“TRÊS HERÓIS BRASILEIROS” - 2ª GUERRA MUNDIAL

Autores: Flávio Augusto Nogueira Noronha
Quarta, 12 Março 2025
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Em 31 de agosto de 1942, poucos dias após o torpedeamento, pelos alemães, na costa brasileira, dos navios “Baependi”, “Araraquara”, “Aníbal Benévolo”, “Itagiba” e “Arará”, provocador da morte de centenas de civis, o Brasil declarou estado de guerra contra as nazifascistas Alemanha e Itália, o que deflagrou, em 9 de agosto de 1943, a criação da Força Expedicionária Brasileira, abrangente das forças brasileiras de terra, mar e ar, e o envio de 25.334 homens e mulheres ao solo italiano, sob o comando do General Mascarenhas de Moraes.

O desembarque ocorreu entre os meses de julho e novembro de 1944, e em fevereiro de 1945, em cinco escalões, sob o comando, respectivamente, dos Generais Euclides Zenóbio da Costa, Osvaldo Cordeiro de Farias, Olímpio Falconière da Cunha, do Cel Mário Travassos, e do Ten Cel Ibá Jobim Meireles. A Força Aérea Brasileira (FAB) deslocou-se para a Itália no início de outubro de 1944, com cerca de quatrocentos homens, comandados pelo Maj Nero Moura.

A FEB, com sua 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, integrou o IV Corpo do Exército Estadunidense, sob o comando do Gen Crittenberger - subordinado ao V Exército Norte-Americano, dirigido pelo Gen Mark Clark - inserido no XV Grupo de Exércitos Aliados. Estes, compostos precipuamente, por tropas soviéticas, inglesas, norte-americanas e chinesas.

Dentre milhões de combatentes, três pracinhas mineiros teriam se destacado heroicamente, mostrando, em Montese, aos que maldosamente desdenhavam da FEB, que os brasileiros eram inatos e destemidos infantes.

Sempre pairaram dúvidas sobre a veracidade da história que aqui será contada, a qual firmou-se ao longo dos anos, eis que repetida desde o retorno das tropas ao Brasil, até a presente data, além de constituir-se como letra de música cantada por uma banda de rock’n’roll da Suécia, conhecida mundialmente. Hoje, prevalece a certeza de tratar-se de mito

A bela narrativa, consolidada pelas quase oito décadas de pós-guerra, sugere que os FEBianos Arlindo Lúcio da Silva, Geraldo Baêta da Cruz e Geraldo Rodrigues de Souza - homens simples e patriotas, enviados pelo 11º Regimento de Infantaria de São João Del Rey-MG, denominado de Regimento Tiradentes –, por atos de destemor e bravura, enfrentaram uma Companhia Alemã, causando a esta grandes baixas, até que, sem munição e lutando unicamente com suas baionetas caladas, perderem as suas vidas.

Em momento crucial da Guerra, Mascarenhas de Moraes conferiu à FEB a especial missão de capturar Montese, o que possibilitaria aos aliados grande evolução em solo italiano, trilhando o caminho de Modena e Bolonha, até o Vale do Pó, impedindo que o Eixo novamente dominasse aquele região.

Com suas tropas já posicionadas, em 14 de abril de 1945, teriam os três mineiros saído em patrulha nas proximidades de Montese, caminhando entre montanhas e terras densamente minadas, quando, repentinamente, viram-se diante de soldados alemães – uma Companhia com 150 – o que deu início a um combate intenso e mortal, patrocinado por “lurdinhas” e “tedescos”, nomes dados aos conjuntos de guerra formados, respectivamente, pelas metralhadoras MG-42 e pelos alemães, seus portadores.

Sob fogo cerrado, contrariando o medo da morte e tomando a Pátria como norte, ao confronto os três pracinhas não se fizeram indiferentes. Seguiram adiante, no conturbado e sinuoso campo de batalha, em direção ao fogo das metralhas. Intimoratos, atiraram de forma hostil, mas estrategicamente, confundindo os alemães, os quais, pelo que se conta, julgavam enfrentar um batalhão inteiro naquele remoto lugar.

