A geoinformação é, por definição, um conhecimento associado a coordenadas geográficas e tem o propósito de apoiar o processo decisório dos tomadores de decisão dentro da Força Terrestre. Historicamente, as cartas topográficas são um exemplo de geoinformação que têm fornecido o conhecimento do território aos militares do Exército, a fim de viabilizar missões de Preparo e Emprego.
Atualmente, o tema tem ganhado relevância com a disseminação do conceito de digitalização do espaço de batalha, ou seja, rede de sensores espalhados no ambiente operativo que contribuem com ferramentas de Comando e Controle nas missões. Neste ambiente, os militares podem utilizar um navegador do computador ou celular para acessar mapas interativos, visualizar dados sobre cidades, florestas, estradas e acompanhar operações em tempo real. Essa dinâmica é a proposta de um Sistema de Informações Geográfica para Web ou WebGIS, uma tecnologia que está mudando a maneira de visualizar e usar informações geoespaciais no dia a dia.
Com a popularização da internet a partir do fim do século XX, o sistema de informações pela Web tem possibilitado aos usuários o acesso e a interação com mapas, sem necessitar de programas técnicos de alta complexidade, popularizando a geoinformação para todos os tipos de usuários, desde governos a cidadãos comuns. Destaca-se a existência do sítio do Google Maps desde 2005, da empresa Google, como um exemplo de sistema de visualização de mapas que alcançou a preferência de clientes em todo o globo.
Um WebGIS é uma ferramenta poderosa que abrange diversas aplicações, tais como: gestão de cidades para identificar áreas de risco e planejar obras, monitoramento do meio ambiente no combate ao desmatamento e queimadas, análise de produtividade de lavouras e previsão de safras, assim como o uso em operações militares.
Em relação às operações, o Exército Brasileiro possui, desde 1890, o Serviço Geográfico do Exército, representado pela Diretoria de Serviço Geográfico (DSG). Essa organização militar, de elevada competência, capacidade técnica e experiência na área geoespacial, diretamente subordinada ao Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), tem como missão a produção de cartas topográficas e geoinformação básica para a caserna e à sociedade civil, além do desenvolvimento e a implementação de geotecnologias para ampliar as capacidades militares da Força.
A fim de promover o uso da geoinformação, a DSG desenvolveu uma ferramenta de WebGIS chamado EBGEO. Este sistema, customizado pela DSG, se propõe apoiar as operações militares quanto ao planejamento de missões, análises de terreno e tomada de decisões ágeis e tempestivas. Trata-se de um projeto de desenvolvimento e inovação de geotecnologia que permite ao combatente manusear a geoinformação digital na fase de preparo da tropa dentro do ambiente da rede EBNet. O projeto está alinhado com o Objetivo Estratégico do Exército (OEE): aperfeiçoar os Sistemas de Informação e de Comando e Controle do EB, contribuindo para o preparo da F Ter em um cenário que demanda a capacidade de gerenciamento de volumes crescentes de dados e informações.
As ferramentas de análise espacial do sistema, como análise de visibilidade no terreno, construção de linhas de visadas, obtenção automática de coordenadas geográficas, inserção de calungas georreferenciadas, criação de Calco para manobras e planejamentos, assim como medição de distâncias em ambiente tridimensional, contribuem para obtenção de informações essenciais para suporte às missões militares.
O EBGEO possui acesso multiplataforma (a partir de desktop, tablet, celular ou notebook), seu funcionamento independe de sistema operacional específico, fornece mapas para multiusuários (vários militares acessando a mesma base geográfica), permite interação por meio de ferramentas de análise (como medida de distância, obtenção de coordenadas e perfil de terreno), suas atualizações de dados são centralizadas a partir de um mesmo servidor hospedado na Web, além de possuir visualização e interação com o terreno em 3D e imagens 360º, o que proporciona maior imersão dentro do terreno, utilizando a geoinformação digital. O sistema também apresenta desafios, tais como a dependência de conexão de internet, preocupação com privacidade dos dados e a necessidade de softwares específicos complementares para produção de mapas complexos e muito detalhados.
Outro aspecto positivo do projeto do EBGEO é a autonomia tecnológica. O desenvolvimento com ferramentas livres permite o domínio do conhecimento científico-tecnológico, fomenta a pesquisa, desenvolvimento e inovação dentro da Força, estimula parcerias com academias e empresas da Base Industrial de Defesa (BID), assim como reduz a dependência de “soluções prontas” que não atendem aos objetivos do Exército e que, em grande parte, são licenciados por empresas ou governos estrangeiros.
Em relação a perspectivas futuras, o EBGEO apresenta inúmeras possibilidades para expansão e crescimento dentro do propósito de aperfeiçoar a consciência situacional nas operações militares. Com a popularização da Inteligência Artificial (IA), da Internet das Coisas (IoT) e do fluxo de dados em tempo real, os produtos geoespaciais tornar-se-ão cada vez mais inteligentes, será possível, por exemplo, o acompanhamento em tempo real de tropas durante operações de resgate em catástrofes, aumentando a efetividade e a coordenação nesses eventos críticos. E tudo acessível pela plataforma de preferência, celular, tablet ou computador.
Por fim, o EBGEO é um sistema que colabora com o Processo de Transformação do Exército Brasileiro e facilita o uso da geoinformação digital nas operações da Força Terrestre. O desenvolvimento dessa solução possibilitará aos militares realizar análises geoespaciais nos diferentes níveis (estratégico, tático, operacional) a partir de mapas ainda mais inteligentes, acessíveis e interativos, cooperando com a tomada de decisões mais rápidas e efetivas no campo de batalha.
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