O Quadro de Material Bélico em Santa Maria (RS) e a manutenção do poder de combate da 6ª Brigada de Infantaria Blindada

Autores: Gen Bda André Dias Cel Idunalvo Mariano de Almeida Júnior
Quinta, 30 Outubro 2025
Compartilhar

O Quadro de Material Bélico (QMB) do Exército Brasileiro é de natureza logística e técnica, constituindo-se em peça-chave para a sustentação e o sucesso das missões da Força Terrestre. Com a atuação voltada para a gestão e a manutenção de recursos materiais imprescindíveis, em qualquer tempo e ambiente operacional, sua trajetória remonta às primeiras estruturas logísticas militares do Brasil colônia. O Tenente-General Carlos Antônio Napion, seu patrono, nasceu em Turim, em 30 de outubro de 1757, e chegou ao Brasil em 1808, junto com a família real portuguesa. Militar, engenheiro e técnico especializado na área de Material Bélico, deixou um legado inestimável que o consagra como uma das figuras mais relevantes para a modernização da logística e da indústria bélica do País àquela época.

Com o passar do tempo, o QMB foi adquirindo uma importância crescente, em razão da evolução tecnológica e das demandas relacionadas aos grandes conflitos mundiais, notadamente a 2ª Guerra Mundial. Mais recentemente, teve o seu protagonismo confirmado na Guerra do Golfo, em 1990-91, e tem sido empregado em grande medida na Guerra da Ucrânia, iniciada em 2022 e ainda ativa. Todos esses acontecimentos ressaltam, de maneira inequívoca, a ideia da logística militar como um fator decisivo para a sustentação do combate, reforçada pelo atual ambiente complexo, incerto, volátil e ambíguo, com prognósticos pouco alentadores.

O QMB abrange uma gama diversificada de atividades de apoio logístico, cuja responsabilidade é gerir o ciclo de vida de diferentes materiais, fundamentais para o Exército em tempo de paz ou de guerra. São exemplos disso os armamentos, as viaturas (automóveis, blindadas e de engenharia), as aeronaves de asa rotativa e os instrumentos de observação e direção de tiro. A consequente elevada exigência faz com que o integrante desse Quadro seja um militar com formação técnica de alta qualidade, preocupado permanentemente em se autoaperfeiçoar e com capacidade de adaptação às constantes inovações tecnológicas e desenvolvimentos científicos.

A 6ª Brigada de Infantaria Blindada – Brigada Niederauer (6ª Bda Inf Bld), subordinada à 3ª Divisão de Exército – Divisão Encouraçada (3ª DE), possui a maioria dos seus meios em Santa Maria (RS)1. Fora da sede, estão três de suas doze Organizações Militares (OM): o 7º Batalhão de Infantaria Blindado, o 4º Regimento de Carros de Combate e o 12º Batalhão de Engenharia de Combate Blindado, localizados, respectivamente, em Santa Cruz do Sul, Rosário do Sul e Alegrete, todos municípios do Estado do Rio Grande do Sul (RS).

A Brigada Niederauer, tradicional no Exército Brasileiro, é uma das principais peças de manobra da Força Terrestre. Está sempre pronta para atuar com rapidez, precisão, violência e ação de choque. Em razão dos meios que possui e do elevado nível de preparo alcançado, coloca à disposição do escalão decisor capacidades bastante peculiares e efetivas. Seus recursos humanos, instruídos e adestrados para trabalhar com iniciativa, flexibilidade e adaptabilidade, são treinados para agir conforme a intenção do comandante e o propósito das tarefas, compreendendo, com clareza e profundidade, o estado final desejado para cada missão. Trata-se, pois, de uma estrutura pesada, porém dotada de grande mobilidade tática, potência de fogo e proteção blindada, que lhe permitem executar operações continuadas, ofensivas e defensivas, com vocação permanente para o emprego decisivo nas operações

Na área da 6ª Bda Inf Bld, existem três OM logísticas, nas quais é marcante a presença de militares do QMB: o Parque Regional de Manutenção da 3ª Região Militar (Pq R Mnt/3) e o 4º Batalhão Logístico (4º B Log), ambos em Santa Maria, assim como a 13ª Companhia Depósito de Armamento e Munição (13ª Cia DAM), em Itaara2. O 4º B Log, OM orgânica da 6ª Bda Inf Bld, possui um complexo de 10 oficinas, que apoiam diretamente a manutenção da disponibilidade dos materiais bélicos de uma brigada com enorme poder de combate, atuando no 2º escalão e em todas funções necessárias para manutenção e o incremento da prontidão logística.