Após abaterem 45 tedescos, Arlindo e os dois Geraldos viram-se cercados, com sua posição atacada por granadas e saraivadas incessantes de tiros. Nesse meio caótico, de intenso combate, sob o enfrentamento de força amplamente superior, receberam voz de rendição, a qual foi solenemente ignorada. Mantiveram o embate, dando de si ao máximo, até ficarem sem qualquer munição.

Pelejaram até o derradeiro projetil disponível, o que neles não teria exaurido o combustível motivador e a razão maior de estarem naquele lugar: o patriotismo e o senso de cumprimento da missão que lhes fora conferida. Contrariando todas as expectativas, heroicamente calaram suas baionetas e seguiram contra o inimigo. Sob brutal desigualdade de forças, foram feridos mortalmente.

Teriam sucumbido diante de alemães atônitos, os quais julgavam estar combatendo um batalhão inteiro e não apenas três pracinhas, fato que relataram ao seu comandante, o qual, impressionado com a tão heroica atuação dos brasileiros, expositora de suas coragem, valentia, bravura e abnegação, que não se via igual em seus próprios guerreiros, tomou decisão que destoou da realidade daquele ambiente cruel e sangrento: em ato de respeito aos opositores abatidos naquela contenda, determinou que fossem eles acondicionados e enterrados à beira de uma estrada, como homens honrados, em vez de serem lançados a uma vala comum ou deixados ao léu, sem identificação ou reconhecimento.

Nos seus túmulos, teria ordenado o comandante alemão que três cruzes fossem cravadas, fazendo nelas constarem os dizeres “Drei Brasilianische Helden”, cuja tradução significa “Três Heróis Brasileiros”, para que seus nomes e suas atuações fossem honrosamente registrados. A partir de então e para a eternidade, como heróis são tidos e conhecidos pelos seus, pela pátria brasileira, pelos do Eixo, e pela história da 2ª Guerra Mundial.

Com o fim da conflagração, seus restos teriam sido trasladados para o cemitério de Pistoia, na Itália, e ali enterrados. Depois, para o Brasil, em 5 de outubro de 1960, foram repatriados – onde receberam, post mortem e in memoriam, honrarias, como as Medalhas de Campanha; Sangue do Brasil; e Cruz de Combate - estando hoje na belíssima Rio de Janeiro, no Monumento Nacional aos Mortos na 2ª Guerra Mundial, onde se juntaram a mais de quatrocentos outros heróis nacionais, que deram suas vidas pelo bem de toda a humanidade.

Não teriam eles visto cumprir-se a parte da Canção do Expedicionário, entoada no front, que dizia: “Por mais terras que eu percorra, não permita, Deus, que eu morra, sem que eu volte para lá”. Não voltaram vivos para o seu Brasil querido. Por outro lado, o povo brasileiro pôde ver realizado o restante da estrofe, ao presenciar o desembarque das tropas da FEB em solo nacional, trazendo como suas marcas o “V” que simbolizou a vitória dos Aliados e o emblema de uma cobra fumando, como resposta triunfal aos que maldosamente as criticaram, antes mesmo de sua saída para o teatro de guerra, profetizando que seria mais fácil uma cobra a um cachimbo fumar, do que as tropas brasileiras fazerem diferença positiva no Teatro de Guerra.

Estudiosos, de dedicação ímpar, têm-se debruçado sobre histórias de guerra brasileiras, buscando em fontes confiáveis as necessárias provas de suas ocorrências, como tem sido feito em relação a esta ora contada, mostrando-as como autênticas ou como inverídicas.

No caso da dos “Três Heróis Brasileiros”, descobriu-se que eles não serviam juntos em uma mesma unidade militar, apesar de pertencerem ao mesmo Regimento, o Tiradentes (Geraldo Baêta integrava o Destacamento de Saúde; Geraldo Rodrigues integrava a Cia de Obuses, do 3º Batalhão; e Arlindo, atirador de Fuzil Automático, integrava a 2ª Cia do 1º Batalhão); que suas respectivas unidades guardavam distâncias de muitos quilômetros entre elas; que morreram em datas e eventos diferentes dos noticiados na história repetida neste artigo (Geraldo Baêta morreu na explosão de uma granada, entre Motaurígula e as Fraldas de Montese; Geraldo Rodrigues morreu em Natalina; e Arlindo foi abatido por franco-atirador inimigo, em Montese); e que houve outros três praças brasileiros (Aristides José da Silva, José Graciliano Carneiro da Silva e Clóvis da Cunha Paes de Castro), integrantes da 5ª Cia do 1º Regimento de Infantaria, que perderam a vida juntos, em confronto nas proximidades de Precaria, meses antes, os quais foram, estes sim, enterrados por alemães e chamados por eles, em uma simples cruz de madeira, de “Três Bravos Brasil” (3 Tapfere Brasil – 24.1.1945).

