ELO: UNINDO EXÉRCITO E FORÇA AÉREA NOS CAMPOS DE BATALHA DA ITÁLIA

Autores: Coronel R1 Carlos Mário de Souza Santos Rosa
Segunda, 20 Outubro 2025
Compartilhar

Por ocasião do Dia do Aviador e dos 80 anos da vitória da FEB na Itália, é propício lembrar um momento de união entre duas forças coirmãs, presentes naquele Teatro de Operações: a Esquadrilha de Ligação e Observação, convenientemente abreviada como ELO.

A Esquadrilha de Ligação e Observação nasceu da necessidade de adequar a organização da Força Expedicionária Brasileira à doutrina norte-americana que preconizava a existência de componente aéreo nas Artilharias Divisionárias, com escopo de potencializar a observação e a coordenação de fogos.

Assim sendo, em 20 de julho de 1944, o Aviso Ministerial 57, do então Ministério da Aeronáutica, criou essa singular Organização Militar, vinculada à 1ª Divisão de Infantaria da Força Expedicionária, composta por militares da Força Aérea (oficiais e sargentos aviadores, sargentos especialistas, cabos e soldados) e do Exército (oficiais observadores e subalternos) tendo como comandante o Capitão-Aviador João Affonso Fabrício Belloc da FAB e como seu subcomandante o Capitão de Artilharia do Exército Adhemar Gutierrez Ferreira.

Após um período de treinamento no Campo dos Afonsos, a Esquadrilha embarcou para a Itália em 22 de setembro de 1944, partindo do Rio de Janeiro, como parte do 3º Escalão da FEB, alcançando o solo italiano em 6 de outubro.

Em 12 daquele mês, a ELO chegou a Livorno. No dia 28, acampou nos arredores de Pisa, onde, no dia 5 de novembro, recebeu as aeronaves Piper L-4A/B e iniciou a adaptação.

O Piper L4A/B era um avião para dois tripulantes, desenvolvido para uso militar, durante a Segunda Guerra Mundial, a partir do modelo civil “Cub Trainer”, um avião de turismo. 1 Ao todo, a ELO recebeu 10 unidades.

Finalmente, em 12 de novembro de 1944, 115 dias após a sua criação, a ELO cumpria sua primeira missão de guerra: o Primeiro-Tenente Aviador João Torres Leite Soares e o observador Primeiro-Tenente do Exército Oswaldo Mescolin fizeram um voo de reconhecimento ao norte dos Apeninos.

Em 10 de dezembro de 1944, a ELO se estabeleceu em Suviana, sua mais longeva base de operações (permaneceria nela até 18 de março de 1945), de onde cumpriu a maior parte de suas missões.

Ao contrário das tropas terrestres, que tiveram no inverno de 44-45 um momento de descanso, a ELO permaneceu em atividade durante todo aquele interregno, 2 reconhecendo os possíveis alvos para a retomada das operações.

Nesse mister, foi lançada na conquista de Monte Castelo em 21 de fevereiro de 1945.

Um dos episódios notáveis da tomada de MONTE CASTELLO foi a ordem recebida pelos pilotos, diretamente do comando da AD, para saírem da altitude de segurança, a fim de melhor apoiarem a nossa dura infantaria que estava “sangrando nas encostas de MONTE CASTELLO”. Essa ordem, cumprida à risca, (da altitude de 3.000m, para a de 2.000m) permitiu a identificação e consequente neutralização até de morteiros inimigos, não obstante a tremenda reação antiaérea dos Tedescos”3

Nunca é demais recordar que a antiaérea alemã era dotada dos legendários canhões 88 mm Flak 18/36/37/41, tão eficientes que se prestavam à defesa anti–carro.

Em março, a ELO deslocou-se para Porreta Terme, oportunidade em que os observadores colaboraram com a perseguição às colunas alemãs, em retirada para o Vale do Rio Pó.

Infelizmente, para os infantes, mais do que para quaisquer outros combatentes, a participação da AD na tomada de Montese não pôde contar com o concurso do vetor aéreo, devido ao mau tempo.

Não só a FEB se serviu dos préstimos da ELO: a esquadrilha apoiou tropas inglesas e estadunidenses e teve participação decisiva no resgate do Aspirante a Oficial Raymundo da Costa Canário, do 1º Grupo de Aviação de Caça, cujo avião, um P-47, caiu durante uma operação, não antes do piloto saltar de paraquedas.

A cena foi presenciada pelo Tenente Elber de Melo Henriques, observador do Exército, que estava em missão de observação na linha de contato inimiga, que pôde informar a localização da aterragem ao Comando da AD, que logo providenciou o resgate.

A 29 de abril, a ELO fez sua última missão de combate, com um L-4H, pilotado pelo Aspirante a Oficial Aviador Cornelio Lopes Cançado, tendo como observador o Segundo-Tenente Iônio Portela Ferreira Alves, partindo do campo de Montecchio Emiglia.4

No mesmo dia, a 148ª Divisão de Infantaria Alemã se rendeu à FEB em Fornovo di Taro.

Encerrava-se gloriosamente a Campanha da Itália.

Ao todo foram 184 dias de campanha, 684 missões, contando com 1956 voos, onde foram feitas 400 regulações de artilharia, perfazendo um total de 1.282 h 50 min voadas.5

A intensa atividade realizada, mais de 35 missões aéreas sobre território inimigo para cada tripulação, rendeu aos pilotos e observadores a condecoração “Air Medal” do governo dos EUA.

Atestando o elevado padrão de desempenho atingido, o General Mascarenhas de Moraes se referiu a essa singular unidade de soldados de terra e ar, nos seguintes termos:

Dizer do seu trabalho nesta Campanha é cantar um hino ao destemor e a noção do dever dos aviadores e artilheiros que a constituem”.6


 

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Joelson Rodrigues de. A primeira Esquadrilha de Ligação e Observação como uma unidade de reconhecimento da Força Aérea Brasileira. Especialista em Altos Estudos em Defesa. Escola Superior de Guerra. Brasília. 2020.

GONÇALVES, Daniel Evangelista. “Olho Nele!” Esquadrilhas de Ligação e Observação Vigília Constante em Defesa da Pátria. Rio de Janeiro. Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica. 2016.

MASCARENHAS DE MORAES, J.B. A FEB pelo seu comandante. 2ª Edição.

Rio de Janeiro. BIBLIEx 2005.

VILANOVA, F. Vasques. Com a 1ª ELO na Itália. Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica: Rio de Janeiro, 1991.

1 GONÇALVES, Daniel Evangelista. “Olho Nele!” Esquadrilhas de Ligação e Observação Vigília Constante em Defesa da Pátria. Rio de Janeiro. Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica. 2016, p10.

 

2 HENRIQUES, Élber de Mello. A FEB: Doze anos depois. BIBLIEx: Rio de Janeiro,1959, p204-205, apud GONÇALVES, Daniel Evangelista. “Olho Nele!” Esquadrilhas de Ligação e Observação Vigília Constante em Defesa da Pátria, p18.

3. Id,p19.

4 A ELO ainda ocupou posição em Piacenza (04/05/45 a 09/05/45), Portalbera (09/05/45 a 12/06/45) e Bergamo (12/06/45 a 16/06/45).

5

6 Boletim Interno nº 120, de 30 de abril de 1945 da DIE, apud GONÇALVES, Daniel Evangelista. “Olho Nele!” Esquadrilhas de Ligação e Observação Vigília Constante em Defesa da Pátria, p22-23.

 

CATEGORIAS:
História
TAGS:
#feb,

Comentarios

Comentarios

Navegación por categorías

Artigos Relacionados