Operação CORE 23: métricas de engajamento e desafios de Com Soc

Autores: Cap Paulo Sérgio
Segunda, 23 Junho 2025
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1. INTRODUÇÃO

O Exercício Combinado Brasil/EUA, Combined Operation Rotation Exercise-CORE foi planejado no contexto de cooperação e da diplomacia militar entre esses países, de forma bilateral e em Teatros de Operações diversos. Em 2023, foi realizada na Amazônia Oriental, área de responsabilidade do Comando Militar do Norte (CMN), que trouxe ineditismo e aprendizado distinto para o emprego das tropas, por se tratar de bioma complexo, o qual traz desafios e dificuldades a serem superadas por conta das características, notadamente, no que tange, ao acesso à comunicação.

Para atuação no mencionado ambiente, há necessidade de maior esforço visando à prontidão logística e operacional, fruto das condições dos modais de transportes, infraestrutura digital e de telecomunicações, e sinais de satélites, os quais têm condições piores frente a outras regiões do País ou do mundo.

Assim, surgiu desafio importante para as atividades da célula de Comunicação Estratégica da Op CORE 23, sob chefia do CMN. Este trabalho analisa os desafios enfrentados no emprego de Com Soc durante o Exercício, identificando a eficiência das mídias sociais utilizadas e avaliando o engajamento dos públicos-alvo alcançados, considerando as variáveis do ambiente amazônico e os objetivos estratégicos organizacionais do Exército Brasileiro. O veículo que foi priorizado, de fato, deu o engajamento esperado?

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 COMUNICAÇÃO NA REGIÃO AMAZÔNICA

Três jornais hostis devem ser mais temidos que mil baionetas” afirmou Napoleão Bonaparte. As Relações Públicas são responsáveis por melhorar a imagem de uma organização ao criar e manter um diálogo constante entre todos os envolvidos, facilitando a harmonia entre eles (BRASIL, 2017).

Além da geografia, a Amazônia é marcada por grande diversidade cultural, que enriquece a região, mas também complica a comunicação. Essa diversidade pode levar a mal-entendidos e à dificuldade em estabelecer comunicação clara e eficaz, o que exige abordagem sensível e adaptativa por parte dos comunicadores, em comunicação clara e eficaz (FREITAS, 2020; e EUA, 2014).

Na dimensão informacional para o ambiente operacional da selva, carece atenção para o baixo desenvolvimento na área de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), que dificulta a transmissão, o acesso e o compartilhamento da informação (BRASIL, 2023).

A transparência nas comunicações é fundamental para construir credibilidade e o envolvimento ativo com a comunidade (EUA, 2014).

A infraestrutura energética e digital amazônicas são limitadas, impactando a capacidade de disseminar informações em tempo real (SANTOS, 2021).

A comunicação social não se limita à mera transmissão de informações, mas envolve a construção de significados e a criação de espaços de diálogo, cenário onde a opinião pública deve ser considerada e alvo de planejamento em todas as operações. (LIMA, et al., 202; e BRASIL, 2017).

A utilização de tecnologias de comunicação emergentes, como redes sociais, antenas de alta capacidade e outros tem o potencial de transformar a dinâmica da comunicação na Amazônia (DIAS, et al., 2022).

2.2 COM SOC E EXERCÍCIOS COMBINADOS NO EXÉRCITO

Exercícios bilaterais e multinacionais com tropas e/ou simulações, e em atividades de simulação construtiva contribuem para o fortalecimento de laços de confiança entre os militares do EB e os das forças armadas de países amigos.

Os Exercícios CORE servem, para validação de todos os aspectos da doutrina, organização, adestramento, material, educação, pessoal, infraestrutura e interoperabilidade (DOAMEPII) em vigor (BRASIL, 2021 e 2024).

Segundo o Gen Ex GUILHERME, Cmt Mil N, a CORE 23 ampliou a compatibilidade operacional ao estimular a troca de know-how em treinamentos e protocolos de combate com a potência norte-americana, facilitando também a adaptação aos padrões da OTAN (PINHEIRO, 2023). Esta Operação empregou tropas da 23ª Bda Inf Sl, COpEsp, Bda Inf Pqdt, e CAvEx, COTER e com apoio de outros Cmdo, ODS, e foi veiculada por diversos meios do CMN, na imprensa nacional e internacional.

A comunicação social eficiente foi o desafio desse Exercício, devido à dificuldade em veicular as matérias e produtos em tempo real, para que se mantivesse a tempestividade, premissa da comunicação. Assim, foi necessário planejamento detalhado, determinando os objetivos informacionais, possibilidade de integração das Capacidades Relacionadas à Informação (CRI), públicos-alvo, ideia-força, mídias a serem utilizadas e o estado final desejado (EFD).

Observa-se que o nível de engajamento variou de acordo com a mídia, público-alvo e celeridade com que o conteúdo chegou ao seu público de destino. Destarte, a Com Soc na CORE foi diversificada e descentralizada, principalmente pelas caraterísticas do ambiente operacional e concomitância de atividades. Houve, também, emprego de correspondentes de guerra e atividades de simulação virtual, por meio de equipamentos DSET da SAAB.

As mídias digitais sociais são ferramentas poderosas para a comunicação social nas operações militares. Plataformas como Facebook, X e Instagram permitem que as Forças Armadas alcancem público amplo e diversificado. O alcance é determinado pela quantidade de pessoas que determinada publicação atingiu e o engajamento envolve a interação com o público por meio de postagens, comentários e compartilhamentos, criando um diálogo direto e instantâneo.

