HOSPITAL CENTRAL DO EXÉRCITO: 266 ANOS DE ESTRATÉGIA EM SAÚDE MILITAR

Autores: 2º Sgt Anderson
Quarta, 22 Outubro 2025
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O artigo apresenta a trajetória histórica do Hospital Central do Exército (HCE), desde sua origem no século XVIII até sua consolidação como centro de excelência em saúde militar. Destacam-se suas contribuições em ensino, pesquisa e inovação tecnológica, reafirmando seu papel estratégico na medicina militar brasileira contemporânea, com capacidade total de 630 (seiscentos e trinta) leitos (BRASIL, 2024).

O HCE, cuja origem remonta ao ano de 1768, primeiro hospital militar da cidade, no Morro do Castelo, no Rio de Janeiro, instalado inicialmente no edifício que outrora abrigara a Companhia de Jesus, foi testemunha silenciosa de mais de dois séculos de transformações políticas, sociais e sanitárias. Em 1808, com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, recebeu nova missão institucional com a criação da Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro, por ordem do Príncipe Regente D. João. Essa escola consolidou o espaço de ensino e prática médica, contribuindo para a formação de gerações de profissionais da saúde no País (BRASIL, 2024).

Mesmo em face das mudanças estruturais e nominais – de Hospital Real Militar e Ultramar a Hospital Central do Exército – a instituição manteve-se firme em sua missão de atendimento aos doentes e feridos, destacando-se pelo trabalho técnico, responsável e abnegado, essencial à saúde e à medicina militar (BRASIL, 2024).

Ao longo de sua trajetória, o HCE teve papel decisivo nas campanhas de vacinação promovidas em resposta às grandes epidemias que assolaram o Brasil, especialmente nas primeiras décadas da República. Destaca-se sua atuação durante a Campanha de Vacinação Obrigatória contra a varíola, em 1904, quando o hospital apoiou o serviço sanitário centralizado pelo então diretor de saúde pública, Dr. Oswaldo Cruz. À época, militares foram mobilizados não apenas para garantir a ordem pública, em meio à resistência popular, mas também para estruturar postos de vacinação e colaborar com a imunização da população militar e civil (BENCHIMOL, 1999).

DA PEDRA FUNDAMENTAL ÀS MODERNAS INSTALAÇÕES

Em 1889, o Brasil deu início a um amplo processo de modernização das instituições, incluindo a reestruturação das Forças Armadas e do serviço médico militar. Nesse contexto, em 1890, o Marechal Deodoro da Fonseca, então Chefe do Governo Provisório, assinou decreto que determinava a criação de um hospital central de primeira classe na Capital Federal, com o objetivo de consolidar a assistência hospitalar aos militares (BRASIL, 2024).

Em 1892, foi lançada a pedra fundamental do Hospital Central do Exército, em terreno de 78.960 metros quadrados localizado no bairro de Benfica, anteriormente pertencente ao Jockey Club. O projeto arquitetônico previa a construção de oito pavilhões isolados para enfermarias, além de um pavilhão administrativo central, seguindo um modelo moderno de arquitetura hospitalar que privilegiava ventilação, circulação e compartimentação por especialidade (BRASIL, 2024).

Em 1902, ocorreu a inauguração oficial das novas instalações que, apesar da ambição do projeto original, deu-se com apenas três pavilhões concluídos. A construção foi gradualmente expandida nas décadas seguintes, com a inauguração do imponente Pavilhão Central, denominado "Floriano Peixoto", em 1913, em cerimônia presidida pelo então Presidente da República, Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca.

Os demais pavilhões foram entregues nos anos de 1915, 1916 e, por fim, em 1922. Em 1980, decorridos sessenta anos da conclusão do conjunto hospitalar, o complexo passou por processo de modernização, o que implicou a demolição dos antigos pavilhões originais, com exceção do Pavilhão Central, exemplar arquitetônico de inspiração Luís XVI adaptado às funções hospitalares e militares, preservado como testemunho histórico da grandiosidade e sobriedade do projeto original (BRASIL, 2024).

O PAPEL ESTRATÉGICO DO HCE NA SAÚDE MILITAR BRASILEIRA

Durante o governo de Getúlio Vargas, de 1941 em diante, no contexto da Segunda Guerra Mundial, o hospital foi repensado. A nova infraestrutura foi projetada para atender às exigências de um Exército em modernização e com crescente participação em operações internacionais (INSTITUTO HISTÓRICO-MILITAR, 2004).

