O Serviço de Saúde do Exército é fundamental para a manutenção da operacionalidade da Força Terrestre, no entanto, em face de uma rotina diária que absorve os seus profissionais quase que integralmente, seu papel no Preparo e Emprego da Força Terrestre nem sempre é identificado como tal.
Os cuidados especializados de feridos em campanha são objeto de estudo de longa data. Segundo a Inspetora de Saúde da 11ª RM, Coronel Médica Carla, em sua dissertação de conclusão da Escola de Comando e Estado-Maior, Hans von Gerdorff, em 1517, publicou seu Manual para o Tratamento de Feridos em Campanha, que forneceu uma ideia concreta sobre o tratamento do politraumatizado de guerra. Mais tarde, no século XIX, as campanhas napoleônicas fortaleceram esse conceito e acabaram por formular grande parte da doutrina conhecida até hoje.
Ainda, nesse mesmo século, ao assumir o Comando em Chefe Aliado na Campanha da Tríplice Aliança, em fevereiro de 1867, o Duque de Caxias viu o amplo ataque que pretendia realizar em março inviabilizado, porque suas tropas estavam desfalcadas em um terço dos efetivos. Apenas 11 hospitais apoiavam toda a área de operações na região Sul e, só de brasileiros, os Voluntários da Pátria ultrapassaram 130 mil homens. Uma de suas primeiras ações de comando foi nomear a comissão chefiada pelo Dr. Francisco Pinheiro Guimarães, médico e coronel, para dar alta aos oficiais e soldados restabelecidos. Com essa iniciativa, mobilizou-se cerca de 2.000 combatentes para os batalhões nas frentes de combate. Foi nesse teatro de operações que, Ana Nery destacou-se como enfermeira e construiu sua biografia, ao acompanhar seus 3 filhos na guerra.
Nos dias atuais, a Saúde está bem escalonada, mobiliada e organizada doutrinariamente. Os serviços prestados pelo “pessoal de branco” são excepcionais e repletos de provas de competência, dedicação e espírito de sacrifício. Diariamente, os hospitais militares de todo o Brasil assistem milhares de pessoas, até mesmo civis nas fronteiras da Amazônia. O Coronel de Infantaria Roberval, ex-Diretor do Hospital da Guarnição de Tabatinga, relata que cerca de 60% dos atendimentos daquela OMS são aos ribeirinhos e índios, atendidos por meio de convênio com o Estado do Amazonas, irmãos brasileiros que têm no Exército o acolhimento humanizado e digno garantido constitucionalmente a todo brasileiro.
Atualmente, o SSEx, sob a tutela do Programa 6112 da Defesa Nacional repensa o Hospital Militar de Área de Brasília (HMAB). Esta Unidade, com mais de 63 anos de existência, atingiu seu limite, tornando-se necessária uma nova proposta para atender à crescente demanda do Comando Militar do Planalto e às exigências dos órgãos reguladores, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Essa nova estrutura se encaixa no contexto do Preparo e Emprego da Força Terrestre, como fez o Hospital Central do Exército com as tropas imperiais. O futuro HMAB ou Complexo de Saúde General de Brigada Médico João Severiano da Fonseca, considerando a doutrina atual, servirá também como o 4º escalão para os Comandos Militares do Oeste, da Amazônia e do Norte, afinal, Brasília tem se transformado em um centro médico de excelência no Planalto Central.
Nesse cenário, destacam-se algumas participações do HMAB em missões reais conhecidas do grande público: UNAVEM III (Angola, 1995); equipe precursora à Indonésia, Tailândia e Sri Lanka, para levantamento da situação resultante do tsunami ocorrido na Ásia (2005); missão médica organizada pelo MRE na África (2005); UNAMET (Timor Leste, 1999-2005); USN Confort - Mercy Class (2019); UNMISS (Sudão do Sul, 2023). A mais conhecida foi a MINUSTAH (Haiti, 2004 a 2017), quando essa OMS prestou apoio de saúde a todos os contingentes que o CMP tributou, a exemplo do Batalhão Porto Príncipe, do 24º Contingente, quando realizou milhares de exames de todo tipo durante a mobilização e na desmobilização para quase 1.000 militares. Atualmente, o HMAB integra a Operação Acolhida, em Roraima, no atendimento de centenas de refugiados venezuelanos todos os dias.
Essas missões todas revelam que a manutenção do capital humano hígido e pronto é um trabalho incessante nos Exércitos, que é sempre reconhecido pelos comandantes e, principalmente, pelos pacientes. Vale lembrar que o Serviço de Saúde não protagoniza as ações militares, é de sua gênese ser assim, mas é um coadjuvante de peso, sem o qual não há operações. É fato que o homem pode combater com sono, com fome, sujo, mas ferido é praticamente impossível, além do mais, um ferido onera sempre outros companheiros que o carregam.
Por fim, como na Guerra do Paraguai, quando as iniciativas de Caxias contribuíram decisivamente para o sucesso daquela vitoriosa campanha, o empenho atual do Exército em fortalecer seu Serviço de Saúde é uma decisão sábia, com ampla abrangência e longa duração. Nesse sentido, a decisão de reformular o HMAB é um desafio a ser vencido; essa iniciativa, liderada pelo Chefe do Departamento-Geral do Pessoal, como Autoridade Patrocinadora do projeto do futuro Complexo de Saúde, em Brasília, permitirá à Força Terrestre atualizar-se para os cenários futuros, inclusive no longo prazo, promovendo, desde já, a valorização do nosso maior patrimônio, a dimensão humana, força da nossa Força.
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