Juntam-se a essas descobertas – frutos de registros e informações oficiais – uma série bem fundamentada de suposições que permitem concluir pela inveracidade da história contada há mais de setenta anos sobre os três heróis da FEB.

Arlindo e os dois Geraldos, do Regimento Tiradentes, são, sim, heróis brasileiros, como todos os demais que participaram da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, com o infeliz plus de terem perdido suas vidas em solo italiano, mesmo que em momentos distintos e desassociados dos narrados na história dos “Três Heróis Brasileiros”, a qual não ocorreu e na qual são tratados, fantasiosamente, como protagonistas.

Na Europa e para o Brasil, a 2ª. Guerra Mundial teve fim em 8 de maio de 1945, com a rendição da Alemanha. No Pacífico, seu fim foi registrado no dia 2 de setembro do mesmo ano, com a capitulação do Japão.

Citação contida em uma carta da lavra de Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, escrita há mais de dois séculos, é reveladora sobre o que faz prevalecer a mentira sobre a verdade e serve como fechamento provocador de reflexão para o presente artigo: “A mentira veste galas; a verdade, não. Esta, por inocente, preza-se de andar nua. Aquela, por maliciosa, procura enfeites, para parecer formosa”.

FONTES DE CONSULTA

  1. https://atlas.fgv.br/verbete/7792

  2. jornalismodeguerra.com/2020/10/07/diretoria-do-exercito-confirma-que-e-falsa-a-historia-dos-tres-de-montese/

  3. https://asegundaguerramundial.wordpress.com/tag/aliados-e-eixo/https://

  4. https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Versalhes_(1919)

  5. https://historiadomundo.uol.com.br/idade-contemporanea/tratado-versalhes.htm

  6. https://www.sohistoria.com.br/resumos/oquefoisegundaguerra.php

  7. https://www.todamateria.com.br/segunda-guerra-mundial/

  8. https://worldoftanks.com/pt-br/news/general-news/como-feb-foi-formada/

  9. http://www.portalfeb.com.br/armamento/feb-do-inicio-ao-fim/

  10. www.legiaodainfantaria.eb.mil.br/htm/feb-3heroisbrasileiros.php,

  11. https://fatosmilitares.com › Artigos, www.oarquivo.com.br › Temas Polêmicos › História e Cultura,

  12. https://portaldisparada.com.br/politica-e-poder/herois-brasileiros-segunda-guerra-italia-nazismo-nacionalismo/;

  13. https://aminoapps.com/c/.../os-3-herois.../4nxv_J1fvIoZvbgVrVwrG5XmPvbqlREgW;

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  15. http://www.portalfeb.com.br/longa-jornada-com-a-feb-na-italia-enfim-a-vitoria/

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  19. https://www.letras.com.br/hinos/cancao-da-infantaria

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  26. https://pt.wikipedia.org/wiki/Aliados_da_Segunda_Guerra_Mundial;

  27. Sala de Guerra - Canal do YouTube;

  28. https://memorialdafeb.com/2024/06/22/qual-e-a-origem-do-termo-pracinha/

CATEGORIAS:
História

Comentarios

Comentarios

Artigo interessante, parabéns.

Artigo interessante, parabéns.

Excelente e emocionante artigo. Parabéns!!!

Obrigado Flávio por publicar matérias que relatam fatos de nossos heróis, graças a você e outros  colaboradores estamos conhecendo um pouco mais sobre nossos heróis que defenderam bravamente com suas vidas pessoas que sofreram muito nas mãos de uma força inimiga e cruel.

Belíssimo Artigo abordando a história verdadeira dos heróis brasileiros.

Parabéns 👏! Artigo leve e esclarecedor da verdade.

Como sempre, um trabalho primoroso! IMPECÁVEL!

Excelente artigo! Sempre bom ler textos de qualidade aqui nesse blog. 

Excelente!!!!!!!

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