As enchentes no Sul e o desequilíbrio ecológico

Autores: Ricardo Raele
Sexta, 27 Setembro 2024
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Eu vou tentar explicar nesse artigo uma ideia simples de como a destruição dos ecossistemas naturais podem gerar tragédias ambientais. O artigo trata de ecologia, teoria de sistemas e as enchentes no Rio Grande do Sul.

 

O que é um sistema?

A noção do que é um sistema vai muito além do senso comum que a maioria das pessoas tem sobre sistemas de computadores. Os sistemas de computadores, na verdade, são um tipo de sistema que lida com a informação principalmente em circuitos e silício. Mas a primeira concepção de sistema não é inorgânica, e não está ligada aos computadores necessariamente. A visão sistêmica nasceu na biologia. Claro, o cristal de DNA contém informação que controla a si mesma no processo de formação de proteínas.

Sistemas são conjuntos de partes ligadas que interagem e controlam a si mesmos.

Outro conceito que eu gostaria de introduzir é o de hierarquia de sistemas. Nos sistemas vivos – os mais complexos que existem – os sistemas se organizam em subsistemas e suprassistemas. Por exemplo: nas células o PH do meio é regulado por proteínas e sensores nas membranas… Um pequenino sistema. Juntas, as células formam tecidos, como o tecido neural, e assim também os órgãos, onde cada órgão é um sistema que cumpre uma função, interage e se comporta em relação aos outros órgãos, formando um organismo vivo. Outra hierarquia. Os organismos vivos formam sociedades, populações, que através de sinais comunicativos regulam seu comportamento conjunto.

Quando todos os sistemas populacionais de uma região geográfica interagem em um conjunto, temos um ecossistema. Que não só é composto de organismos, mas que também comporta fatores inorgânicos. Solo, água, temperatura, radiação solar, etc.

Quando há mais chuva e comida, as populações crescem. Se há seca, as populações diminuem. Às vezes, espécies invasoras mudam completamente o cenário de um ecossistema, enfim, há um todo dinâmico na biosfera.

Esse é o segredo que mantém a vida na biosfera. Os ecossistemas se auto regulam e, nesse processo, cada parte do ecossistema, ou seja, subsistema, em todas as hierarquias, absorvem as mudanças e respondem a elas. É assim que a vida se mantém viva.

Se há seca, uma série de comportamentos mudam. Hábitos diurnos passam a ser noturnos, as populações perdem peso e as células mudam a carteira de proteínas expressas geneticamente… Há um esforço de cada população, cada animal, cada célula para absorver as mudanças, a fim de manter as condições ótimas dos organismos. A capacidade de absorver impactos desse tipo chama-se resiliência. Pois, há uma tendência em ecossistemas biodiversos e bem estruturados (com organismos sadios e bem-adaptados) a ter uma alta capacidade de resiliência.

Quando um ecossistema é destruído, a parte inorgânica desse ecossistema é afetada. Há um desequilíbrio, por exemplo, na quantidade de água que está nos vegetais e no solo em relação ao que está no ar.

Todo mundo sabe que umidade da Amazônia gera correntes de água na forma de nuvens, e essas nuvens se transformam em chuva no frio do sul do País. Os chamados rios aéreos…

A pergunta que fica é: será que os desmatamentos, a poluição, a urbanização descontrolada e a impermeabilização do solo contribuíram para a tragédia das enchentes no sul?

Essa pergunta parece ter uma resposta simples (sim), mas não é tão simples assim. Isso porque as variações climáticas extremas são algo natural do clima do planeta.

Talvez, a destruição ecológica agrave essas tragédias, e as torne mais frequentes. Isso é sensato dizer. Não como causa única, mas como fator agravante. Claro, os ecossistemas forçam os fatores ambientais a números agradáveis à vida. Temperatura, umidade… A vida natural regula o meio ambiente a seu favor. Sem a vida regulando e absorvendo as variações climáticas, a tendência é que as variações sejam mais graves.

De fato, o que os ecologistas podem dizer é que preservar a vida é um seguro a mais para manutenção das condições ótimas de funcionamento da biosfera. E que após eventos climáticos extremos, a vida intacta estará muito mais forte para recuperar os danos e as perdas de uma tragédia ambiental*

 

 

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*Existe um ponto, entretanto, interessante nessa discussão, que dialoga com a teoria do caos. Muitas pessoas já ouviram falar no exemplo dado de que o efeito de um bater de asas de uma borboleta na Califórnia pode gerar uma tempestade em Pequim. Em tese isso é possível. Porque dentro das hierarquias de sistemas, esse bater de asas pode gerar ressonâncias harmônicas que acabam em uma reação em cadeia. Como isso funciona e a relação disso com a destruição ambiental é desconhecido pela ciência.

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Meio Ambiente

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