80 ANOS DA TOMADA DE MONTE CASTELO

Autores: Coronel R1 Carlos Mário de Souza Santos Rosa
Segunda, 28 Abril 2025
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Há 80 anos, mais precisamente no dia 21 de fevereiro de 1945, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) escrevia uma das mais gloriosas páginas da nossa História Militar: a Tomada de Monte Castelo.

A operação que resultou na conquista do almejado ponto-forte se encontra inserida na 2ª fase da participação da FEB na Campanha da Itália, quando esta foi deslocada para o Vale do Rio Reno, assumindo uma frente de 15 km que se estendia de Gagio Montano à Torre di Nerone, defrontando-se a norte com a Linha Gótica, um conjunto de fortificações construídas pelos alemães ao longo dos Apeninos.1

Monte Castelo era a elevação mais avançada do conjunto montanhoso Belvedere-Gorgolesco –Della Torraccia e, a despeito de ser a menor das cotas, tinha 987 m de altitude, enquanto que as demais variavam entre 1.120 e 1.140m, possuía visada sobre a estrada 64 que ligava Pistoia a Bolonha, cidade chave para a conquista do Vale do Rio Pó, de onde comandava os fogos de artilharia, impedindo a utilização da via.

O setor era defendido pela 232ª Divisão de Granadeiros (Infantaria), comandada pelo Tenente-general2 Barão Eccart von Gablenz, composta por três regimentos de infantaria (1043º, 1044º e 1045º), cada um com dois batalhões, mais um batalhão de fuzileiros (batalhão de reconhecimento) e um regimento de artilharia com 4 grupos, além de unidades menores, totalizando cerca de 9.000 homens.

As posições alemãs gozavam de apoio mútuo, excelentes campos de tiro, defesa em profundidade, flanqueamento, snipers pré-posicionados, casamatas e campos minados, o que permitia que uma força de menor efetivo conduzisse com eficácia a defesa do terreno.

Quatro tentativas foram feitas durante o ano de 1944 para conquistar a posição:

- em 24 e 25 de novembro pela Força Tarefa 45 dos EUA; e

- em 29 de novembro e 12 de dezembro pela FEB.

As razões dos insucessos foram várias e fogem ao escopo deste ensaio. O importante é que o baluarte germânico ganhou ares de inexpugnável.

O insucesso da última tentativa marcou o início da estabilização da frente, oportunidade em que a FEB pôde completar a instrução de todos os seus componentes, bem como adestrá-los por meio de patrulhas que constantemente percorriam o terreno, ora em reconhecimento, ora em ações de combate.

O General Mascarenhas de Moraes, comandante da FEB, decidiu modificar seu estilo de comando, centralizando as principais decisões e planejamentos, bem como procurou restaurar o ânimo da tropa por meio de planos de descanso e de entretenimento.3

A resultante disso logo se viu quando em 8 de fevereiro de 1945, o comandante do IV Corpo de Exército, General Crittenberg apresentou ao General Mascarenhas de Moraes o Plano Encore, uma ofensiva destinada a atravessar a citada Linha Gótica, onde caberia à FEB, inicialmente, a captura de Monte Castelo e de La Serra, não mais atacando de sul para norte, mas sim de sudoeste para nordeste, ultrapassando a 10ª Divisão de Montanha estadunidense4, após esta conquistar a linha Belvedere –Gorgolesco-Mazzancana.

Uma diversão caberia ao 2º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria (II/11ºRI) na região da Falfare, a leste de Monte Castelo, enquanto o ataque seria conduzido pelo 1º Regimento de Infantaria (1º RI) apoiado pela 1ª Companhia do 9º Batalhão de Engenharia (1ª Cia do 9º BE), tendo como reserva o restante do 11º Regimento de Infantaria (11º RI) e o Esquadrão de Reconhecimento.

Para a operação, a Artilharia Divisionária foi reforçada com 18 (dezoito) peças do 248º Batalhão de Artilharia de Campanha da Artilharia do IV Corpo de Exército.

