105 ANOS DA MISSÃO CARTOGRÁFICA AUSTRÍACA

Autores: Coronel R1 Carlos Mário de Souza Santos Rosa
Sexta, 28 Novembro 2025
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O dia 14 de outubro do corrente ano assinala o transcurso dos 105 anos do início da Missão Cartográfica Austríaca no Brasil.

Bem menos conhecida que sua similar francesa, menos citada que sua congênere norte-americana1, a Missão Austríaca foi importantíssima não só para o Exército, mas para o Brasil, uma vez que trouxe para o País as mais modernas técnicas de levantamento topográfico.

30 anos antes, o Serviço Geográfico fora estabelecido, inicialmente como anexo ao Observatório Nacional, ambos subordinados ao Exército.

Em 1896, a lei que criou o Estado-Maior do Exército e a Intendência Geral da Guerra2 incumbiu a 3ª Seção daquele órgão da organização da Carta Geral da República, mapas geográfico e topográfico das fronteiras e estatística militar.

Tendo como escopo cumprir o encargo conferido, foi criada a Comissão da Carta Geral do Brasil (CCGB), sediada em Porto Alegre (RS) em 28 de junho de 1903.

Em 1915, por proposta do Major Alfredo Vidal, o Estado-Maior do Exército implantou uma seção especializada em estereofotogrametria, uma nova técnica de construção de cartas, que utilizava fotografias aéreas como fonte de dados, embrião do Serviço Geográfico Militar (SGM) surgido dois anos depois e que se instalou na Fortaleza da Conceição, no centro do Rio de Janeiro.

A despeito dessas iniciativas, a produção cartográfica nacional não atendia as demandas de um país de dimensões do Brasil, fosse quanto à segurança, fosse quanto ao desenvolvimento.

Em vista disso e acatando mais uma vez sugestão do Major Alfredo Vidal, o Exército contratou uma missão cartográfica junto ao Instituto Geográfico Militar de Viena, reconhecidamente um centro de excelência no assunto.

A delegação chefiada pelo General Barão Arthur Herr Von Hübl, Ex-Diretor do Real e Imperial Instituto Geográfico Militar de Viena era composta pelo Coronel Carlos (Karl) Gaksch, Consultor Técnico de Geodésia; Coronel Augusto Pokorny, Consultor Técnico de Topografia; Tenente-Coronel Emílio Wolf (Emile), Consultor Técnico de Fotogrametria; Major Eduardo Vallo, Consultor Técnico de Aerofotografia; Tenente Rudolf Langer, Assistente de Fotografia Tecnológica; os irmãos Jorge (Georg) e Guilherme (Wilhelm) Winther, Fotógrafos; Max Kolbe, Assistente Técnico de Fotolitogravura, introdutor da impressão de cartas em sete cores no Brasil; João (Johann) Autenguber, Assistente Técnico de Impressão e Adolfo (Adolf) Jedlitschka, Desenhista – Cartógrafo de Primeira Classe.

Segundo o General Moysés Castello Branco Filho, a Missão Cartográfica Austríaca tinha vários objetivos:

- estudo do sistema de projeção cartográfica adequado para o mapeamento do Território nacional, tendo sido adotado o Sistema de Projeção Gauss-Krieger, em fusos de 3º, depois ampliado para 6º;

-projeto do Instituto Geográfico Militar, que seguiria o modelo do Instituto Geográfico de Viena; e

- o Levantamento da Carta Topográfica do Distrito Federal Comemorativa para o Primeiro Centenário da Independência do Brasil.3

Os profissionais austríacos foram lotados nos Grupos Técnicos do SGM, na condição de Consultores Técnicos, oportunidade em que agregaram sua vasta expertise.

Dois integrantes destacam-se por sua contribuição ao nosso País: o Tenente-Coronel Emile Wolf e o Coronel Karl Gaksch.

O Tenente-Coronel Wolf, que antes da guerra já estivera no Brasil, desenvolveu um aparelho simplificado de restituição planimétrica e altimétrica 4 de baixo custo, o Estereógrafo Wolf, mais tarde aperfeiçoado pelo General Benjamim Arcoverde, que o tornou inteiramente automático e deu o nome de Autoestereógrafo.

