A defesa da Amazônia ultrapassa os limites da geografia e da segurança nacional. Ela envolve questões ambientais, sociais, culturais e geopolíticas. Localizada no ponto mais ao noroeste do Brasil, a 2ª Brigada de Infantaria de Selva (2ª Bda Inf Sl), sediada em São Gabriel da Cachoeira (AM), representa um dos pilares da presença efetiva do Estado Brasileiro na região da tríplice fronteira com a Colômbia e a Venezuela.
A atuação dessa Brigada é essencial para a garantia da soberania nacional, a vigilância e proteção das fronteiras amazônicas, o apoio às comunidades indígenas e o enfrentamento de ameaças transnacionais como o tráfico, a mineração ilegal e a degradação ambiental. Este artigo analisa o papel estratégico da 2ª Brigada de Infantaria de Selva, destacando seu valor como vetor de estabilidade e presença nacional em uma das áreas mais sensíveis do continente sul-americano.
Presença e vigilância na faixa de fronteira
A 2ª Bda Inf Sl possui unidades desdobradas, estrategicamente posicionadas, com a missão de defender e desenvolver a região, ao longo de vastas e remotas regiões fronteiriças com 7 (sete) pelotões especiais de fronteira (PEF), dispostos na seguinte ordem de criação: em 1940, foi inaugurado o 4º Pelotão Especial de Fronteira (4º PEF) com sede em Cucuí. Segundo os nativos, Cucuí significa, em linguagem indígena, "Caído do Céu". Em 17 de junho de 1988, foi inaugurado o 1º Pelotão Especial de Fronteira (1º PEF) sediado em Yauaretê e, também, inaugurado o 3º Pelotão Especial de Fronteira (3º PEF) sediado em São Joaquim. Em 1º de setembro de 1988, foi inaugurado o 2º Pelotão Especial de Fronteira (2º PEF), sediado em Querari. Em 29 de abril de 1989, foi instalado um destacamento em Maturacá, 6º Pelotão Especial de Fronteira e em 30 de maio de 1999, foi inaugurado o 6º Pelotão Especial de Fronteira (6º PEF) com sede em Pari-Cachoeira e 7º Pelotão de Especial de Fronteira. Em 04 de abril de 2003, foi criado o 7º Pelotão Especial de Fronteira (7º PEF) com sede em Tunuí-Cachoeira, todos localizados na região conhecida como “Cabeça do Cachorro”, a noroeste do Brasil. Esses postos cumprem o papel de sentinelas avançados da Pátria, atuando como olhos e ouvidos do Estado em áreas onde a presença governamental é limitada.
A atuação da Brigada vai além da dissuasão militar. Ela assegura o controle de fluxos fronteiriços, coíbe ilícitos e permite respostas rápidas a qualquer ameaça externa. A simples presença contínua do Exército na região representa um sinal inequívoco de soberania e comprometimento do Brasil com sua integridade territorial.
Integração com as comunidades indígenas
São Gabriel da Cachoeira é o município com maior presença indígena do Brasil, abrigando mais de 20 etnias. A 2ª Bda Inf Sl mantém uma relação de respeito e cooperação com essas populações, muitas das quais integram as fileiras do Exército como soldados temporários ou prestadores de serviço militar obrigatório.
Essa integração cultural e operacional favorece a aceitação da presença militar na população são-gabrielense, fortalece o tecido social da região e amplia a eficiência das operações. O soldado indígena é um elo vital entre o Exército e a floresta: ele conhece a mata, os rios, os caminhos invisíveis e a cultura local, tornando-se um multiplicador estratégico do poder militar na região.
Além disso, por meio de ações cívico-sociais, como atendimentos médicos, transporte de mantimentos, apoio à vacinação e reconstrução de escolas e pistas de pouso, a Brigada reforça a percepção de que a defesa também se faz com cuidado, presença e solidariedade.
O combatente de selva: preparo e adaptação
Operar na Amazônia exige preparo físico, psicológico e técnico fora do padrão convencional. O combatente de selva da 2ª Brigada passa por treinamento específico, baseado em técnicas de sobrevivência, deslocamento, orientação e combate em ambiente hostil e isolado.
Entre as capacidades desenvolvidas, destacam-se:
- Operações fluviais e patrulhamento ribeirinho;
- Técnicas de camuflagem e infiltração em mata fechada;
- Navegação terrestre e aquática em condições adversas;
- Uso de armamento e equipamento adaptados à selva tropical; e
- Habilidades de primeiros socorros e manutenção da vida em isolamento.
O Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) é a matriz doutrinária desse preparo individual. A 2ª Bda Inf Sl aplica essa doutrina na prática cotidiana de suas tropas. Elas permanecem semanas e, até meses, em missão de campanha, isoladas da base e enfrentando os desafios do terreno amazônico.
A 2ª Brigada de Infantaria de Selva representa uma das expressões mais autênticas da presença e da força do Exército Brasileiro na Amazônia. Sua atuação não se restringe à esfera militar: ela alcança o plano social, cultural e ambiental. Ao garantir a segurança na tríplice fronteira, proteger comunidades indígenas e operar em condições extremas, a Brigada fortalece o elo entre o Brasil e sua floresta, entre o poder de Estado e o respeito à diversidade.
Em tempos de desafios globais sobre a preservação e a soberania da Amazônia, a existência, o preparo e a atuação da 2ª Bda Inf Sl são provas concretas de que a defesa do Brasil começa pela presença firme na sua região mais estratégica: o coração verde da Pátria.
“Na linha invisível que delimita nações, o Exército Brasileiro ergue uma barreira concreta de presença, preparo e proteção.” 2º Ten Hildemar
Referências.
1. MINISTÉRIO DA DEFESA. Livro Branco de Defesa Nacional. Brasília: MD, 2020.
2. CENTRO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS DO EXÉRCITO (CEEEx). A Defesa da Amazônia: Perspectivas Geoestratégicas. Rio de Janeiro: CEEEx, 2022.
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