O Pq R Mnt/3, por sua vez, é responsável pela manutenção de 3º escalão dos materiais de emprego militar das OM da área da 3ª Região Militar (3ª RM), que engloba a 6ª Bda Inf Bld. Possui uma tropa altamente especializada na manutenção de blindados, incluindo a denominada família “A” Leopard3. Nessa família, em específico, a manutenção é aprofundada até o 4º Escalão, com a possibilidade de revitalização e modernização dos blindados. Além disso, realiza trabalhos de reparação de alta complexidade em equipamentos eletrônicos, que são essenciais ao combate moderno.

Atualmente, o Pq R Mnt/3 também passou a desenvolver a manutenção e a fosfatização de armamentos leves, elevando a capacidade operativa das tropas do Comando Militar do Sul, no RS. Ressaltam-se, ainda, os trabalhos de usinagem, de retífica e de manutenção de motores e caixas de mudança e transferência, executados em proveito de diversas viaturas. Essas tarefas, classificadas como atividades profundas do Teatro de Operações ou na Zona de Interior, beneficiam diretamente a 6ª Bda Inf Bld, que por meio do seu 4º B Log, estabelece e mantém importante elo com o Parque, doutrinariamente localizado à retaguarda dos campos de batalha.

Já à 13ª Cia DAM, cabe fazer o equilíbrio regional e operacional dos suprimentos Classe V (Munição e Armamento) na área Central e Oeste da 3ª RM (no RS), visando manter constante o fluxo desse suprimento para a 3ª DE, inclusive a 6ª Bda Inf Bld. Nessa dinâmica, será novamente por meio do 4º B Log que as demandas de munição e armamento das OM da Brigada Niederauer serão atendidas.

Por fim, é notório constatar que o 4º B Log, o Pq R Mnt/3 e a 13ª Cia DAM cumprem, com invulgar excelência, suas mais diversificadas missões, integrando e sincronizando ações com total sinergia, preservando e incrementando o poder de combate da 6ª Bda Inf Bld. Atuando na retaguarda ou em apoio direto às linhas de frente, caberá, por tanto, aos “matebelianos” de Napion, em Santa Maria e Itaara, assegurar, em boa medida, a ação proficiente da Brigada Niederauer, quando empregada.


 

Imagem 1 – Revitalização da VBC CC Leopard 1 A5 BR.

Imagem 2 – Manutenção do motor MBB352.

Fonte: Seção de Comunicação Social do Pq R Mnt/3.

Fonte: Seção de Comunicação Social do Pq R Mnt/3.

Imagem 3 – Manutenção na torre da VBC CC Leopard 1 A5 BR.

Imagem 4 – Distribuição de munição para as OM apoiadas.

Fonte: Seção de Comunicação Social do 4º B Log.

Fonte: Seção de Comunicação Social da 13ª Cia DAM.

 

1 Em Santa Maria, além do Quartel-General da 6ª Bda Inf Bld, estão localizadas mais nove OM pertencentes a essa Grande Unidade: o 29º Batalhão de Infantaria Blindado; o 1º Regimento de Carros de Combate; o 3º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado; o 4º Batalhão Logístico; a Companhia de Comando da 6ª Bda Inf Bld; o 6º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado; a 6ª Bateria de Artilharia Antiaérea Autopropulsada; a 3ª Companhia de Comunicações Blindada; e o 26º Pelotão de Polícia do Exército Mecanizado.

2 Itaara é um município distante 20 Km de Santa Maria.

3 Viaturas blindadas da Brigada Niederauer que compõe a espinha dorsal dos 1º e 4º Regimentos de Carro de Combate, do 12º Batalhão de Engenharia de Combate Blindado e da 6ª Bateria de Artilharia Antiaérea são da dita família “A” Leopard, em alusão à sua origem (Alemanha).

CATEGORIAS:
Geral Defesa
TAGS:

Comentarios

Comentarios

Kategorimeny

Artigos Relacionados