O RAIO-X NO EXÉRCITO BRASILEIRO: DA IMPLANTAÇÃO À MEDICINA NUCLEAR NO HFA

Autores: 2º Sgt Anderson
Quarta, 01 Outubro 2025
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A descoberta dos raios-X por Wilhelm Conrad Roentgen, em 8 de novembro de 1895, na Alemanha, representou um marco para a medicina diagnóstica mundial. Apenas dois anos depois, essa tecnologia já começava a ser empregada no Brasil. No contexto militar, sua primeira utilização documentada ocorreu durante a Guerra de Canudos, em 1897, na Bahia. Na ocasião, médicos do Exército utilizaram a radiografia para localizar projéteis em soldados feridos, marcando o início da aplicação da técnica no cenário militar brasileiro (Ferraz, 2005).

Em 1906, o Exército Brasileiro importou os primeiros aparelhos de raio-X para uso permanente em suas unidades hospitalares do Rio de Janeiro, então capital federal. O Hospital Central do Exército (HCE), mais antiga organização de saúde do Exército Brasileiro, teve origem no Hospital Real Militar e Ultramar, criado em 1768, no Morro do Castelo, no Rio de Janeiro. A radiologia, entretanto, ainda era restrita a poucos centros médicos, funcionando de forma experimental.

Durante a Revolta da Vacina (1904) e outros distúrbios civis da primeira metade do século XX, como a Revolta da Chibata (1910), os serviços médicos militares começaram a estruturar suas práticas diagnósticas. Contudo, foi nas décadas seguintes que a radiologia militar ganhou maior relevância.

A experiência positiva em Canudos influenciou a adoção mais sistemática da radiologia em conflitos internos posteriores. Durante a Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932, a utilização dos raios-X foi empregada com mais organização para triagem e avaliação de feridos em combate. A prática demonstrou ser eficaz no diagnóstico de fraturas, lesões torácicas e na localização de corpos estranhos, como estilhaços e balas (Silva, 2019).

Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial (1942–1945), a medicina militar passou por uma reestruturação profunda. A criação da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que atuou na Itália entre 1944 e 1945, exigiu a montagem de hospitais de campanha com serviços móveis de radiologia. As imagens radiográficas, embora realizadas em condições precárias, foram decisivas para salvar vidas e permitir intervenções rápidas e precisas (Pinto, 2014).

Após a guerra, o retorno dos combatentes e o acúmulo de experiências no exterior motivaram a criação de hospitais militares mais modernos. Em 1949, foi inaugurado oficialmente o Hospital Central do Exército (HCE), no Rio de Janeiro, como referência nacional em saúde militar. O HCE incorporou aparelhos radiológicos fixos, salas de revelação e início da fluoroscopia, consolidando a radiologia como disciplina essencial da prática médica militar (Lima & Costa, 2018).

Em 1972, foi aprovado o projeto do Hospital das Forças Armadas (HFA), que foi oficialmente inaugurado em 21 de abril de 1981. Desde sua fundação, o HFA foi dotado de equipamentos de diagnóstico por imagem de última geração, com setores estruturados de raio-X digital, tomografia computadorizada e ressonância magnética, voltados ao atendimento integrado das Forças Armadas (Nunes & Barros, 2020).

Um marco na história da radiologia militar no Brasil foi a criação, no HFA, do Serviço de Medicina Nuclear, cuja implantação se iniciou nos anos 1990 e foi consolidada na década seguinte. Essa modalidade diagnóstica, baseada na administração de radiofármacos, permitiu novos horizontes para a medicina militar, ao viabilizar exames funcionais como cintilografias ósseas, cardíacas e renais, e tratamentos com iodo radioativo, entre outros (Lopes et al., 2021).

Enquanto os exames radiológicos convencionais fornecem imagens anatômicas, a medicina nuclear analisa funções metabólicas em tempo real, sendo especialmente relevante para o diagnóstico precoce do câncer, doenças cardíacas e distúrbios neurológicos. O HFA consolidou-se, assim, como um dos poucos hospitais públicos brasileiros a oferecer essa tecnologia com uso dual de SPECT-CT e PET-CT, empregada tanto no diagnóstico como em terapias específicas (Rodrigues, 2022).

O Hospital Militar de Área de Brasília recebeu, em maio de 2025, um novo tomógrafo uCT 780 da United Imaging, instalado no setor de Radiologia. O equipamento incorpora tecnologia de ponta para a realização de exames tridimensionais de alta definição, com doses de radiação otimizadas e maior rapidez nos escaneamentos. Isso proporciona mais segurança ao paciente e maior precisão no diagnóstico, fortalecendo a capacidade do hospital em atender tanto militares ativos como veteranos e dependentes.

Além da assistência, os hospitais militares têm papel estratégico na formação de profissionais. O Programa de Residência Médica em Radiologia e Diagnóstico por Imagem do HFA, iniciado em 2004, tornou-se referência nacional, formando médicos para atuação tanto no meio militar quanto no civil. A capacitação permanente garante a atualização científica e a excelência na prestação do serviço de saúde (Silva, 2019).

Portanto, a trajetória do raio-X no Exército Brasileiro, desde 1897 até os dias atuais, revela um compromisso constante com a ciência, a inovação tecnológica e a valorização da saúde do combatente. De um exame rudimentar no sertão da Bahia, durante a Guerra de Canudos, às modernas salas de medicina nuclear no HFA, essa evolução reflete a convergência entre segurança nacional e cuidado com a vida.


 

Referências

FERRAZ, M. L. História da Radiologia no Brasil. Revista Brasileira de Radiologia, v. 39, n. 1, p. 7–12, 2005.

HMAB. Chegada de novo Tomógrafo. Brasília: Setor de Radiologia, 2025.

LIMA, A. M.; COSTA, P. F. O papel do Hospital das Forças Armadas na saúde militar brasileira. Revista Defesa & Saúde, v. 3, n. 2, p. 122–136, 2018.

LOPES, M. C. et al. Avanços na Medicina Nuclear: Aplicações Militares e Civis. Revista Brasileira de Medicina, v. 78, n. 5, p. 422–430, 2021.

NUNES, R. T.; BARROS, L. M. Medicina nuclear no HFA: Uma nova fronteira do diagnóstico militar. Caderno de Saúde Militar, v. 12, n. 1, p. 19–27, 2020.

PINTO, G. B. Radiologia militar na FEB: Relato histórico e técnico. Revista História Militar Brasileira, v. 2, n. 1, p. 33–46, 2014.

RODRIGUES, V. F. Formação médica nas Forças Armadas: uma análise do ensino em radiologia. Revista Educação e Defesa, v. 10, n. 1, p. 67–81, 2022.

SILVA, R. J. A evolução da medicina no Exército Brasileiro: da enfermagem de campanha à alta complexidade. História da Saúde Militar, v. 5, p. 45–60, 2019.

 

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