A Arma de Engenharia tem por missão auxiliar a mobilidade, a contramobilidade e a proteção, além de prestar o apoio geral de engenharia, constituindo-se um fator multiplicador do poder de combate das tropas.
Sua atuação permite o constante adestramento e aprimoramento dos quadros da Força. Isso porque, no planejamento, na execução e no controle de obras públicas em tempos de paz, há trabalhos muito semelhantes aos que seriam executados em um eventual conflito militar. Acrescenta-se, ainda, que os serviços de engenharia de grande complexidade técnica são entregues, em numerosos casos, com apreciável economia de recursos e, por vezes, com antecipação do cronograma inicialmente planejado.
“O futuro não é um lugar onde estamos indo, mas um lugar que estamos criando. O caminho para ele não é encontrado, mas construído. E o ato de fazê-lo muda tanto o realizador quanto o destino” (Saint-Exupéry).
Na década de 1970, o Governo Brasileiro planejava ampliar a presença militar na Amazônia, com intuito de implementar solução para os problemas de integração nacional e de desenvolvimento daquela Região. Para tanto, um dos caminhos encontrados foi o da implantação da Rodovia da Perimetral Norte BR-210 e o da construção da Rodovia BR-307.
Para materializar essa ação estratégica, o dia 23 de abril de 1973 deflagrou, por força de Decreto Ministerial, jornada ilimitada no tempo, cuja origem deu-se pela transferência do 1º Batalhão de Engenharia de Construção, de Caicó, na região semiárida do Seridó, no Rio Grande do Norte, em direção à equatorial isotérmica Waupés - atual São Gabriel da Cachoeira - na região da Cabeça do Cachorro, no Amazonas, em marcha do Nordeste para o Noroeste, tendo como objetivo a construção da BR 307 e, consequentemente, de belo futuro para área de grande importância estratégica e geopolítica para o Brasil, sob o lema “construir para bem servir”.
A chegada do 1º Escalão do Destacamento Precursor a Waupés, composto por oficiais, praças e civis, e que tinha como propósito a preparação da infraestrutura para o recebimento do restante do Batalhão na cidade, deu-se exatamente às 13:00 horas do dia 18 de julho, tendo ele sido recebido com muito entusiasmo pelo Sr. Francisco Chagas, prefeito do município, à época.
Os árduos trabalhos de instalação - que abrangiam os de fixação do acantonamento, de desmatamento, de terraplenagem da área do aquartelamento, de construção de casas de taipa e de madeira para os servidores militares e civis, de instalação do Comando do Batalhão, etc - foram executados com brilhantismo, o que garantiu o necessário conforto para dar seguimento aos seus compromissos institucionais, especialmente o de coadjuvar na construção da BR-307, cujo cumprimento foi tratado como patriótica missão de integração nacional, a partir da Amazônia, obra descomunal que somente seria de possível realização por meio do invicto Exército de Caxias.
Ao embrenhar-se pelo alto rio Negro, na floresta tropical, levou consigo, primordialmente, a missão de, em tempos de paz, cooperar para o desenvolvimento e o bem-estar nacionais, sem prejuízo às demais a si inerentes, o que a tornou efetiva artífice do crescimento e da integração do povo amazonense, irradiador, como sonharam nossos antepassados, do centro para as extremidades do estado, com a firmeza necessária para enfrentar as inúmeras dificuldades que se contrapunham às obras ali necessárias, e à sua manutenção e acréscimos em solo tão inóspito.
As incertezas proporcionadas pela mudança e o receio quanto ao desconhecido, eram muitas. Mas nada disso deteve a tropa, a qual pautou sua atuação nas máximas populares que ensinam ser “a coragem a primeira das qualidades humanas, porque ela garante todas as outras”; que “o ideal é ainda a alma de todas as realizações”; e que “sem desafios, não há evolução”.
Tal mister, além de envolver os encargos de vigilância, de defesa e de contribuição para o desenvolvimento da Amazônia, conferia ao 1º B E Cnst a responsabilidade precípua pela construção e manutenção da BR-307, e de todas as demais obras que a ela eram inerentes e necessárias, em meio às infindáveis adversidades enfrentadas naquele extremo territorial brasileiro, debruçado sobre o Rio Negro, entremeado por selva fechada e magníficos rios.
