BATALHÃO MAUÁ O incontido e temerário “Ferrinho”

Autores: Flávio Augusto Nogueira Noronha
Sexta, 19 Setembro 2025
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Lao-Tsé, Aristóteles e Platão ensinam que uma longa viagem começa com um único passo, e que um bom começo é a metade do todo. Maio de 1934 idealizou; fevereiro de 1938 criou; e 29 de julho de 1938 comemorou o início da vida do 2º Batalhão Ferroviário, em direção a uma jornada ilimitada, no tempo, o que se deu na cidade de Rio Negro (antigo povoado da “Capela do Rio Negro”, “Capela Curada”, “Capela da Mata do Caminho do Sul”), nascida do pioneirismo de tropeiros desbravadores.

Seu nascimento deu-se para a realização de patriótica e grande missão: construir a infraestrutura entre Mafra e Rio Ponte Alta do Norte, e a superestrutura entre Mafra e Lages, em Santa Catarina, do trecho ferroviário chamado de “Tronco Principal Sul”, cujo objetivo era a ligação do Centro ao Sul do País, desbravando a Serra do Espigão, a Serrania do Felipe e os vales dos rios Canoas e Pelotas. Sob o comando do Ten Cel José Sérvulo de Borja BUARQUE, o efetivo de 11 oficiais e 17 praças – doadores à Pátria, se preciso, de suas vidas em prol de sua glória - deu início aos trabalhos do Batalhão, tendo estes e seus bravos sucessores percorrido 26 anos de labor, até o cumprimento da missão estabelecida.

Em meio à sua jornada, no ano de 1951, por decreto presidencial de Getúlio Vargas, recebeu a denominação histórica de Batalhão Mauá, assim batizado em homenagem a Irineu Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá, homem cujas características em tudo eram comparáveis às do 2º Batalhão Ferroviário e às de seus integrantes civis e militares, destacando-se o dinamismo, a genialidade, a visão de futuro, o espírito de abnegação e o empreendedorismo, a têmpera de aço, a audácia, a coragem e o amor ao trabalho. Sem dar-se conta de uma feliz coincidência, o Batalhão sempre pautou sua atuação com base em preceito de Leonardo da Vinci, para quem “o trabalho perfeito, mesmo depois da morte de seu realizador, permanece”.

Ato contínuo, ao final dos trabalhos no Tronco Principal Sul, ainda em 1964, nova empreitada foi conferida ao incontido e temerário “Ferrinho”, o que compreendia a sua mudança para Araguari(MG), nos termos de dois decretos editados pelo então Presidente Humberto de Alencar CASTELO BRANCO, diante das necessidades de um Brasil que urgia por expandir sua malha ferroviária em direção ao Centro-Oeste e à nova Capital Federal, como forma eficaz de viabilizar Brasília, promover a circulação de riquezas e a integração nacional, pela irradiação de desenvolvimento e de progresso a partir do Planalto Central Brasileiro, tornando próspero o Triângulo Mineiro, e mais rica, mais forte e mais feliz, a Nação, como idealizaram Francesco Tosi Colombina, José Bonifácio de Andrada e Silva, João Lustosa da Cunha Paranaguá, Francisco Adolfo de Varnhagen, Floriano Peixoto, Louis Ferdinand Cruls, Djalma Polli Coelho, José Pessoa e Café Filho, e implementou, por meio de perseverança e incontida vontade política, o Presidente Juscelino Kubitscheck, sendo todos estes nomes exemplos práticos da fala de Getúlio Vargas, para quem “o ideal é ainda a alma de todas as realizações” e do dito popular no sentido de que “sem desafios, não há evolução”.

A incumbência conferida ao Batalhão Mauá foi a de construir o trecho ferroviário Uberlândia-Araguari-Pires do Rio, que ligaria Uberlândia a Brasília, e a de executar trabalhos complementares de infraestrutura e de superestrutura no trecho Pires do Rio-Brasília. Diante das incertezas e temores ocasionados nos militares e nos civis pela mudança de Rio Negro, cidade que tanto amavam, o então Comandante, Cel Ênio dos Santos Pinheiro, relembrou a todos, na última formatura lá realizada, a gloriosa trajetória de serviços de excelência prestados pela Unidade, ao Exército e ao Brasil, nos 26 anos passados, e, certamente por conhecer a fala do filósofo Aristóteles, para quem “a coragem é a primeira das qualidades humanas, porque garante todas as outras”, conclamou a cada um a tomada de postura de altivez, o que fez mediante os seguintes dizeres, proferidos em fortes brados: “Levantai a cabeça, soldado do Batalhão Mauá! Acabais de cumprir brilhantemente uma missão e iniciais uma outra que, certamente, será cumprida com o mesmo brilho! Sede felizes. O Exército e a Nação muito esperam de vós”. Sua fala, como todos podem hoje constatar, foi profética.

A nova cidade-sede, que contava com quatro distritos (Araguari, Amanhece, Florestinha e Piracaíba), recebeu a visita de contingentes precursores para a mudança, denominados de “Grupo Coordenador da Mudança” e “Escalão Avançado de Araguari-ESCAVA”, e elogios do novo comandante do Batalhão, o Cel TOURINHO, segundo o qual tratava-se de boa cidade, com bom clima e localização, instalações e água excelentes.

Em 10 de maio de1965, decretado como feriado municipal, marcou a chegada a Araguari, ao final da tarde, na Estação Ferroviária da Goiás, do comboio formado pelo 1º. Contingente Agrupado do 2º. Batalhão Ferroviário, recepcionado por multidão em êxtase, liderada pelo então, Miguel Domingos de Oliveira, cuja alegria era diretamente proporcional às expectativas de progresso para a cidade anfitriã.

