Banda Sinfônica do Exército: duas décadas promovendo a imagem da Força

Autor: 1º Sgt Julio Cezar Rodrigues Eloi

Sexta, 13 Setembro 2024
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É notório que há bandas de música em muitas localidades do território nacional, principalmente no interior (Fagundes, 2010). Sendo de pequena ou grande proporção, composta por adultos, jovens, adolescentes e até crianças, de diversos formatos como fanfarra, banda marcial, banda de coreto, dentre outros, as bandas são requisitadas para inúmeras atividades (Fagundes, 2010).

Com referência à relevância das bandas de música brasileiras, fruto de uma tradição que ocorre desde os tempos do período colonial, tais grupos atuaram como celeiro de inúmeros gêneros musicais (Costa, 2011). Desde então, as bandas exerceram um papel de suma importância no processo cultural da nossa sociedade, criando desta maneira, espaços de sociabilidade e contribuição para o aprendizado musical, revelando grandes maestros, compositores e instrumentistas (Costa, 2011).

Inicialmente, para fins de classificação, torna-se conveniente distinguir as formações musicais. Em termos didáticos, a dissertação de Lago (2020) cita Botelho (2013) para conceituar os grupos de músicos da seguinte forma:

  1. Banda de Música: é a formação de instrumentos de metais, palhetas, percussão sinfônica que se apresentam tanto em desfiles quanto em concertos;

  2. Banda Marcial: é a formação de instrumentos de metais e percussão sinfônica ou não, que se apresentam predominantemente em desfiles e eventualmente em concertos; e

  3. Fanfarras: são as bandas de sopros simples (amadores) com escalas diatônicas ou com harmônicos, limitando as melodias e percussão simples (bumbo, pratos, caixa, tarol, entre outros instrumentos).

 

No avanço das potências europeias por novos mercados, tendo Portugal como pioneiro das navegações, a colonização do Brasil ocorreu nessa dinâmica e as tradições musicais influenciaram a música em nossas terras (Fagundes, 2010). Adiante, com a chegada da família real no Rio de Janeiro e a melhor estruturação das Forças Armadas, as bandas militares se concretizaram e contribuíram diretamente para o surgimento das bandas civis no País (Fagundes, 2010).

Do final da Idade Média até o fim do séc. XVII, surgiram as trompas, os trompetes, gongos, tambores, flautas e oboés, que coordenados como “banda de música”, passaram a integrar as tropas de Infantaria e de Cavalaria (Nascimento, 2013). Mediante a inclusão do fagote e do trombone, as bandas assumiram uma constituição mais artística, com o timbre sendo enriquecido pelos clarinetes, saxofones e tubas (Nascimento, 2013).

Richard Franko Goldman indicou que o conceito de banda sinfônica pode ter se originado durante a Revolução Francesa, na organização da Banda da Guarda Nacional por Bernard Serrette (Jardim, 2008; Nascimento, 2013). Outro momento importante ocorre nos EUA, quando John Philip Sousa, ao viajar por muitas cidades daquele país, populariza a banda sinfônica e num primeiro momento, estimula as pequenas comunidades a criarem os seus corpos de musicistas (Jardim, 2008).

No contexto brasileiro, são comuns as designações como “banda de música”, quando se aludem às formações que não são de concerto, ao passo que “banda sinfônica”, faz referência àquelas voltadas às atividades de concerto (Nascimento, 2013). Destaca-se que as bandas militares foram e são responsáveis pela difusão de outras músicas de caráter popular, como sambas, baiões, valsas, além de música de concerto, em transcrições, arranjos e originais (Nascimento, 2013).

A atuação das bandas militares, por diversas vezes, são de caráter didático e cívico, na forma de apresentações em escolas, solenidades e desfiles patrióticos (Nascimento, 2013). Suas atividades se desenvolvem geralmente em quartéis das Forças Armadas, Igrejas Evangélicas e Escolas (Nascimento, 2013).