Nove anos após sua chegada – em 1982 - o 1º Batalhão de Engenharia e Construção deixou São Gabriel da Cachoeira e voltou para Caicó (RN), sua cidade de origem.
Entretanto, o Exército Brasileiro cuidou por manter no município a 1ª Cia de Eng de Cnst, a qual passou a ter a responsabilidade exclusiva de dar continuidade a todos os trabalhos que originalmente levaram o Batalhão à selva amazônica, bem como a assumir inúmeros outros.
Em 1989, a Rodovia BR-307 foi inaugurada, contando com a presença do então Presidente da República José Sarney, fato que refletiu a sua importância como elo propiciador de desenvolvimento entre a cidade de São Gabriel da Cachoeira e um dos seus mais importantes distritos, Cucuí, na tríplice fronteira Brasil-Venezuela-Colômbia, onde está localizada a Base de Operações do 4º Pelotão Especial de Fronteira.
A excelência presente em todos os detalhes dos trabalhos realizados na selva pela Engenharia do Exército Brasileiro retrata cada um de seus partícipes, gente de fibra, homens e mulheres, militares e civis, que efetivamente colaboraram para a construção do Brasil, no seu sentido mais amplo, plenamente cônscios de que eram transformadores de sonhos em realidade.
O ano de 1996 marcou o recebimento, pela 1ª Cia, da denominação histórica de “Companhia Guilherme Carlos Lassance”, em homenagem ao célebre tenente-engenheiro do Exército Brasileiro, partícipe efetivo da Guerra do Paraguai, cuja expertise profissional e feitos emblemáticos o destacaram e o fizeram amplamente reconhecido pelos seus pares na Campanha da Tríplice Aliança.
Convolada de 1ª para 21ª Cia de Eng de Cnst no ano de 2003, manteve-se firme no labor pela proteção ao território nacional, além de embrenhar-se em diversas frentes de trabalho, capitaneadas pelos serviços de engenharia, de forma a proporcionar importantes melhorias nas condições de vida do povo amazonense, honrando o seu lema “Combater e construir” e buscando a perfeição em tudo o que faz, de modo que mesmo após a morte de seu realizador, permanece.
Os últimos 52 anos lapidaram esse “construtor do progresso e para a vitória”; consolidaram sua reputação de superioridade no labor; confirmando, por tudo o que fez, sua perene prontidão para atuar interna e externamente, em tempos de paz e de guerra, sob fogo inimigo, em apoio à tropa amiga na missão, para a glória do Brasil, enquadrando-se perfeitamente nas sábias palavras do General Rodrigo Octávio, para quem "Árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a de nossos antepassados em conquistá-la e mantê-la"!
Atualmente, com seu requinte em construir, consolidada e reconhecida, continua com obstinação a lutar e a trabalhar, sem cessar, como autêntica pioneira que é de um Brasil mais forte, firme no ensinamento filosófico de que “de longe, o maior prêmio que a vida oferece é a chance de trabalhar muito e de se dedicar a algo que vale a pena”.
Existe uma imensidão à espera da valorosa atuação da Engenharia do Exército, e muito dela, para doar-se ao Amazonas e ao País. Há, especialmente, variados motivos para comemorar-se, fruto de todo um passado de exemplar dedicação à Pátria e à Amazônia Brasileira, pilares sólidos que mantêm vivas e patentes as esperanças por um Brasil sempre e cada vez melhor, as quais devem ser tratadas como missões a serem cumpridas; como sonhos a serem realizados.
Aristóteles e Augusto dos Anjos, ora parafraseadas, ensinam que a esperança é o sonho do homem acordado. Um sonho feito de despertares. Ela não murcha; ela não cansa. Também, como ela não sucumbe à crença, vão-se sonhos nas asas da descrença, voltam sonhos nas asas da Esperança.
Certamente, este pouco mais de meio século de história é apenas um pedaço da eternidade que a espera.
Parabéns, Engenharia do Exército Brasileiro!
Fontes de consulta:
https://cma.eb.mil.br/index.php/missao-e-valores
https://2gpte.eb.mil.br/index.php/general-rodrigo-octavio
https://21ciaecnst.eb.mil.br/index.php/historico
https://6bec.eb.mil.br/index.php?option=com_content&view=article&id=248&Itemid=317
https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/militares-amazonia/txt_AdrianaMarques.pdf
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