O modelo Reach, Act, Convert, e Engage (RACE, sigla em inglês) propõe que o engajamento em mídias sociais deve ser avaliado por meio de uma relação proporcional entre interações e alcance. A letra “R” traduz o engajamento, na qual defendem que métricas como curtidas, comentários e compartilhamentos, quando comparadas ao número total de seguidores, oferecem um diagnóstico mais preciso do que meras quantidades absolutas. A Taxa de Engajamento (TE) = (∑ interações/ seguidores) x 100. Taxas superiores a 3% indicam conexão efetiva com o público, enquanto valores abaixo de 1% apontam para a necessidade de revisão estratégica. (CHAFFEY e ELLIS-CHADWICK 2022).

Ademais, a letra “A” do acrônimo traduz alcance, que é a relação entre pessoas que viram o conteúdo e quantidade de seguidores da referida rede social, por meio da fórmula: Taxa de Alcance (TA) = (Número de pessoas que viram o conteúdo / Total de seguidores) × 100). Essa fórmula mede a capacidade do conteúdo de ultrapassar a base de seguidores e acima de 300% de resultado no referido índice indica alta viralidade (CHAFFEY e ELLIS-CHADWICK 2022).

Diante do exposto, na rede social Instagram, o total de contas alcançadas foi 323.386. Outrossim, no período avaliado, o número de seguidores era de 45 mil, considerando as mídias do CMN e da 23ª Brigada de Infantaria de Selva.

Houve postagem sobre o Exercício de Vida e Combate na Selva (EVCS) no Instagram do CMN, a qual obteve os seguintes resultados: 189.461 contas alcançadas; 370.125 reproduções; 397h 36 min 42 de tempo total de visualização; 5140 curtidas; 1 comentário; 136 salvamentos e 199 compartilhamentos.

Dessa forma, sobre a foto Nr 1, a TA = (189.461/ 45.000) x 100 = 421,02%. Esse valor é muito acima do valor sugerido como de alto alcance (300%). Assim, essa mídia social teve alcance excepcional para os dados em comento.

Portanto, as interações representam a soma das curtidas, comentários, salvamentos e compartilhamentos. A TE = (∑ interações/ seguidores) x 100:. TE = (5.476/45.000) x 100 = 12,16%, valor muito acima daquele índice de 3%, o que lhe confere grande interesse real dos participantes pelo produto divulgado.

3. CONCLUSÃO

Infere-se que a experiência da CORE 23 evidencia a importância de parcerias estratégicas com outras forças armadas e o uso de tecnologias inovadoras para superar as limitações logísticas e tecnológicas da Amazônia.

A integração entre a Comunicação Estratégica e as atividades de Operações Psicológicas, de Informação e de Inteligência se mostrou fundamental para a construção de uma narrativa coerente e eficaz, capaz de alcançar os objetivos informacionais da Operação.

A priorização do Instagram, dentre outras, aliada às estratégias de mitigação das dificuldades de infraestrutura e acesso à informação, permitiu alcançar um nível de engajamento e alcance considerados acima do esperado.

Assim, a análise das limitações e peculiaridades na execução da CORE 23 permitirá o aperfeiçoamento das estratégias de comunicação para futuras operações militares na Amazônia e outros ambientes operacionais, contribuindo para a eficácia e fortalecimento da imagem do EB. A utilização de ferramentas de análise de dados e métricas de engajamento é crucial para a avaliação contínua e a melhoria das ações de comunicação social, tal qual foi observado no engajamento acima do esperado no Instagram, um dos veículos de mídias digitais utilizados para divulgação dos produtos da referida Operação.

4. REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Defesa. EB20-MF-03.103: Fundamentos de Comunicação Social. 2. ed. Brasília, DF: Estado-Maior do Exército, 2017.

BRASIL. Ministério da Defesa. EB70-MC-10.210: Operações na Selva. 1. ed. Brasília, DF: Estado-Maior do Exército, 2023.

BRASIL. Portaria-C Ex nº 2.324, de 13 de setembro de 2024. Aprova a DAEBAI (EB10-D01.006). 4. ed. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2024.

BRASIL. Portaria-EME/C Ex n° 310, de 22 de janeiro de 2021. Aprova a Diretriz de Preparo, Planejamento, Coordenação e Execução dos Exercícios Combinados de Rotação – Brasil–Estados Unidos da América –Exercícios CORE (EB20-D-03.045). 4. ed. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2021.

CHAFFEY, Dave; ELLIS-CHADWICK, Fiona. Marketing Digital. 8. ed. São Paulo: Bookman, 2022.

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Department of the Army. FM 3-61: Public Affairs Operations. 1. ed. Washington, DC: Headquarters, 2014.

FREITAS, C. R. Comunicação em comunidades amazônicas: um estudo de caso. Amazônia em Foco, v. 8, n. 1, p. 56-72, 2020.

PINHEIRO, L. Guilherme C. Southern Vanguard 24 fomenta parceria Brasil-EUA e aumenta interoperabilidade. Revista Diálogo Américas, 2023. Entrevista concedida à revista.

SANTOS, R. C. A precariedade da infraestrutura de comunicação na Amazônia. Revista de Estudos Amazônicos, v. 6, n. 1, p. 112-127, 2021.

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