres. EB70-MC-10.213, Manual de Campanha. Operações de informação. Brasília, DF: 2019, 53 p.
Endsley, M. R. et al. A comparative analysis of SAGAT and SART for evaluations of Situational Awareness. Human Factors and Ergonomics Society 42nd Annual Meeting, 1998.
Hamilton, W. L. Situation Awareness Metrics Program. SAE Technical Paper Series No. 871767. Warrendale, PA: Society of Automotive Engineers, 1987.
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