Comuns nas Forças Armadas, as bandas sinfônicas, temos os casos da Banda Sinfônica do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil e a Banda Sinfônica do Exército Brasileiro, assim como nas Polícias e Bombeiros Militares (Nascimento, 2013). Tal autor complementa que no País temos ainda as representações civis, como a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo e a Banda Sinfônica de Tatuí (SP), etc.

Fagundes (2010) cita Guiardine (2005) para explicar que as bandas sinfônicas se caracterizaram a contar do desenvolvimento das bandas musicais, devendo possuir os instrumentos facultativos encontrados nas orquestras sinfônicas, nos casos do contrabaixo e do fagote. Assim como as bandas civis, as bandas sinfônicas também têm sido pouco estudadas no âmbito acadêmico, talvez por serem um grupo musical mais recente (Fagundes, 2010).

Como as bandas civis, as bandas sinfônicas são grupos formados basicamente por instrumentos de sopros e percussão, que quanto aos instrumentos de 22 cordas, contam apenas com contrabaixos, piano e, eventualmente, harpa (Fagundes, 2010). O mesmo pesquisador explica que além dos sopros presentes numa orquestra tradicional, a composição da banda sinfônica agrega o naipe de saxofones e eufônicos.

Segundo Fagundes (2010), a banda sinfônica se assemelha à orquestra sinfônica tradicional, diferenciando-se pela substituição dos naipes de corda pelo de sopro, aumentando a quantidade de clarinete e utilizando toda a família, como requinta, clarone e clarinete baixo. Aumenta ainda o naipe de flautas e de outros instrumentos de sopro (Fagundes, 2010).

A música tem acompanhado a rotina das diversas Organizações Militares (OM) do Exército Brasileiro (EB) há muito tempo, quer sejam em formaturas internas ou em atividades para o público externo, como apresentações culturais. Um caso interessante de relacionamento da instituição castrense com a sociedade civil tem sido a Banda Sinfônica do Exército (BSE), hospedada em Osasco (SP).

A BSE é subordinada ao Comando Militar do Sudeste (CMSE), Comando Militar de Área que abrange todo o Estado de São Paulo. Em termos administrativos, a banda é gerenciada pela Fundação Cultural do Exército Brasileiro (FUNCEB), entidade civil, pessoa jurídica de direito privado e sem fins lucrativos, criada em 1º de março de 2000 (Revista Verde-Oliva, 2012).

O Exército, instituição de capilaridade nacional, mantém-se presente em todas as 27 Unidades Federativas (UF), inclusive com diversas formações musicais. Até 2018, a Força possuía 90 conjuntos musicais, sendo 76 bandas de música, 12 fanfarras, 1 banda marcial e 1 banda sinfônica, num efetivo total que ultrapassava 3.800 músicos, sendo uma das instituições que mais empregava profissionais dessa categoria (Zimmerman, Roso & de Souza, 2022).

Para o ingresso no Exército como militar de carreira na área musical, o acesso ocorre mediante concurso público anual ao Curso de Formação e Graduação de Sargentos (CFGS), organizado pela Escola de Sargentos das Armas (ESA), devendo haver concluído o Ensino Médio e possuir conhecimento no naipe de interesse. No caso dos militares que não integrarão o quadro permanente, a admissão ocorre pelo Estágio Básico de Sargentos Temporários (EBST), que decorre da aprovação no processo seletivo conduzido pelas Regiões Militares (RM).

A BSE foi criada por intermédio da Portaria nº 45-DEP, de 25 de junho de 2002, na área do CMSE, tendo sido utilizada desde então, como forte elemento de difusão da imagem da Força Terrestre. Ressalta-se que, em 2001, em caráter experimental, havia sido criado o núcleo como Banda Sinfônica do CMSE, com músicos das bandas desse mesmo Comando Militar e da 2ª Divisão de Exército (2ª DE), segundo a edição nº 216 da Revista Verde-Oliva (2012).