De plano, recebeu sua primeira turma de soldados, denominada de “B65”, e, do Exército Brasileiro, a “Insígnia da Ordem do Mérito Militar”, distintiva láurea em reconhecimento por tudo o que significou de qualidade de trabalho no Tronco Principal Sul, e como incentivo à nova atuação no Planalto Central Brasileiro, região que, segundo definição do escritor Euclides da Cunha, "...desce, nos litorais do Sul, em escarpas inteiriças, altas e abruptas. Assoberba os mares; e desata-se em chapadões nivelados pelos visos das cordilheiras marítimas, distendidas do Rio Grande a Minas. Mas ao derivar para as terras setentrionais diminui gradualmente de altitude, ao mesmo tempo que descamba para a costa oriental em andares, ou repetidos socalcos, que o despem da primitiva grandeza, afastando-o consideravelmente para o interior".

De Rio Negro vieram autênticos troféus históricos dos primórdios do Batalhão, deixando seu rastro de fumaça nos ares: as locomotivas Rio Negro 1 e Paraguaçu 3, que estão postadas destacadamente neste Quartel, e a Mafra 2, que serve de memorial à cidade de Pires do Rio(GO). Portadoras que foram de boas novas de diversos e distantes rincões, hoje são símbolos imponentes da rica história dos 87 anos do Batalhão do Visconde de Mauá.

Os últimos 60 anos moldaram este “construtor do progresso e para a vitória”, o qual ostentou por mais de 16 anos o nome de 11º Batalhão de Engenharia de Construção, haja vista a diversificação de suas atividades, que o tornaram, além de bandeirante levando a ferrovia e obras de arte em engenharia em seus percursos de esteiras de dormentes, com trilhos inclementes, sobre selvas, planícies ou por cima do alcantil , um construtor de rodovias, de obras hídricas, de aquartelamentos e de outras e diversas por todo o País, pronto para atuar sob fogo inimigo, em apoio à tropa amiga na missão, para a glória do Brasil, pautado no lema “O trabalho honrado tudo vence”. De 2015 até a presente data, viu-se restituído de seu histórico nome: “2º Batalhão Ferroviário”.

Atualmente, com sua excelência em construir, consolidada e reconhecida mundialmente, continua, com obstinação, nestes tempos de paz, a lutar e trabalhar, sem cessar, como pioneira que é de um Brasil mais forte, firme nos ensinamentos de Theodore Roosevelt, para quem “de longe, o maior prêmio que a vida oferece é a chance de trabalhar muito e de se dedicar a algo que vale a pena”; e focado na verdade das palavras do general, estrategista e filósofo militar chinês, Sun Tzu, o qual ensina que “...na paz, devemos nos preparar para a guerra; e na guerra, prepararmo-nos para a paz, eis que “o verdadeiro objetivo da guerra é a paz”.

Para finalizar, um “retrato”, em letras, do Batalhão formado pelos lemas parafraseados dos onze Batalhões de Engenharia de Construção do Brasil, e dos dois Ferroviários o qual tem o condão de apresentar, como se fosse uma fala dos militares e civis que o compõem, o que é e o que significa essa octogenária OM para a Força Terrestre, para Araguari e, muito especialmente, para o desenvolvimento do nosso amado Brasil.

Com “braço forte e mão amiga” “o Mauá constrói”. “Nós fazemos” “a mais bela batalha do mundo”, porque “combatemos construindo”. Aprendemos, pela tradição desses 87 anos de existência, que “o trabalho honrado tudo vence” e que “quanto maior o desafio e mais difícil a missão, melhor.” Como “tudo que deve ser feito, merece ser bem feito”, nossas forças são conjugadas “ao braço firme”, cientes de que “o suor poupa o sangue” e de que “a força da nossa união é a união de todas as nossas forças”. Por isso, bradamos com o máximo dos nossos pulmões:

P’ra frente lutar!”

Avante remar!”

Mauá!

Brasil acima de tudo!”.

Parabéns, Batalhão Mauá!

FONTES DE CONSULTA:

Livro Batalhão Mauá – Uma História de Grandes Feitos – Edmar César, 3ª. Edição

Livro Comando Militar do Planalto na Interiorização da Capital, de Flávio Noronha e Luiz Augusto Rocha Nascimento.

https://www.araguari.mg.gov.br/noticias/araguari-129-anos-de-desenvolvimento

http://www.dec.eb.mil.br/index.php/en/

https://1bec.eb.mil.br/

https://2bec.eb.mil.br/

https://3bec.eb.mil.br/

https://4bec.eb.mil.br/

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https://8bec.eb.mil.br/

https://9bec.eb.mil.br/

https://1bfv.eb.mil.br/

http://www.2bfv.eb.mil.br/index.php/pt/

https://unifei.edu.br/personalidades-do-muro/extensao/visconde-de-maua-irineu-evangelista-de-sousa/

https://www.ebiografia.com/barao_maua/

https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2021/02/4905144-obras-do-exercito-pelo-pais-sao-alavanca-militar-para-infraestrutura.html

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937 1946/del3864.htm#:~:text=As%20For%C3%A7as%20Armadas%20constituem%2C%20em,o%20exerc%C3%ADcio%20dos%20poderes%20constitucionais

https://portal.tcu.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A8182A24F0A728E014F0B1F79C74B59

https://www.metapolitica.com.br/2022/05/12/o-papel-constitucional-das-forcas-armadas/

https://www.pensador.com/frase/MjE5MjEwOQ/

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História

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