O Coronel Karl Gaksch era o mais idoso do grupo. Engenheiro Geógrafo, graduado no Instituto Militar de Viena, participou do levantamento da Carta da Áustria. Foi o organizador e consultor técnico do Gabinete de Geodésia do Serviço Geográfico do Exército nos vinte e seis anos em que viveu no Brasil, quatorze após o término oficial da missão.

Foi professor de Geodésia e Astronomia na Escola de Engenheiros Geógrafos Militares, embrião do Instituto Militar de Engenharia (IME), tendo falecido em 9 de junho de 1946.

No ano seguinte a chegada da missão, foi realizado o primeiro voo aerofotogramétrico no Brasil, tendo as primeiras fotografias aéreas sido tiradas sobre o Morro dos Cabritos, no Bairro de Copacabana, Rio de Janeiro, na escala de 1:50.000, com câmeras aerofotogramétricas Heyde, formato 12 X 12 centímetros, acopladas em pequenas aeronaves Caudron.5

O levantamento constou de 22 (vinte e dois) voos, que duraram dezesseis dias, em percurso aéreo de setecentos e quarenta e oito quilômetros, e altura de voo de dois mil e quinhentos metros, em que foram expostas novecentas e quarenta e oito chapas fotográficas, tiradas com eixo ótico vertical cobrindo uma área de mil e trezentos e quarenta e cinco quilômetros quadrados, aproximadamente.

Em 1922, veio ao mundo a “Carta Topográfica do Districto Federal” (atual Município do Rio de Janeiro), apresentada no estande do Exército na Exposição Internacional do Centenário da Independência.

Dez anos depois, o Serviço Geográfico Militar e a Comissão da Carta Geral do Brasil se fundiram, dando origem ao Serviço Geográfico do Exército (SGE), embrião da atual Diretoria de Serviço Geográfico (DSG).

Naquele mesmo ano, se encerraram oficialmente as atividades da missão, deixando como legado o levantamento topográfico à prancheta, os métodos estereofotogramétricos de emprego da fotografia terrestre e aérea e a impressão offset de cartas, se constituindo em um marco no desenvolvimento da cartografia brasileira.

 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 403, de 24 de outubro. Cria o Estado-Maior do Exército e a Intendência Geral da Guerra, e dá outras providências. Disponível em: < https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1824-1899/lei-403-24-outubro-1896-540216-publicacaooriginal-40179-pl.html> Acesso em 10 de agosto de 2025.

PEREIRA, Flávia do Carmo. A cartografia no Exército Brasileiro: um olhar sobre a construção das narrativas de patrimônio nacional. Dissertação (Mestrado em Museologia e Patrimônio) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. 2009.

ROSA, Bruno Freitas. A influência das missões militares estrangeiras na evolução da Doutrina Militar Terrestre nos séculos XX e XXI. Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. 2021.

SILVA, Daniel Carneiro da. Evolução da Fotogrametria no Brasil. Revista Brasileira de Geomática. Pato Branco(PR). v.3, n. 2, p.081-96, jul/dez. 2015.

SILVA, Eliane Alves da. 90 Anos da Missão Cartográfica Imperial Militar Austríaca no Exército Brasileiro – Relato Histórico da Fotogrametria (1920-2010). UFMG. 2011. Disponível em: < https://www.ufmg.br/rededemuseus/crch/simposio/SILVA_ELIANE_ALVES_1.pdf > Acesso em: 10 de agosto de 2025.

1 Missão Militar Francesa de Instrução e Missão Militar Norte-Americana.

2 Lei nº 403, de 24 de outubro.

3 SILVA, Eliane Alves da. 90 Anos da Missão Cartográfica Imperial Militar Austríaca no Exército Brasileiro – Relato Histórico da Fotogrametria (1920-2010). UFMG. 2011. Disponível em: < https://www.ufmg.br/rededemuseus/crch/simposio/SILVA_ELIANE_ALVES_1.pdf> Acesso em:10 ago 2025.

4 Processo de confecção do mapa, através de um modelo tridimensional.

5 SILVA, Eliane Alves da. 90 Anos da Missão Cartográfica Imperial Militar Austríaca no Exército Brasileiro – Relato Histórico da Fotogrametria (1920-2010). UFMG. 2011. Disponível em: < https://www.ufmg.br/rededemuseus/crch/simposio/SILVA_ELIANE_ALVES_1.pdf> Acesso em:10 ago 2025.

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