A manobra brasileira consistia em um ataque coordenado segundo direções convergentes, cabendo ao 3º Batalhão do 1º RI o ataque frontal e ao 1º Batalhão do 1º RI a ação de flanco, permanecendo o 2º Batalhão na reserva.

No dia 19 de fevereiro, às 23 horas, iniciou-se o ataque estadunidense, contando com vigoroso apoio da Aviação Brasileira5, tendo a ação diversionária do (II/11ºRI) começado uma hora mais tarde. No dia seguinte, Belvedere, Gorgolesco e Mazzancana se encontravam em mãos norte-americanas.

Naquele mesmo dia, os brasileiros ocuparam suas posições de partida e às 05 h e 30 minutos de 21 de fevereiro de 1945 iniciaram o ataque.

A operação se desenvolveu com certa facilidade até as 09 horas, quando uma das companhias da reserva, a 5ª Cia do II/1º, foi empregada em aproveitamento do êxito, uma vez que o avanço da 10ª Divisão não acompanhava o da tropa brasileira que flanqueava a posição inimiga rapidamente.

Durante todo dia a Artilharia Divisionária atuou em apoio à manobra.

Enquanto isso, o III/1º RI, após certo tempo, encontrava-se detido no terreno, mesmo tendo empregado sua reserva, a 9 ªCia.

Às 1500 horas, o I/1º RI mais a 5ª Cia do II/1º RI, completaram o flanqueamento e se encontravam em condições de atacar o reduto principal enquanto o II/11ºRI a leste avançava em direção a Abetaia.

Finalmente, entre 17:30 e 17:40, Monte Castelo caiu: elementos da 1ª Cia do I/1º RI penetraram na posição, enquanto o restante do batalhão e da 5ª Cia venciam as últimas resistências.

Imediatamente, o III/ 1º cerrou sobre a posição, ajudando na sua consolidação.

Ato contínuo, o comandante do Regimento empregou o restante do 2º Batalhão que estava em reserva, na limpeza das posições inimigas de Viteline e se preparou para conquistar La Serra.

Logo após ser confirmada a Tomada de Monte Castelo, uma profusão de generais aliados tomou o Posto de Observação do General Mascarenhas em C. Gadelle, congratulando-o pela vitória alcançada.

Referindo-se ao evento em suas Memórias, escritas 18 (dezoito) anos depois, o já Marechal Mascarenhas de Moraes se expressou nos seguintes termos àquela jornada:

“Monte Castelo representa a preliminar gloriosa das nossas vitórias no Vale do Reno, exaltando a honra e a dignidade das armas brasileiras para a conquista de outros triunfos”.


 

REFERÊNCIAS

LEAL CAMPELLO, R. Monte Castelo. A Defesa Nacional, v. 50, n. 593, 8 jun. 2020.

MACHADO DA VEIGA., A. J. Monte Castelo - O Passado e o Presente. A Defesa Nacional, v. 54, n. 619, 7 fev. 2022.

MASCARENHAS DE MORAES, J.B. Memórias. 2ª Edição. Rio de Janeiro. BIBLIEx 2014

MIRANDA CARVALHO, J. História. A Defesa Nacional, v. 48, n. 560, 24 maio 2021.

SANTOS ROSA, Alessandro dos. Monte Castelo – A Bravura do Soldado Brasileiro. 2012. Disponível em < https://chicomiranda.wordpress.com/2012/02/17/monte-castelo-a-bravura-do-soldado-brasileiro/ > Acesso em: 31 de janeiro de 2025.

1 A cordilheira dos Apeninos (em italiano: Appennini) estende-se por 1000 km ao longo da Itália central e costa leste, formando a coluna dorsal do país

2 General de Divisão.

3 MASCARENHAS DE MORAES, J.B. Memórias. Rio de Janeiro. BIBLIEx 2014. P261.

4 A 10ª Divisão de Montanha foi a primeira e única divisão americana de Alpinos e era formada por esquiadores experientes, alpinistas e montanhistas com formação concluída no Texas, em Camp Swift

5 1º Grupo de Caça.

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História
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