O Serviço Militar, compromisso obrigatório anual de todo brasileiro que completa 18 anos, é atividade que remonta a épocas antigas. Ao longo de mais de cem anos, as características físicas e intelectuais do jovem que se apresenta para a seleção vêm evoluindo com o desenvolvimento tecnológico.
Desde a sua informatização, o Serviço Militar reúne importante banco de dados, permitindo constatar que o perfil do jovem alistado se modificou ao longo do tempo. A Diretoria de Serviço Militar é o órgão técnico-normativo que regula as atividades do Serviço Militar. Para tanto, faz uso do "Sistema Eletrônico de Recrutamento Militar e Mobilização (SERMILMOB)".
Esse sistema corporativo, que gerencia o Serviço Militar inicial, contém dados definidores dos parâmetros de tributação, alistamento, seleção e designação de todos os cidadãos alistados para as três Forças (Marinha, Exército e Aeronáutica). São dados biométricos, antropométricos, sociais e educacionais de jovens dos diversos estratos. Trata-se de informações que permitem traçar cenário e panorama particulares à evolução do cidadão brasileiro.
Diante disso, em consulta ao banco de dados do SERMILMOB e consoante ao cenário que se deseja estabelecer, com mais de 25 milhões de registros de alistamento para o Serviço Militar inicial, no período 1980 a 2017, podemos verificar o seguinte.
Sob o ponto de vista do nível de escolaridade, é possível perceber melhora significativa. Na década de 1980, mais de 75% dos jovens possuía somente o ensino fundamental. Hoje, esse percentual representa quem possui o ensino médio, dos quais 20% têm esse curso concluído.
Outro dado relevante é que, em 1980, apenas 2% cursavam ou iniciavam o ensino superior ao se alistarem; hoje, são quase 10%. Esses dados demonstram que o ingresso no ensino médio, nas últimas décadas, ficou mais acessível. Com isso, chegam às nossas fileiras jovens mais bem escolarizados, que, incorporados, tornam-se militares potencialmente esclarecidos e capacitados a ler e entender instruções complexas, além de poderem usar material bélico avançado. Com maior preparo intelectual, eles se engajarão mais facilmente em cursos profissionalizantes do Sistema "S", possibilitando efetiva inserção no mercado formal de trabalho, quando de seu licenciamento.
O Sistema Serviço Militar, alinhado à Estratégia Nacional de Defesa, deve se adequar à Era da Informação e do Conhecimento, absorver as mudanças e acompanhar as tendências sociais, tecnológicas e culturais do ambiente em que se insere. Assim, na conjuntura atual, revestido pelas transformações no uso de equipamentos de defesa cada vez mais avançados e sofisticados, o Sistema necessita selecionar cidadãos para uma reserva mobilizável e contribuir na formação da consciência do brasileiro.
Para fins de alistamento, percebe-se melhora no perfil do jovem também em sua estatura. Registra-se aumento médio de quase 10 cm entre quem se alistou nos anos 1980 e nos dias atuais. É interessante notar que esse aumento acontece em todo o País, corroborando uma tendência comum nesse período – de melhor acesso a serviços que denotam qualidade de vida.
Entre 1980 e 2017, a redução de 12,2% na quantidade de brasileiros com estatura inferior a 1,60 m – altura considerada inapta para servir às Forças Armadas. Em contrapartida, 29,8% dos alistados possuíam altura maior que 1,70 m. Atualmente, esse percentual é de 67,2%, significando mais que o dobro dessa medida e ampliando o rol de opções para a seleção dos alistados.
A diferença de estatura do jovem brasileiro sofre sensível alteração, conforme a região de origem. Analisando os registros de 2017, percebe-se que, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, com exceção da capital do País, há a predominância de homens altos, com uma diferença de, aproximadamente, 5 cm para as regiões Norte e Nordeste.
Aumento de peso entre os jovens brasileiros acompanha o crescimentoAo longo dos anos, o Sistema Serviço Militar vem se adaptando às exigências dos novos tempos. Desse modo, a estatura do cidadão, associada ao peso e à força muscular, define, por meio de parâmetros inseridos no Sistema Eletrônico de Recrutamento Militar e Mobilização (SERMILMOB), o tipo físico mais adequado a ocupar uma função militar que mais se ajuste às potencialidades do selecionado.
Os dados computados no Sistema apontam aumento de peso do jovem brasileiro no período estudado. Mas, ainda que o conscrito tenha adquirido mais peso (na década de 1980, o peso médio era de 60 kg; atualmente, é de 70 kg), ao analisarmos o índice de massa corporal (IMC), percebemos leve alteração – de 21 para 23 – e, com isso, deduzimos que o aumento médio de peso permanece dentro do considerado apto e saudável.
Em tal cenário, o cidadão que possuir altura maior que 1,70 m e peso maior que 60 kg e, ainda, no teste realizado pelo dinamômetro, aferir força muscular superior a 127 kg, será considerado tipo físico "A". Nessa condição, esses atributos são considerados requisitos especiais, o que significa que, caso o cidadão possua essas especificações, possivelmente será distribuído para unidades nas quais seja exigido arquétipo físico acima da média para o exercício da função.
Reforçando o exemplo, outro aspecto avaliado no alistamento para o serviço inicial é a preocupação em selecionar jovens saudáveis, em virtude da redução nesse quantitativo de 4,7% entre 1980 e 2017, e do aumento na taxa de sobrepeso/obesidade de 3,4% para 17%.
Todavia, ressalta-se que a seleção de cidadãos para ingresso nas Forças Armadas é realizada pelos seguintes itens de avaliação: tipo físico (altura, peso e força muscular); entrevista (observa indícios importantes, tais como: personalidade, expressão verbal, controle emocional e competências); escolaridade; características fisiológicas (audição e expressão oral); e inspeção de saúde.
Como as Forças Armadas aproveitam as informações
Os dados armazenados pelo SERMILMOB demonstram que "servir à Pátria", mais que um serviço obrigatório, tem se tornado opção real e concreta para os jovens. De 2003 a 2017, essa manifestação diminuiu 25%. Entre os que desejam servir, o Exército figura como a principal escolha em relação às demais Forças.
Por meio dessas informações, as três Forças têm a capacidade de estudar o passado, pensar o presente e projetar o futuro: no presente, esses dados ajudam no melhor aproveitamento de um contingente preparado e interessado nas atividades militares; no futuro, para que as Forças possam realizar planejamento inteligente do seu efetivo, utilizando com mais precisão as habilidades e capacidades dos conscritos.
Por fim, os jovens, ao deixarem o serviço ativo, retornam à sociedade com novas habilidades e aptos para os diferentes desafios pessoais e profissionais, contribuindo para a projeção e a imagem das Forças Armadas.
*Referências: Banco de Dados do SERMLMOB.
Co-autora: 2º Ten OTT Mayra Gonçalves de Souza Rezende - Oficial de Comunicação Social da Diretoria do Serviço Militar
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