O Brasil detém 98% das reservas de Nióbio (Nb) da produção mundial, seguido do Canadá, com 1,1%. Somente duas empresas produzem Nb no Brasil: a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), localizada em Araxá (MG), e a CMOC, subsidiária da China Molybdenum Company Ltda, localizada nos municípios de Catalão e Ouvidor (GO).
Embora seja um minério abundante em solo brasileiro, não é raro. Existem 85 reservas de Nb em vários países, entretanto, não há exploração comercial, haja vista o consolidado know-how tecnológico da CBMM e da CMOC no Brasil (PEDUZZI, 2019).
Os EUA foram os primeiros a classificar o Nb como recurso estratégico. O interesse do governo americano pelas reservas brasileiras não é recente, e tem origem na importância do Nb como insumo para as Indústrias de Defesa (IBRAM, 2010). A definição de metal estratégico depende de três fatores: i) a importância da matéria-prima para a indústria local, em termos de aplicação; ii) a possibilidade de substituição por outros produtos; e iii) a disponibilidade do mineral no mercado interno.
A Amazônia Ocidental possui uma das maiores reservas mundiais de Nb, que corresponde a 21,34% do total, sendo que uma está localizada no município de São Gabriel da Cachoeira, e outra no município de Presidente Figueiredo, ambos no estado do Amazonas. Nesse último, encontra-se a Mineração Taboca, principal empresa exportadora do produto para a China (AMAZONAS, 2022).
A Mineração Taboca é responsável pela fundição dos minérios columbita e pirocloro, comercializados sob duas formas: Ferro-Nióbio (FeNb) e Ferro-Nióbio-Tântalo (FeNbTa). A liga de FeNb contém 55% de Nb, sendo utilizado na indústria siderúrgica para a fabricação de aços especiais em diversos segmentos econômicos tais como: construção civil, indústrias naval, automotiva, óleo e gás, e energias renováveis. Por sua vez, o FeNbTa, com 6% de Ta, é utilizado na indústria química para obtenção de produtos de alta pureza e performance destinados às indústrias eletrônica (capacitores e outros componentes), aeroespacial (turbinas) e diversas áreas da saúde como implantes e marcapassos (TABOCA, 2024).
Equipamentos, como o telescópio espacial Hubble e o acelerador de partículas Grande Colisor de Hádrons contêm Nb em suas ligas ou condutores. O metal também pode ser encontrado em reatores nucleares, plataformas de petróleo, equipamentos médicos e turbinas de avião (FIEP, 2019).
Na região do município de São Gabriel da Cachoeira(AM), o Nb é encontrado na Reserva Biológica Morro dos Seis Lagos (RBMSL), com uma área de 36.900,00 ha (369 Km2), criada pelo Decreto Nº 12.836, de 09 de março de 1990 (DOE, 1990). O Morro dos Seis Lagos foi descoberto na década de 70, pelo Projeto Radar da Amazônia (RADAM), organizado pelo Ministério de Minas e Energia, por meio do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), com recursos do Plano de Integração Nacional (PIN) (BENTO, 2018).
A RBMSL encontra-se situada em plena Floresta Amazônica, próximo à fronteira do Brasil com a Venezuela e a Colômbia. Apesar do seu potencial estimado em cerca de 2,9 bilhões de toneladas de Nb, sua exploração não é autorizada, em razão de a Reserva encontrar-se na Terra Indígena Balaio, e dentro de áreas de proteção ambiental, como o Parque Nacional do Pico da Neblina (FILHO; RAMIREZ, 2023).
Para chegar ao Morro dos Seis Lagos, a partir de São Gabriel da Cachoeira, utiliza-se a precária BR-307, por cerca de 65 km até a ponte sobre o Igarapé Iá-Mirim, sendo que a partir desse ponto, é necessário seguir por meio de uma embarcação de pequeno porte até o sopé do Morro.
O Nb caracteriza-se por suas propriedades como resistência e supercondutividade. A siderurgia utiliza a maior parcela do FeNb, como elemento de liga na produção de aços especiais e inoxidáveis, conferindo maior resistência à corrosão, à oxidação, às altas temperaturas, maior leveza, melhor ductilidade e maior tenacidade (SOARES, 2021).
Desde 2022, a CBMM em parceria com universidades e institutos de pesquisa desenvolvem tecnologias para o emprego no setor de mobilidade elétrica, a partir do uso do Óxido de Nióbio (Nb2O5) em baterias de íons de Lítio (Li). Entre os benefícios estão o carregamento ultrarrápido (<10 minutos), maior segurança, aumento da vida útil e maior densidade energética.
Na área da saúde, o Nb pode ser usado em ligas hipoalergênicas, que são adaptáveis ao corpo humano e, por isso, são usadas em aparelhos médicos como marca-passos e próteses.
A Taurus, Empresa Estratégica de Defesa (EED), desde 2021, tem investido em novas tecnologias, como o MIM (Metal Injection Molding), uma alternativa na produção de peças com baixo custo e alto volume, otimizando a produtividade da empresa. Na indústria de armamento, as propriedades Nb incluem a capacidade de resistir a temperaturas extremas, impactos e corrosões.