De 1942 a 1945, o HCE prestou suporte logístico e assistência aos militares da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que atuaram na Campanha da Itália. Serviu como hospital de referência para tratamento dos combatentes retornados da frente de batalha, além de integrar ações de vacinação e controle epidemiológico (SILVA, 2017).

Durante o período do regime militar, de 1964 a 1985, o HCE expandiu sua capacidade assistencial, investindo em novas especialidades médicas, laboratórios e centros cirúrgicos. Também consolidou sua atuação como centro de formação médica para oficiais de carreira da área da saúde (COSTA; LIMA, 2022).

Na década de 1990, o HCE intensificou sua atuação em ensino e pesquisa, sendo credenciado em diversos programas de residência médica, reconhecidos pelo Ministério da Educação. Tornou-se polo de produção científica em áreas como medicina tropical, trauma militar e biossegurança (BARROS, 2019).

O hospital integrou o plano de segurança sanitária dos Jogos Olímpicos Rio 2016, disponibilizando equipes especializadas e infraestrutura para atendimentos de emergência, em articulação com o Ministério da Defesa e com os serviços de saúde pública do Estado do Rio de Janeiro (SILVA, 2017).

Durante a crise sanitária provocada pelo Covid-19, o HCE foi uma das principais unidades de referência no atendimento a militares e seus familiares. A Instituição reestruturou setores, criou alas de isolamento, capacitou profissionais e apoiou o desenvolvimento de protocolos clínicos e ações de imunização (BRASIL, 2020).

Em pleno século XXI, o HCE reafirma sua posição como um bastião da saúde pública militar brasileira, não apenas pela tradição bicentenária, mas, sobretudo, pela capacidade de se reinventar diante de novos desafios. Seja no combate a pandemias, no uso de tecnologias de ponta ou na formação de profissionais da saúde com alto grau de excelência, o HCE atua como elo entre o passado e o futuro da medicina militar. Sua estrutura não apenas acolhe pacientes; ela sustenta a prontidão operacional do Exército Brasileiro e fortalece a resiliência diante de crises sanitárias complexas. Com investimentos em telemedicina, digitalização de dados clínicos e parcerias com instituições de pesquisa de renome, o HCE projeta-se como centro de referência em saúde integral, inovação médica e soberania nacional (COSTA; LIMA, 2022).

Referências
 

BARROS, Thiago A. Residência médica no Hospital Central do Exército: uma análise da formação profissional na medicina militar. Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia, 2019.

BENCHIMOL, Jaime L. Dos micróbios aos mosquitos: febre amarela e a revolução pasteuriana no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1999.

BRASIL. Exército Brasileiro. Histórico do Hospital Central do Exército. Disponível em: https://www.hce.eb.mil.br/historico.html?csrt=7463069502868957005. Acesso em: 27 jun. 2025.

BRASIL. Exército Brasileiro. Hospital Central do Exército (1890-Hoje). Disponível em: https://www.hce.eb.mil.br/localizacao/123-hce/118-hospital-central-do-exercito-1890-hoje.html. Acesso em: 27 jun. 2025.

BRASIL. Exército Brasileiro. Boletim Informativo: ações do HCE durante a pandemia de COVID-19. Rio de Janeiro: HCE, 2020.

COSTA, Mariana F.; LIMA, Rodrigo S. Inovação tecnológica na gestão hospitalar: o caso do HCE. Revista de Administração Militar, v. 9, n. 2, p. 33-45, 2022.

INSTITUTO HISTÓRICO DE PETRÓPOLIS. Governo de Getúlio Vargas e a sua projeção na evolução da doutrina do Exército (1930–45). Petrópolis: IHP, [s.d.]. Disponível em: https://ihp.org.br/governo-de-getulio-vargas-e-a-sua-projecao-na-evolucao-da-doutrina-do-exercito-1930-45-o/. Acesso em: 27 jun. 2025.

SILVA, Rafael L. A atuação do Hospital Central do Exército durante os Jogos Olímpicos Rio 2016. Revista Defesa Nacional, v. 102, n. 1, p. 60-65, 2017.

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