A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil (Constituição Federal, Art. 13).
No âmbito das Forças Armadas e do Exército, em particular, instituições nacionais e permanentes, não cabe o uso desnecessário e indevido de palavras e expressões em idiomas estrangeiros. O português nada deixa a desejar em relação às demais línguas civilizadas, muito pelo contrário, pois é extremamente rico em vocabulário, em acepções e em estruturas verbais e pronominais, permitindo expressar, com precisão e elegância, quaisquer ideias que se formulem.
O recurso a palavras estrangeiras, em inglês, na maioria das vezes (salvo na inexistência de um termo sinônimo em português), revela desprezo por nosso idioma e, convém que se diga, subserviência cultural. Quem se utiliza delas indevidamente, em substituição a palavras e expressões portuguesas com o mesmo significado, ou conhece mais o idioma estrangeiro do que o próprio ou se ilude por acreditar que o estrangeirismo atribui sofisticação à ideia expressada, exaltando o nível cultural de quem o utiliza. As pessoas que se valem de tal recurso julgam, erradamente, que a ideia desenvolvida fica assim valorizada, o que é falso, já que se trata apenas de uma máscara que nada lhe acrescenta objetivamente e não lhe altera de modo algum a substância.
Essa prática tem infelizmente se generalizado como artifício promocional em certas áreas profissionais, e entre as pessoas em geral, mas não deve se tornar comum no Exército, instituição nacional por natureza.
Não se pode dizer que tal prática seja inédita no Brasil. No passado, era à língua e aos padrões franceses que se recorria de preferência. No entanto, o manifesto da Semana de Arte Moderna de 1922 expressou reação a esse estado de coisas ao clamar “Tupi or not Tupi, that’s the question”, levantando a questão de ser ou não ser brasileiro. A partir de então, passou-se, entre outros procedimentos, ao abrasileiramento de formas linguísticas importadas: abat-jour tornou-se abajur; ballet, balé; flirt e football (palavras sem equivalentes exatos em português) tornaram-se flerte e futebol; e deixou-se de falar weekend etc.
Parece que estamos, atualmente, recaindo na antiga insegurança e no servilismo culturais, próprios de mentalidades (não mindset) colonizadas, que só reconhecem valor no que vem de fora, ou em uma versão estilizada do complexo de vira-lata, expressão imortalizada por Nelson Rodrigues: a tentativa de se atribuir superioridade mediante o mesmo linguajar dos supostos superiores.
Não despetalemos mais a última flor do Lácio. Convém lembrar Caetano Veloso, que afirmou poeticamente em uma de suas canções: “Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões [...] minha Pátria é minha língua”.
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