80 anos do Batismo de Fogo da FEB

Autores: Coronel R1 Carlos Mário de Souza Santos Rosa
Quarta, 30 Outubro 2024
Compartilhar

Monte Bastione, norte de Lucca, Toscana, 14 horas e 22 minutos do dia 16 de setembro de 1944.

- Peça pronta!- grita o sargento de Lima.1

- Peça pronta! - Peça Fogo!-- responde e a seguir ordena o Ten Grisolia.2

As mãos do Cabo Adão3 puxam a corda do mecanismo de disparo da 2ª peça, da 1ª Bia4 do 2º Grupo de Artilharia5 do 1º Regimento de Obuses Auto-Rebocado.

O obuseiro lança seu obus na direção de Massarosa, localidade ocupada pelos alemães.

O Brasil começava a vingar os mortos dos navios torpedeados dois anos antes.

Antecedentes

Do dia em que o submarinista Harro Schacht, Comandante do submarino U-507, torpedeou o vapor Baependy, na altura da foz do Rio Real, na divisa entre Sergipe e Bahia6 até o momento em que o Cabo Adão disparou o primeiro tiro contra uma posição alemã na Itália, haviam se passado 760 (setecentos e sessenta) dias, preenchidos com manifestações populares, declaração de guerra, criação da Força Expedicionária Brasileira (FEB), designação do seu comandante, mobilização de homens e meios, concentração de tropas, instrução e transporte para o Teatro de Operações e o desembarque do 1º Escalão, com 5075 (cinco mil e setenta e cinco) sob o comando do General Mascarenhas de Moraes, no porto de Nápoles, em 16 de julho de 1944.

Após o desembarque, o contingente brasileiro estacionou no subúrbio napolitano de Bagnoli, de onde seguiu para Tarquínia, ao norte de Roma, lá se estabelecendo a partir de 5 de agosto, oportunidade em que começou a receber material e equipamento e foi incorporada oficialmente ao V Exército e, de onde partiria em 18 do mesmo mês, para Vada, mais ao norte, onde efetivamente a tropa se instruiu.

Naquele sítio, depois da avaliação feita por observadores de conduta norte-americanos, no exercício de longa duração realizado nos dias 9 e 10 de setembro, os brasileiros foram julgados aptos para combater.

O início das operações

A primeira tropa brasileira a cumprir missão de combate, justiça lhe seja feita, foi a 1ª Companhia do 9º Batalhão de Engenharia (1ª Cia do 9º BE), que desde 6 de setembro operava uma ponte ao norte do rio Arno.7

Um grupamento tático foi constituído por integrantes do 1º Escalão de Embarque, o Destacamento FEB, sob o comando do Gen Zenóbio da Costa, composto pelo 6º Regimento de Infantaria, 2º Grupo de Artilharia do 1º Regimento de Obuses Auto-Rebocado, a já citada 1ª Cia do 9º BE, a Companhia de Evacuação do 1º Batalhão de Saúde, a Companhia de Manutenção, um pelotão de Transmissões, um Reconhecimento, pelotão de Intendência, um pelotão de Polícia e um pelotão de Sepultamento, totalizando 4.568 (quatro mil, quinhentos e sessenta e oito) homens, reforçados por duas companhias de blindados e um pelotão de transmissões norte-americanos,8 que recebeu a ordem de deslocar-se na noite de 13 de setembro para uma zona de reunião ao sul de Pisa.

Lá chegando, quase imediatamente recebeu ordem do IV Corpo de Exército, escalão do V Exército que o enquadrava, para:

- substituir elementos do II/370º RI e do 434º Batalhão de Artilharia Antiaérea9 às 19 h de 15 de setembro;

- manter contato com o inimigo e sondar-lhe o dispositivo por meio de ação de patrulhas e caso o mesmo se retire, persegui-lo mediante ordem; e

- manter contato com a 1ª Divisão Blindada, que operava a leste.

Nos 11 (onze) dias subsequentes, o Destacamento FEB cumpriria a contento todas as missões que lhe foram confiadas, conquistando as localidades de Massarosa, escopo do primeiro tiro de artilharia da FEB, e Bozzano, no dia 16 de setembro, Camaiore, no dia 18 10 e fechando a 1ª fase da manobra, Monte Prano, no dia 26, com um saldo de 31 (trinta e um) prisioneiros e um avanço de 18 km, ao preço de 5 (cinco) mortos e 17 (dezessete) feridos.

Com essa atuação, a FEB ganhou confiança, angariou respeito e admiração das demais tropas presentes no Teatro de Operações, sendo em seguida, direcionada a novas missões, primeiro no Vale do rio Sercchio e mais tarde no vale do Reno, junto ao primeiro time do V Exército, onde jornadas difíceis memoráveis se dariam.

A cobra começara a fumar.


 

REFERÊNCIAS

DIAS, André e CAMPIANI, César. O batismo de fogo da FEB: 1ª fase de operações na Bacia do Serchio. Casa da FEB. 2024. Disponível em https://www.casadafeb.com/_files/ugd/38b2a9_21fe95e4bffd4693968293aa05a523d1.pdf?index=true

MORAES, João Batista Mascarenhas de. A FEB pelo seu Comandante: Rio de Janeiro. BIBLIEx,2005

MORAES, João Batista Mascarenhas de. Memórias: Rio de Janeiro. BIBLIEx,2014.

Pereira, Durval Lourenço. O Primeiro Tiro de Artilharia da FEB. Memorial da FEB. 2011. Disponível em:

https://memorialdafeb.com/2011/06/10/o-1%C2%BA-tiro-de-artilharia-da-feb/


 

1 Chefe da 2ª Peça (peça diretriz), Sargento Miguel Ferreira de Lima.

2 Comandante da Linha de Fogo, 1º Ten R/2 Alceu Grisolia

3 Cabo Adão Rosa da Rocha, C2 (atirador) da 2ª peça.

4 Comandante da 1ª Bateria de Obuses era o Capitão Mário Lobato Valle.

5 Comandado pelo Coronel Geraldo Da Camino.

6 15 de agosto de 1942.

7 MORAES, João Batista Mascarenhas de, Memórias:Rio de Janeiro.BIBLIEx,2014, p. 201-202.

8 MORAES, João Batista Mascarenhas de, A FEB pelo seu Comandante: Rio de Janeiro. BIBLIEx,2005,p.73

9 Ambos estadunidenses.

10 Em homenagem ao feito, os constituintes de1946 escolheram a data, como data para promulgarem a novel constituição, naquele ano.

CATEGORIAS:
História
TAGS:
#feb,

Comentarios

Comentarios

Excelente artigo, e elaborado com muita informação de conhecimento.

Parabens, belissima materia so a FEB . 

Excelente caro amigo Cel Carlos Mário!

Parabéns pelo artigo que posdui grande valor historico.

Kategorimeny

Artigos Relacionados