Neste sentido, a 1ª apresentação da Banda Sinfônica, como núcleo, ocorreu em 5 de dezembro de 2001, sob a regência do 1º Ten QAO Mus Antônio Josué Filho, no espaço cultural do Quartel-General Integrado do CMSE. Por outro lado, consoante à Política Cultural do Exército, em 2002, foi criada conforme a sua designação atual, cuja 1ª aparição pública como BSE ocorreu em 28 de julho de 2002, durante o IX Festival de Artes de Itu (SP), sob a liderança do mesmo 1º Ten Antônio Josué Filho.

Esta importante iniciativa cultural possui como objetivo “fazer da música um bem comum, como parte das atividades culturais do Exército, estabelecendo um elo artístico-cultural com a sociedade brasileira, constituindo-se verdadeira alavanca estratégica para a difusão da música e das tradições da Força Terrestre” (CMSE, 2020). Tal estrutura recebeu uniforme histórico nos termos da Portaria nº 516-Cmt Ex, de 24 de setembro de 2002, com alterações pela Portaria n° 403-Cmt Ex, de 7 de julho de 2004, como se visualiza nas figuras 1 e 2, a seguir:

Figuras 1 e 2 – Uniformes históricos da BSE (masculino e feminino)

Fonte: - Portaria n° 403-Cmt Ex, de 7 de julho de 2004.

Como parte da evolução dessa estrutura de promoção da imagem da Força Terrestre em todo o território nacional, a diretriz para a carreira do subtenente e sargento músico, estabelecida na portaria nº 403-Cmt Ex, de 9 de junho de 2005, orienta que o preenchimento dos cargos dos músicos da BSE seria regulado por norma específica. Tal regulação veio a ocorrer mediante o teor da Portaria nº 559-Cmt Ex, de 23 de agosto de 2006, com as medidas para o aproveitamento de recursos humanos para o corpo musical em tela.

Ao longo de mais de duas décadas de existência, a BSE se apresentou nas mais importantes salas de concertos do Brasil, em diversos municípios, como: Araguari (MG), Rondonópolis (MT), Apucarana (PR), Curitiba (PR), Resende (RJ), Criciúma (SC), Joinville (SC), Lages (SC), Campinas (SP), Campos do Jordão (SP), Indaiatuba (SP), Itu (SP), Jacareí (SP), Jundiaí (SP), Mogi das Cruzes (SP), Pirassununga (SP), Praia Grande (SP), Ribeirão Preto (SP), Santo André (SP), Santos (SP), São Paulo (SP), Sorocaba (SP), Tatuí (SP), etc. Ademais, recebeu solistas nacionais e internacionais de renome, além de prêmios, em especial o de “Melhor Projeto de Música Erudita” e o “Prêmio Especial de Cultura”, ambos concedidos pela Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA.

 

Referências

Comandante do Exército [Cmt Ex]. (2002). Portaria nº 516, de 24 de setembro de 2002. Concede uniforme histórico à Banda Sinfônica do Exército. Boletim do Exército nº 40, de 4 de outubro de 2002.

Comandante do Exército [Cmt Ex]. (2004). Portaria n° 403, de 7 de julho de 2004. Modifica o uniforme histórico da Banda Sinfônica do Exército. Boletim do Exército n° 29, de 16 de julho de 2004.

Comandante do Exército [Cmt Ex]. (2005). Portaria n° 403, de 9 de junho de 2005. Estabelece a Diretriz para a Carreira de Subtenente e Sargento Músico. Boletim do Exército nº 23, de 10 de junho de 2005.

Comandante do Exército [Cmt Ex]. (2006). Portaria nº 559, de 23 de agosto de 2006. Estabelece medidas para o aproveitamento de recursos humanos para a Banda Sinfônica do Exército. Boletim do Exército nº 34, de 24 de agosto de 2006.

