O advento do século XXI e os desdobramentos do mundo pós-Guerra Fria vêm revelando uma busca pelo aumento do protagonismo brasileiro e de suas Forças Armadas no concerto das Nações, em especial no nosso entorno estratégico.
A República do Peru é uma nação amiga e vizinha do Brasil, totalizando uma fronteira terrestre compartilhada de 2.995 km. O país possui um histórico de cooperação com Brasília, que vem sendo incrementado, em especial na área militar, nos últimos anos.
Diante da necessidade de atualização doutrinária peruana na área de paraquedismo militar, bem como dentro do escopo de atividades de Diplomacia Militar, elencadas e estimuladas nas legislações brasileiras, entre os anos de 2015 a 2020, a Escola de paraquedistas do Exército Peruano recebeu 2 militares brasileiros especializados por ano, que desempenharam a função de instrutores nos diversos cursos de formação e especialização realizados naquele estabelecimento, servindo para estreitar os laços de camaradagem e fraternidade entre os dois países, além de intercambiar conhecimentos técnicos e táticos na referida atividade.
No ano de 2018, foram selecionados e enviados dois militares peruanos (um oficial e um sargento) para realizar o Curso de Precursor Pqdt no Brasil. Um militar concluiu o curso operacional com êxito no referido ano, retornando a seu país com um novo portfólio de conhecimentos e capacidades agregadas, as quais foram implementadas, no ano de 2021, na especialidade peruana mais similar aos precursores brasileiros: os Orientadores Paracaidistas, Assim, capacidades relativas aos Precursores paraquedistas foram utilizadas no contexto peruano, dentro de suas especificidades e necessidades.
É válido reconhecer que Exército Peruano considera o Exército Brasileiro (EB) um aliado importante no processo de integração regional e uma alternativa relevante para sua reestruturação e modernização, particularmente no tocante ao ensino, ciência e tecnologia, inteligência, comando e controle e doutrina militar.
No ano de 2018, a equipe brasileira de instrutores de paraquedismo na Escola de Paraquedistas do Exército Peruano realizou tratativas junto ao comando daquela Escola no sentido de conscientizar e alertar a respeito da importância e relevância de enviar militares locais para a realização do Curso de Precursor paraquedista no Brasil. A Escola levou a solicitação e tramitação ao canal técnico local, o qual despachou e autorizou a execução da atividade em solo brasileiro.
Em seguida, foram realizados testes na capital peruana, Lima, com o objetivo de selecionar os militares mais aptos a cumprirem a missão em solo brasileiro. Militares peruanos de diversas cidades se deslocaram para a Escuela de Paracaidistas com a finalidade de concorrer a uma vaga para o curso no Brasil.
Terminada a rigorosa seleção, 2 militares peruanos iniciaram a jornada no Brasil, compondo o turno de alunos do “18/1- Curso de Precursor paraquedista”. Obtiveram êxito na 1ª fase (Nivelamento técnico-operacional) e na 2ª (Curso de Mestre de Salto), sendo brevetados e capacitados como Mestres de Salto brasileiros, aptos a desempenhar as tarefas aeroterrestres inerentes ao especialista mestre de salto.
Cabe destacar que, por ocasião da 1ª fase, tiveram oportunidade de realizar o Estágio Básico do Combatente de Montanha no 11º BI de Mth (São João del-Rei/MG), bem como realizar o Estágio de Adaptação à Selva no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS - Manaus/AM), caracterizando uma oportunidade de interação diplomática e projeção internacional daqueles 2 polos difusores de doutrina.
Figura 1: Militar peruano em estágio no CIGS
Fonte: Seção de Com Soc do Curso Prec pqdt (2018)
Por ocasião da 3ª fase (lançamento precursor), onde aumenta exponencialmente a cobrança e a exigência no tocante à avaliação de distâncias, velocidade de raciocínio, orientação a bordo de aeronave, bem como a realização de cálculos mentais, com verbalização no idioma português, o suboficial peruano começou a apresentar dificuldades. Foram realizadas as recuperações previstas, por meio das técnicas de ensino disponíveis, porém não foram suficientes para que o militar obtivesse os graus mínimos necessários ao prosseguimento no curso, sendo desligado por insuficiência técnica, prosseguindo para a 4ª e última fase (operações) apenas o oficial peruano.
O Tenente peruano Júlio Perez logrou êxito no curso, concluindo as 24 semanas de intensas atividades do curso. Foi brevetado Precursor paraquedista número 511, em cerimônia solene na área de estágios paraquedista. Terminada a semana de desmobilização e acompanhamento médico/psicológico, retornou ao Peru, para onde levou os conhecimentos absorvidos ao longo de 6 meses no Brasil.
Ao retornar para o território peruano, o Ten Perez se apresentou na Escuela de Paracaidistas, onde foram iniciadas as tratativas para retomar o Curso de Orientadores, que não era realizado há muitos anos no país, bem como atualizar o manual da atividade (Operaciones de Orientadores), que não era atualizado desde 1972. O Curso de orientadores foi retomado no ano de 2021 e seu manual foi atualizado no ano de 2023.
Figura 2: Brevetação do oficial peruano no Curso de Precursor
Fonte: Seção de Com Soc do Curso Prec pqdt (2018)
Dessa forma, observou-se que o curso de orientadores proporcionou aos alunos peruanos uma oportunidade de adestrar-se nas Técnicas Táticas e Procedimentos (TTP) consagradas para as operações de Precursores, conforme atualização doutrinária realizada no Brasil, como operações de Zona de Lançamento (ZL), Zona de Pouso de Helicópteros (ZPH) e Zona de Pouso (ZP), entre outros.
A Constituição Federal, a Política e Estratégia Nacional de Defesa, o Plano Estratégico do Exército e a Diretriz do Comandante do EB revelam a relevância atribuída à Diplomacia Militar Brasileira para a consecução dos Objetivos Políticos e Estratégicos mais caros ao Estado Brasileiro, estimulando a interação e a cooperação militar com as Nações amigas, em especial as do entorno estratégico, como a República do Peru.
Em síntese, a Diplomacia militar brasileira indica o alto grau de importância na relação entre as instituições armadas do Brasil e do Peru, pois compreende várias atividades que se inserem na Política Externa, gerando entendimentos e intercâmbios que, além de estabelecer laços de confiança mútuos, concorrem para o desenvolvimento doutrinário das FFAA de países amigos. A diplomacia militar contribui, portanto, para que as relações entre os braços armados dos Estados sejam harmônicas, contribuindo para a manutenção da paz.
Dessa maneira, cabe salientar que a formação, aperfeiçoamento e especialização de militares do Exército do Peru pelo EB se insere no contexto da cooperação militar, a qual permite o estabelecimento de rodadas de conversação para ampliar o intercâmbio entre as Forças. A especialização de militar peruano como Prec Pqdt no Brasil permite ao país amigo a capacitação de combatente aeroterrestre em atividade militar complexa que contribui para o desenvolvimento doutrinário de suas tropas, além de proporcionar a busca de referências externas, importantes para ampliar as capacidades militares já existentes.
Diante do exposto, é lícito concluir que o envio de militar peruano para a realização de Curso Prec Pqdt no Brasil, certamente contribuiu para o incremento da Diplomacia Militar brasileira e fortaleceu as relações entre os Exércitos. Assim, o Brasil se destacou no cenário regional, por meio da Diplomacia Militar, como importante ator na capacitação de militares estrangeiros do entorno estratégico, projetando poder e consolidando-se como referência militar para outros países.
Figura 3: Entrega de lembrança alusiva à formação do Precursor peruano
Fonte: O autor (2018)
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