A Força Aérea Brasileira (FAB), por meio do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), em parceria com o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), deu início ao desenvolvimento de baterias de Li, por meio de tecnologias à base de grafeno e materiais de Nb – como supercapacitores – para atender à Indústria Aeronáutica e a Base Industrial de Defesa (FAB, 2023). Os supercapacitores são dispositivos de alta potência e podem trabalhar de maneira híbrida com baterias, que suprem altos níveis de armazenamento de energia, oferecem longos ciclos de vida útil, e atendimento de requisitos de equipamentos de alta demanda de potência como veículos elétricos, sistemas aeroespaciais, sistemas de internet das coisas, dentre outras tecnologias avançadas (FAB, 2023).
No Exército Brasileiro, o Nb pode ser aplicado em equipamentos militares, como a blindagem de viaturas, devido à sua capacidade de absorver energia e resistir à deformação (ductibilidade), bem como de componentes eletrônicos como capacitores, essenciais para aplicações em sistemas de comunicação, radar e controle de armas.
Depreende-se que há uma gama de possibilidades e aplicabilidades do Nb em tecnologias e produtos militares, em particular, nos setores metalmecânico e eletroeletrônico. Além de ser uma fonte de receita significativa no mercado de exportação, sua utilização pode impulsionar a inovação e a competitividade do País no cenário internacional, ampliando as capacidades das Forças Armadas. O investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação para o uso do Nb pode alavancar a economia na região amazônica, fortalecer e ampliar a participação na BID na exportação de produtos de defesa no mercado global.
Do exposto, a partir da imperiosa necessidade de consultas públicas e de um profundo debate com a sociedade, envolvendo o setor público e privado, a presença do Nb no Morro dos Seis Lagos apresenta-se como grande potencial de exploração, pesquisa, inovação e desenvolvimento regional sustentável.
REFERÊNCIAS
AMAZONAS. Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação. Balança Comercial do Amazonas, 4ª ed., Abr., 2022.
ARAÚJO, L. B. M. Mundo Educação. Nióbio, 2024. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/quimica/niobio.htm#:~:text=O%20ni%C3%B3bio%20atualmente%20%C3%A9%20utilizado,se%20deve%20%C3%A0s%20suas%20propriedades. Acesso em: 19 abr. 2024.
BENTO, J. P. P. Reavaliação dos Recursos Minerais de Nióbio no Complexo Carbonatítico Morro dos Seis Lagos, Amazonas. Trabalho de Conclusão de Curso. Geologia, UFRJ, 2018.
DOE. Diário Oficial do Estado do Amazonas. Decreto Nº 12.836, de 09 de março de 1990. Cria a Reserva Biológica Morro dos Seis Lagos, 1990. Disponível em: https://documentacao.socioambiental.org/ato_normativo/UC/485_20101019_083355.pdf. Acesso em: 18 abr. 2024.
FAB. Força Aérea Brasileira. FAB desenvolve supercapacitores a partir de eletrodos de nanomateriais no IAE, 2023.
FIEP. Brasil tem a maior reserva ativa de nióbio, são cerca de 98,4% do total mundial, 2019. https://www.fiepr.org.br/boletins-setoriais/6/especial/brasil-tem-a-maior-reserva-ativa-de-niobio-sao-cerca-de-984-do-total-mundial-2-32022-413487.shtml. Acesso em: 21 abr. 2024.
FILHO, J. B.; RAMIREZ, Y. S. Portal Amazônia. Amazônia: uma das maiores reservas de nióbio do planeta, dez. 2023. Disponível em: https://portalamazonia.com/amazonia-ameaca-ou-oportunidade/amazonia-uma-das-maiores-reservas-de-niobio-do-planeta. Acesso em: 07 abr. 2024.
IBRAM. Commodities: Nióbio está na mira do Pentágono, 2010. Disponível em: https://ibram.org.br/noticia/commoditiesniobio-esta-na-mira-do-pentagono-ha-muito-tempo-diz-mineradora/. Acesso em: 18 abr. 2024.
PEDUZZI, P. Agência Brasil. Brasil detém 90% do mercado mundial de Nióbio, 2019. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2019-11/brasil-detem-90-do-mercado-mundial-de niobio#:~:text=%E2%80%9CSe%20muitas%20n%C3%A3o%20est%C3%A3o%2C%20atualmente,um%20mercado%20pequeno%E2%80%9D%2C%20argumentou. Acesso em: 20 abr. 2024.
SOARES, D. R. Comércio Exterior. Potencial econômico do nióbio, 2021. Disponível em: https://comercioexterior.furg.br/estudo-pesq/an%C3%A1lise-discente/94-potencial-econ%C3%B4mico-do-ni%C3%B3bio-por-daniel-soares.html. Acesso em: 20 abr. 2024.
TABOCA. Nossos Produtos. Disponível em: https://www.mtaboca.com.br/paginas/produtos.aspx. Acesso em: 20 abr. 2024.
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