Comando Militar do Sudeste [CMSE]. (2020). Banda Sinfônica do Exército leva música clássica para a população de São Paulo. Disponível em: https://cmse.eb.mil.br/index.php/ultimas-noticias-categoria/226-circulo-militar-de-sao-paulo-presta-homenagem-ao-dia-do-soldado . Acesso em: 7 Jun. 2024.

Costa, M. A. (2011). Música e história: um estudo sobre as bandas de música civis e suas apropriações militares. Tempos Históricos15 (1), 240-260. Disponível em: https://doi.org/10.36449/rth.v15i1.5707 . Acesso em: 7 Jun. 2024.

Departamento de Ensino e Pesquisa [DEP]. (2002). Portaria nº 45-DEP, de 25 de junho de 2002. Aprova o “Projeto Cultural Banda Sinfônica do Exército”. Boletim do Exército nº 28, de 12 de julho de 2002.

Departamento de Ensino e Pesquisa [DEP]. (2001). Portaria nº 63-DEP, de 15 de agosto de 2001. Aprova o “Projeto Cultural Banda Sinfônica do Exército”. Boletim do Exército nº 35, de 31 de agosto de 2001.

Fagundes, S. M. (2010). Processo de transição de uma banda civil para banda sinfônica. Dissertação (Mestrado em Música).Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Belo Horizonte. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/AAGS-8A7MVK/1/tese_samuel_mendon_a_fagundes.pdf . Acesso em: 7 Jun. 2024.

Jardim, M. (2008). Pequeno Guia Prático para o Regente de Banda. Vol. I1. Disponível em: https://www.gov.br/funarte/pt-br/areas-artisticas/musica-2/projeto-bandas-de-musica/partituras/guia-para-o-regente-de-banda.pdf . Acesso em: 7 Jun. 2024.

Lago, M. M. (2020). Formação Musical em Bandas Escolares em Dias D’Ávila. Dissertação (Mestrado Profissional em Artes). Universidade Federal da Bahia (UFBA). Salvador. Disponível em: https://www.udesc.br/arquivos/ceart/id_cpmenu/11344/Artigo___Mateus_Moraes_16237122676409_11344.pdf . Acesso em: 7 Jun. 2024.

Nascimento, E. S. D. (2014). Grupos sinfônicos de sopros: conceitos e aspectos estruturais. Dissertação (Mestrado em Música). Universidade de Brasília (UnB). Brasília. Disponível em: https://www.realp.unb.br/jspui/bitstream/10482/15407/1/2013_ElizeuSantosdoNascimento.pdf . Acesso em: 7 Jun. 2024.

Revista Verde-Oliva. (2012). A Banda Sinfônica do Exército Brasileiro. Disponível em: https://www.calameo.com/exercito-brasileiro/read/0012382069e977ba0721c . Acesso em: 7 Jun. 2024.

Zimmerman, A. C. O., Roso, A. R., & de Souza, A. F. (2022). Trabalhando como militar-músico: subjetividade, afetos e antinomias no Exército Brasileiro. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho25. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.cpst.2022.179910 . Acesso em: 7 Jun. 2024.

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Comentarios

Comentarios

Bravíssimo! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

Prezado amigo Julio César, muito obrigado pelo reconhecimento do trabalho da nossa Banda Sinfônica do Exército, que ao longo de duas décadas vem desempenhando um importante trabalho cultural em nosso País.  Bravo!!!!!

Muito bom e parabéns á BSE!!!

Em Nome da Banda Sinfônica do Exército,  venho aqui externar os agradecimentos ao 1° Sargento Júlio, pelo excelente trabalho versando sobre as origens de nossas Bandas de Música e sobre a criação da Banda Sinfônica do Exército (BSE). Uma oportunidade a muitos de tomar conhecimento de nossa história. A BSE tem tido o reconhecimento internacional sendo uma das poucas Bandas Sinfônicas que tem em sua formação,  além dos Contrabaixos Acústicos, também possui o naipe de Violoncelos e Harpa.

Muito obrigado meu Amigo 1° Sgt Júlio. 

Subtenente Laudiel - Assessor Adm da BSE. 

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